28 janeiro 2016

Don Xilre e eu

Don Xilre havia de chegar cinco minutos antes da hora aprazada, havíamos de nos reconhecer pelos livros combinados que levaríamos debaixo do braço, eu o Manhã Submersa, Don Xilre os Poemas, de Borges. Não seriam necessários os livros, ainda Don Xilre caminhava para a porta do Martinho da Arcada e já eu o tinha identificado pelo fato de bom corte e pelo chapéu de feltro, este tempo de Lisboa pede um bom chapéu, Don Xilre também se me dirigiria de imediato, aperto firme, "Como está?", havíamos de dizer que era um privilégio conhecermo-nos um ao outro, enquanto terminávamos os nossos charutos, antes de entrar.

Ainda antes do prato principal, perdiz de caça para ambos, Don Xilre havia de assentir em deixar-me escolher o vinho, um Pintas de 2012, e já eu atacava o tema que ali nos trazia, que não tinha cabimento Don Xilre acabar assim os seus escritos, que havia que resistir a deixar isto entregue a blogues menores, quem sem ele ficaria só eu e mais meia dúzia a escrever em condições.

Don Xilre havia de contrapor, a maçada da rotina, o assédio das donzelas, primeiro gabando-lhe a inteligência e as temáticas, para logo a seguir lhe contarem que as coisas da intimidade lá delas já tinham visto melhores dias, quisesse Don Xilre ter a maçada de as aconselhar... . E continuaria Don Xilre desfiando as suas razões, o não haver quem lhe entenda as entrelinhas, o endereço electrónico xilre.mail(at)gmail.com a abarrotar de bons conselhos e de pessoas de boa vontade a partilharem com Don Xilre que também já se sentiram assim, Don Xilre a não estar certo de ele próprio se sentir assim.

Já no café, que não adoçaríamos, havia eu de fazer as alegações finais, que todos ficaríamos mais pobres, que havia de se poder fazer uma requisição civil, que não se admitia Don Xilre ser insensível ao ponto de admitir privar-nos das cartas do Professor Andrada, que não se concebia não mais termos notícias de Dona Aureliana.

Don Xilre, havia de prometer considerar as minhas palavras e, finalmente, havíamos de nos despedir com um "até breve", eu na secreta esperança de Don Xilre retomar os escritos, Don Xilre certamente impressionado com as minhas capacidades de persuasão.

Afinal não foi preciso. E ainda bem.

47 comentários:

  1. Errr... vim só cá dizer que achei este post a modos que um pouco apaneleirado.

    "(...) impressionado com as minhas capacidades de persuasão."
    Mas só um bocadinho, mal se nota, han?

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    1. Lady Kina28.1.16

      Filipa, deves estar a ser irónica, como é teu hábito, e não concordo nada, por acaso até achei que neste post o grau de apaneleiramento é quase imperceptível.

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    2. Lady Kina28.1.16

      Peço desculpa, creio que o termo correcto é apaneleirismo.

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    3. Aposto que foi o meu apontamento que te fez olhar para o post de outra forma, daí o "quase imperceptível".

      "Neste post".
      Queres desenvolver?...

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    4. Lady Kina28.1.16

      Se digo "neste post" ( como, com a perspicácia que é frequente assistir-te, notas) não vejo necessidade de desenvolver. Não me vais obrigar a soletrar, pois não?

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    5. Se leres o diálogo abaixo, vais perceber que estou um nadinha sensível, maneiras que era boa ideia moderares o tom, porque já sabes que quando as gajas estão sensíveis choram. Diz que tem um efeito não sei quê nos outros. Estou a avisar.
      Depois, quando digo "desenvolver" era -e nota que até estou algo surpreendida tendo em conta a perspicácia que pelos vistos partilhamos- com o claro intuito que apontasses um ou outro post paneleiro que pudesse eventualmente ter-me escapado, para que juntas pudéssemos dissecar a paneleiragem que hoje transborda por aqui.

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    6. Lady Kina28.1.16

      Ahahahahahahahahahahahahahahah!

      Opá, só disse que em termos de posts apaneleirados, este não é daqueles onde esse eflúvio mais abunda...

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    7. Nunca, eu em vinte anos de Pipoco vi frase tão apanascada como a que vi aqui hoje, que fique para os anais dos meus comentários mais assertivos.

