Das mulheres que mandam na minha vida, a Dona Judite será, talvez, a que mais manda. Quando peço o peixe certo no dia errado, a Dona Judite abana quase imperceptivelmente a cabeça e eu percebo logo que é melhor pedir outra coisa qualquer, quando eu reclamo que não me cobrou o café, a Dona Judite informa-me que não era o meu dia de pagar café, quando não me apresento à hora aprazada no dia de bacalhau cozido, a Dona Judite faz com que me informem que só me "aguenta a mesa mais cinco minutos" (e é ver-me a terminar a reunião à pressa). A protecção da Dona Judite começou no dia em que lhe entrei com o arrumador de carros porta dentro, deu-se o caso de o arrumador de carros me ter pedido uma moeda para comer e eu disse-lhe que o convidava para almoçar comigo. O arrumador de carros passou os olhos pela lista e informou-me que deixasse estar, que não lhe apetecia nada daquela lista de mais de dez pratos. Desde esse dia feliz, a Dona Judite achou que eu era um inocente e jurou que me havia de proteger das coisas sérias da vida e o arrumador de carros nunca mais me falou de moedas. A Dona Judite decide quando eu preciso de um desses guardanapos que protegem as gravatas (e não se afasta enquanto eu não o coloco), decide quando a minha sobremesa deve ser maçã maçã assada (ainda que eu insista "é só um café, Dona Judite"), decide quando manda o Senhor Mendes, o marido que está a aviar ao balcão, falar um bocadinho de bola comigo, sempre nos dias a seguir ao Sporting ter perdido um jogo (não temos falado muito nos últimos tempos), decide quando senta um desconhecido à minha frente (acho que ela percebe logo quando eu entro se isso de partilhar a minha mesa com desconhecidos é ou não uma boa ideia) e decide quando me traz mais um quarto de dose, ainda eu vou a meio da dose inicial.
No restaurante da Dona Judite, eu mando pouco, mas mando alguma coisa: a Dona Judite encomenda o "Público" porque sabe que não lhe leio o "Record" nem o "Correio" e encomenda um vinho que só eu é que bebo, que ela pede com voz de trovão ao Senhor Mendes "dá-me uma garrafa da marca do Engenheiro!".
(dando seguimento às crónicas de Don Xilre, Madame Palmier Encoberto, NM e Linda Blue)
é lindo isso, e tão, tão português...
ResponderEliminarÉ sempre bom ter uma mulher que tome conta de mim, Isa...
EliminarOh diacho... Pelo boca do Sr. Oliveira também é o "sô doutor", a "sô doutora" e a "menina". Eu sou a "menina". Uma das. Deverei refletir sobre o assunto?
ResponderEliminar"Uma das", NM. Ou seja, é uma indiferenciada. Havia de pôr o Sr. Oliveira na ordem...
EliminarTem razão. Amanhã já lhe decepo o outro polegar. Só para ele perceber quem manda.
EliminarFolgo ter podido iluminá-la, NM...
EliminarMando o polegar para que morada, senhor?
EliminarNo dia a seguir ao ajuste de contas: "Então, Sr. Oliveira?! Tudo fixe? Pois, compreendo... Não precisa de dizer nada... Faça só o sinal!"
EliminarUma tertúlia entre Dona Aureliana, o senhor Carlos, o Sr. Oliveira, a Ângela e Dona Judite, seria absolutamente única. Ou perfeita!
ResponderEliminarOra cá está uma ideia valorosa.
Eliminar(havia de ser coisa memorável, um encontro de Chef's patuscos...)
Que delícia de texto, e acontece muito por esse País fora! E espero que o marido da Senhora continue a não falar das derrotas do SCP nas próximas 14 jornadas!!!!
ResponderEliminarEm calhando era melhor começar a pensar em devolver-lhe o Lamborghini... é que se a Dona Judite sabe da situação, ainda me vou meter em problemas. Ai vou, vou... :)
ResponderEliminarMau, querem lá ver que vou ter de escrever sobre o meu senhor João, sem um polegar, que ainda assim tira moedas da gaveta da caixa com uma destreza incrível, que me chama menina há 15 anos, primeiro numa croissanteria ao pé do primeiro escritório e nos últimos seis num pronto-a-comer ao pé do outro. O senhor João casado om uma senhora que me acha parecida com uma ex-miss dos anos 90 (todos a torcer para que nao tenha engordado muito, ok?), "parece, não parece, João?", "Com quem?". Que me guarda sempre mais duas sopas de peixe para levar "só com coentros, não é menina, não precisa das torradinhas?", ou "a canjinha que a sua menina gosta". Que todos os dias, mesmo que o prato não tenha salada, me pergunta se a salada é sem cebola. Um senhor que se preocupa com a cebola crua na salada é verdadeiramente insubstituível.
ResponderEliminarBoa tarde, tio. Entendo que optou por não publicar o meu comentário para não envenenar logo de início os comentários que se seguiriam. E assim sendo, cá estou eu a assistir à caixa de comentários em estilo "Desfile de Giríssimas". Não é um estilo que me agrade, e não sei porque lhe haveria de agradar a si este estilo.
ResponderEliminarConfesso que um grupo resolver embarcar em certa tarefa (até uma ideia engraçada, e com direitos de autor), depois andar atrás uns dos outros a aplaudirem o feito é assim...
... como dizer?
Não tenho palavra melhor e auto-gratificante não exemplifica bem a coisa, mas andarem a deitar os foguetes, apanharem as canas e irem à pesca e depois aplaudirem o feito e darem palmadinhas nas costas uns dos outros é o equivalente a um acto masturbatório.
Típica masturbação de blogs.
(O mesmo para quem dá like no seu próprio post de facebook)
Deixem-nos brincar!
EliminarAhahahahahahahahahahahahahahahahah!
Eliminar(Mas ó Anónimo, o que tem contra a estimulação dos orgãos blogossexuais? Sempre é inofensivo e bastante prazeroso!)
Blogo-Cavaco Silva, eu deixo que brinquem como cãezinhos a correr pelos prados em dias solarengos, salivando para cima das flores silvestres.
EliminarLady Kina, porque tentando eu adiar o máximo de tempo possível a necessidade de óculos, estou a desperdiçar a oportunidades de poupar a visão. Depois também há aquele estudo sobre quem vê demasiada pornografia ficar mais estúpido, visto que a coisa mata neurónios. Não que sirva de desculpa para toda a estupidez mundial uma vez que já encontraram os micróbios que causam a estupidez humana, poderá finalmente haver limites para a mesma.
Deixemos os blogs de estimação correrem como cãezinhos felizes no prado florido.
Feliz Dia Mundial das Zonas Húmidas (pântanos, charcos, turfeiras e afins, para não pensarem noutras coisas).
Estás cá, Julião?!
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