07 março 2016

Pipoco esmiúça o Retrato de Cavaco Silva


Cavaco segura na mão direita uma esferográfica Montblanc. É certo que o pintor não arrisca uma caneta Meisterstück, isso seria tão credível como Cavaco dizer que tinha ido ali só fazer uma rodagem ao seu Bentley Continental, mas ainda assim uma Montblanc não condiz, Cavaco jamais aceitaria pagar mais do que o preço de uma Parker, isto num momento mais tresloucado, o normal seria uma BIC com a carga quase no fim. Ainda assim, o pintor faz-lhe uma pequena maldade: aquele modelo Montblanc não existe.

Cavaco não colocaria os livros como eles estão retratados. Maria havia de escolher livros de tamanhos iguais e Cavaco não ousaria que os livros tivessem as lombadas desencontradas.

Há pequenos papéis a marcar os livros, um claro indício de necessidade de apoio na procura das partes importantes que os livros lá têm dentro. Ora Cavaco não precisa destas marcações, Cavaco sabe as partes importantes de cor e, na improbabilidade de lhe escapar alguma palavra, uma palavra menor, evidentemente, não precisaria de papelinhos marcadores, abria o livro e, logo à primeira, atinava com a página certa, afinal trata-se da Constituição da República e do Adam Smith.

A bandeira, desta vez, está na posição correcta.

7 comentários:

  1. E, ao lado da inexistente Montblanc, um tinteiro de prata, qual galheteiro, dando a entender que o presidente ainda escrevia com aparo em 2015.
    Na lapela, o pin de donut com as cores da nação.
    O Adam Smith é "A riqueza das nações", of course.
    E, na CRP, marcados estão os artigos 15.º (impossibilidades no acesso ao cargo de presidente da república), 110.º (órgãos de soberania) e 120.º e seguintes (O presidente).
    Nunca se engana e raramente tem dúvidas.

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    1. Marcados com post-it, jamais ousaria dobrar o canto superior das páginas mais importantes.

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    2. Ah, pensei que fosse um saleiro!

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  2. Nananinanão. Se fosse Cavaco a "mandar" seria um de dois retratos possíveis. Um mais informal, sentado numa cadeira de braços, que segura com força, como quem teme que a qualquer momento seja activado o botão Eject, de perna cruzada, com fato e meias cinzentas (Gravata "invisível", um detalhe irrelevante, Cavaco nunca lhes dispensou - aos detalhes- grande importância), a revelar um tornozelo magro e ossudo e a sola de um sapato luva gasta q.b (mas sem meias solas, que não é preciso levar-se o ar austero tão por aí além) sem acessórios (canetas, livros, etc, não para marcar a austeridade de que falei, mas porque nos seus mandatos nunca deles careceu, decidiu como bem quis, "em consciência"). Olhar distante é um esgar em esboço de sorriso. Um outro mais formal, de fraque e com insígnias presidenciais, de pé, com cortinas de veludo escuro em fundo (retrato 3/4, não mostra os pés). O mesmo olhar distante e vago, desta vez nem sorriso esboça. Em vez de ter os braços estendidos a acompanhar tronco, de ombros invariavelmente tensos e por forma a disfarçar a falta de serventia das mãos (o dilema punhos cerrados mãos esticadas) optaria cruzadas como sugere o protocolo, à esquerda sobre a direita para evitares suores constrangedores aquando de um aperto de mão.

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  3. Para quem já teve na sua mesa cabeceira o 'A Utopia' do Thomas Mann, não está mal. O pintor fez-lhe um favor.

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  4. Vá ver o portofólio do pintor, Pipoco...

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