      Se é costume existir pior, ou ando distraída ou enganada, vou pensar nisto.

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  2. Filipa, muito obrigado por ter contribuído. É sempre um estímulo.

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    1. Oh, o que é isso, Pipoco?, sabe muito bem que pode sempre contar comigo.
      E reitero: quase que nem se nota, aposto que fui a única a dar por isso, não se preocupe que o problema é meu.

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    2. Filipa, os meus saberes empíricos confirmam que, de facto, o problema é seu.

      (até se me dão os nervos ao sabê-la leitora da minha obra publicada)

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    3. Daqui a nada levo com a culpa de mais uma ida aos médicos públicos.
      Calma que eu li isto assim muito ao de leve. Os blogues masculinos não me despertam lá grande interesse, deve ser isso.
      Vou ler outra vez, a ver.

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    4. Filipa, mal posso esperar pelo veredicto de uma sua segunda leitura.

      (não interprete mal a minha pergunta, mas, se os blogs masculinos não lhe despertam grande interesse, que prazer tira disto dos blogs?)

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    5. (Que pergunta a sua!!
      O prazer de perceber que as mulheres continuam iguais a si próprias)

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    6. Entendo perfeitamente, é essa também a minha força motriz, tanto na óptica do utilizador como na de produtor de conteúdos.

      (e o seu veredicto final? não me deixe nesta angústia, por deus...)

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    7. (Você não me deixa ler a coisa sossegada!! Tenha calma, homem, não me distraia! Não sabe que as mulheres precisam do seu tempo para estas coisas mais intelectuais?)

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    8. Se entender que eu posso ajudar na interpretação (o texto tem alguma densidade intelectual, concedo), não se acanhe.

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    9. Obrigada, Pipoco.
      Talvez o terceiro parágrafo...?

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    10. Desculpem a intromissão, mas estava aqui a ler este diálogo e senti que tinha de interromper só para dizer Filipa, ajahahahshahah.

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    11. Filipa, fosse eu de apostar, que não sou, e apostaria que havia de me perguntar sobre o terceiro parágrafo.

      Ora o terceiro parágrafo é um velho código masculino, trata-se de uma espécie de cumprimento em que o destinatário assume para o emissário o conteúdo da mensagem. No contexto anexo, eu insinuo que Don Xilre tem um séquito de jovens suspiradoras, todas num frémito, palpitantes, entupindo-lhe a caixa de correio electrónico e espero de volta a recusa de Don Xilre, afastando tal cenário, com humildade e parcimónia e, lá está, devolvendo o cumprimento, numa fórmula "Tomara eu, o amigo Pipoco é que é grande especialista na temática, queria eu ter metade da atenção feminina que o meu caro desperta...", ao que eu retorquirei, também com recato "Ora, ora, não é tal...". E ficamos assim.

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    12. (Mirone, perdoará que eu hoje não lhe dispense a costumeira atenção, mas, entenda, tenho cá a Filipa...)

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    13. Ah!
      Então este é um texto cómico, é isso?

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    14. Não, Filipa.

      (talvez eu tenha sido demasiado rápido na exposição do meu pensamento)

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    15. Talvez se tivesse acompanhado a obra com uns croquis ou assim...

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    16. Filipa, é um código masculino, uma coisa ancestral e que só pode ser transmitida verbalmente, de pai para filho.

      (são coisas confidenciais, se lhe contar mais do que isto terei que a matar de seguida...)

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    17. Então se são coisas confidenciais, devia tê-lo dito logo no post, não é? É que assim um gajo sente-se excluído.
      E com tanto código, com tanta confidencialidade, tanta cumplicidade, como é que um gajo não havia de falar em paneleirice?
      Induzem as pessoas em erro e depois a culpa é de um gajo, está certo.
      Olhe, já me enervou.

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    18. Filipa, não me arranje problemas. Entenda, já lhe contei demasiado, aquilo do efeito boomerang do cumprimento, já estou arrependido por ter desvendado tanto.

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    19. Pensei que eu fosse diferente, Pipoco.
      Honestamente, não esperava isto de si.

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    20. Filipa, espere, eu posso explicar.

      Filipa! Filipa...

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  3. Ora essa, por quem é, de todo o modo não vinha cá dizer nada, era mesmo só deixar uma gargalhada.

