15 fevereiro 2016

Tudo o que me rebentou na cabeça antes dos vinte anos

Pink Floyd, The Wall - Quem gostava de Pink Floyd era a Susana, naquele tempo todos tínhamos uma banda favorita. O João sabia tudo o que havia para saber sobre U2, a Rita só ouvia Springsteen (ela dizia "O Boss"), o Rui gostava de Alphaville e um dia disse-nos isso e nunca mais foi a mesma coisa. Eu gostava de Beatles, que naquele tempo era mais ou menos como gostar de Alphaville. Até que um dia ouvi Pink Floyd mesmo a sério. The Wall. Bateu forte, tão forte que um dos grandes desgostos da minha vida foi não ter ido ao concerto de Alvalade.

Viagem ao Mundo da Droga, Charles Duchaussois - Não foi pela história do tipo nem pelas drogas. Foi porque o tipo foi para Katmandu. Ao pé do Everest. Não sei se estão a ver...

Adidas Nastase e calças Levi's - Traziam-me de França os Adidas Nastase e dos Estados Unidos as Levi's. E t-shirt branca.

Inter-Rail - Um homem tem vinte anos e está a fazer o seu segundo inter-rail. Segundo de sete. Pode mudar de rota sempre que lhe apetece. E muda. Os amigos estão ali, vinte e quatro horas por dia. Tanto se pode ir a caminho das ilhas gregas e afinal vai-se para a Croácia como se pode estar a caminho de Paris e afinal Verona é que é. Os Alpes e Biarritz. Éramos felizes e sabíamos isso.

Live Aid - De facto, foi muito antes dos vinte anos. Bono a dançar com a miúda ao som de Bad. Os Queen e Bohemian Rapsody. E Bob Geldof, o meu herói. Achei mesmo que a música acabaria com a fome em África. Eu tinha menos de vinte anos, não sei se já disse.

Blitz - O Blitz debaixo do braço às terças feiras dava-me uma aura de intelectual alternativo. Isso e dizer-se que eu gostava de ópera. E de rock de bandas de garagem, que tinha gravado em cassetes. E que, às vezes, ia ao Rock Rendez-Vous. A última vez que me apaixonei, estava a ler o Blitz. Ela arrancou-mo das mãos. Fez bem.

Herman José - A primeira pessoa que achei genial. E era. Naquele tempo.

Raquel - Pura química. Demasiada química. Casou com um tipo mais velho. Engordou. Anda de fato de treino aos domingos nos centros comerciais. Compra coisas na Primark. Vai para o parque de campismo da Costa de Caparica em Agosto. Espero eu.

Inspirado nisto aqui.

13 comentários:

  1. Lady Kina15.2.16

    De tudo, apenas isto:

    (e aquilo do Blitz - há dias deitei caixotes disso para o lixo - algumas das pessoas que mais importância tiveram na minha vida conheci-as por causa do Blitz)

    "Ian Curtis – Com os seus Joy Division, a minha primeira obsessão na música. Antes de Cure, Echo & The Bunnymen e Smiths. Responsável, também, pelos primeiros três minutos da minha vida em que, vá-se lá saber porquê, o puro prazer esteve associado à melancolia e sofrimento de uma voz. Como uma faca espetada violentamente no coração que provocasse uma dor reconfortante e libertadora. E logo a seguir, o choque do meu guru António Sérgio a anunciar que eu jamais ouviria aquela voz num palco. Tudo porque o rapaz de 23 anos que era Curtis tinha decidido pôr uma corda à volta do pescoço."
    (quando o descobri já o homem tinha morrido, teria eu uns catorze anos)

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  2. Pipocante Irrelevante Delirante15.2.16

    Aos 20 anos era feliz mas não sabia.
    Porque era um imbecil.
    Como todos os que têm 20 anos.
    Só que não têm consciência disso.
    Porque são uns imbecis.

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  3. Aposto que o blitz foi substituído pela revista Kapa!

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  4. 1971, de certezinha. Só me excluo dos adidas e dos pink floyd, deles, verdadeira e assolapadamente, só comfortably numb, as outras, duas ou três, aguento-as meio que por sei lá, ouvi muitas vezes. Quem me rebentava a cabeça eram os Doors, bem antes dos 20, e os Smiths, os verdadeiros rebentadores de cabeça. Quem comprava o Blitz e ia ao Rock Rendez vous não podia gostar assim taaaaanto de pink floyd :p

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    1. Não querendo meter a foice em seara alheia (mas ainda assim...) "The Wall" era bastante compatível com o Blitz. A fluidez por essa altura era tanta que se podia gostar de Floyd, Doors, Clash, Smith, Echo, Cure, Waylon Jennings, tudo o que a 4AD punha cá fora e ainda sobrar espaço para jazz e Bach renovado por Harnoncourt.

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    2. verdade :) mas sei lá associava o rock rendez vous aos xutos e pontapés, aos censurados e aos peste e sida, no tempo do punk rock à séria, os pink floyd não eram muito compatíveis com isso... Uma das minhas músicas preferidas de sempre é o sultans of swing, estou perdoada? :) Bjo, Xirle

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    3. Anónimo16.2.16

      Sultans of swing é dos Dire Straits, talvez seja por isso.

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    4. Xilre, obrigada pela mão cheia de cabelos brancos que acabaram de me nascer. ;) No meu carro andam a tocar algumas dessas bandas.
      Bom dia a todos.

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    5. Que turbilhão de imagens e memórias que este post veio despertar!
      Em comum temos precisamente o fascínio por Katmandu que "A Viagem..." veio despertar. Poder apenas fantasiar com Inter-rails - com pais como os meus... E pensar: "mal possa vou para o Nepal".
      Da minha paixoneta por Jim Morrison, o fastio de pensar que os melhores, os mais interessantes, já morreram. O grunge. O prazer da catarse, ritual solitário, ao som de Wagner e Mozart, enquanto lia Goethe, Maupassant e Maquiavel. Fazer uma tatuagem aos 16, vestir calças de cabedal, achar-me muito boémia e acreditar que o verdadeiro segredo do sucesso com o sexo oposto é tratá-lo mal, com desapego e negligência. Ser idealista e falar disso. Ter fé nos outros, até que a maioridade a leve.

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  5. Anónimo15.2.16

    Boa noite, tio. O meu inter-rail começou antes dos 15 quando saí de casa dos pais ao som de Guns n' Roses, Louis Armstrong e Sex Pistols. As minhas calças de ganga rasgadas e remendadas como podia ser fariam corar mais rubro o vermelho dessa marca. Guardavam-se os trocos para comprar a Photo e encher a cabeceira da cama de um quarto miserável com essas imagens de pura beleza. O mundo afinal podia ser belo. Afinal havia beleza nas pessoas como génio dos meus avós ou pelo menos a mim pareciam-me génios então. E nada poderia voltar a ser igual depois de conhecer o dedilhar de um violino sobre a pele e o sussurro de doce tormento do mar.

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  6. Gostei muito, revi-me nalguns temas...

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