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  4. Meu caro PMS,

    A escolha da perdiz parece-me inquestionável-- que nostalgia tive, de súbito, de certa perdiz que Júlia Vinagre, que teve restaurante a dez passos do Martinho da Arcada, confeccionava magistralmente.
    Julgo que para fazer jus ao dia, também eu levaria um Vergílio Ferreira, o meu favorito, livro de cabeceira, não desmerecendo outros, "Escrever".
    Era mestre Vergílio homem disto dos blogs, "avant-la-lettre". Escrever pois, excelente tema, compulsivo até, que nos leva a voltar quando o check-in está feito e as malas só não no porão, porque passageiros frequentes não correm tal risco -- viajam leves, apenas com bagagem de mão.

    Um grande abraço.

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    1. Pois ainda bem que não embarcou e por cá continua a deslumbrar-nos. E a deslumbrar-se, evidentemente.

      Um abraço, meu caro.

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  5. Disse Camilo, que nunca se enganou, que « A arte de bem falar,
    ars bene dicendi, é o estudo da clareza no exprimir a ideia. Os
    afectos, as galas da linguagem, que lhe tolhem o mostrar-se e dar-se a conhecer dos rudos, não é arte, é tramóia, não é luz, é escuridão.», assim sendo, pergunto-lhe eu, Tem noção de que o seu discurso ilustrório não faz sentido, certo? Que, a haver alguém a merecer os créditos da façanha, será Palmier, a Primeira, sabe disso, certo?

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    1. Bem sei, bem sei. Mas que quer, não resisti...

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    2. Totalmente de acordo, Flor! E ao contrário da Filipa, que fique aqui registado, acho este post extremamente machista, um post que tem o claro intuito de fazer eclipsar da história dos blogs a sublevação feminina que ontem levámos a cabo, um post destinado a lançar uma cortina de dúvidas aos blogo-historiadores, àqueles que, no futuro, se dedicarem a estudar o desenrolar dos blogo-acontecimentos de relevo, que, perante estas palavras, se perguntarão: "Afinal quem trouxe Xilre de volta? As Blogo-Valquírias das estepes Bloguísticas ou Pipoco Mais Salgado?! E isto é muito grave! Muito, muito grave!

      (Flor, tira lá o chaimite da garagem outra vez! É que isto é uma declaração de Guerra! De Guerra!)

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    3. Palmier, é claro que foi o seu manifestozinho que nos trouxe Don Xilre de volta...

      (claro que sim...)

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    4. (Flor, não te esqueças de pôr a pólvora, ou as balas, lá no cano da espingarda, ou lá o que é aquele tubo que sai da parte de cima do chaimite...)

      (e já agora aproveita e dá corda aos drones)

      (e os nossos outfits de camuflado, estarão passados a ferro?)

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    5. (Palmy, dá a ordem, e arrasamos a Musgueira toda, vai lamborghini, vai tudo!!!)

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    6. ou a Buraca, ou lá nas lezírias, pouco importa, vai tudo chaimitado!!!

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    7. (pelas três e trinta da madrugada no local previamente definido. O Lamborghini tem de sair incólume)

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    8. O Lamborghini que apareça com uma dedada que seja e verá o que acontece...

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    9. fique descansado, nem uma dedada verá...

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    10. Um grão de pó, um micro risco na carenagem. E verão o que é a ira divina.

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    11. não se preocupe, aquilo é para vender à peça (ordens da Palmier), eu não vou estragar nada.
      e fique descansado, ai de quem se atreva a estragar-lhe a bicicleta!

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  6. Lady Kina28.1.16

    Pipoco, vim ajavardar, claro, que cada um é para o que nasce, mas convicta de que não iria ofender-se (o facto de me aprovar os comentários não o implica com necessidade). Espero não ter-me enganado.

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    1. Não se engana, LK.

      (mas, que quer, com a Filipa por cá a pessoa até se esquece do resto...)

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  7. Anónimo28.1.16

    Tio, ainda bem que não foi necessário e D. Xilre voltou...(julguei que ele tivesse desistido dos seus leitores).
    Quando li o post de despedida, (primeiro) fiquei triste porque, quando chegasse á primavera, não teria os post sobre o piar dos passarinhos que o acordam e que tanto me comoveram.
    (e o post sobre a arte da fotografia versus desenho..).
    VW

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