19 agosto 2015

Coisas do Caminho

Se eu pudesse resumir a minha experiência do Caminho numa ideia, diria que o que mais me impressionou foi a energia, como que se a boa experiência dos muitos que fizeram o Caminho antes de mim pairasse no ar e me convidasse a confiar, a crer que no fim tudo estaria bem, nada de "coisa transcendental", apenas aquilo que os mais novos chamariam "boa onda". Tive uma sensação completamente oposta quando estive em Dachau, um sítio onde senti o mal e onde estive sempre em alerta e em silêncio.

Não regresso melhor pessoa nem tive uma experiência mítica, nem sequer tomei decisões para a vida. Mas aprendi que ainda sou capaz, que no Caminho nunca estamos sozinhos (olá Kurt, espero que a televisão da Noruega passe o teu documentário sobre o Camiño, olá Zé, no seu sétimo Caminho, sempre diferente, e que aprendeu da pior forma que as botas Timberland são tão impermeáveis que não deixam respirar os pés, olá Dirceu, brasileiro de Florianópolis, instrutor de surf no Brasil e estudante de cozinha em Santiago que me ensinou como se fazem seiscentos quilómetros de Caminho com setenta euros, olá casal de reformados da Bahia que me fizeram pensar "é isto que quero para a minha reforma",  olá miúda italiana que foi a última a sair do albergue de Portomarin e que nunca saberá que apostei que nunca completaria o primeiro quilómetro, tão feridos ela tinha os pés, e que me cumprimentou com um sorriso largo enquanto eu bebia uma cerveja e só lhe voltei a desejar Buen Camino quase no fim da  jornada) e que sou bem capaz de vir a fazer isto de novo.

7 comentários:

  1. Fiquei comovida.
    Se pensa voltar a fazer de novo é porque houve algo que tocou lá dentro.
    Susana

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  2. Nos trilhos menos fáceis encontramos pessoas que nos surpreendem e, muitas vezes, surpreendemo-nos connosco.

    Bom final de Caminho. :)

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  3. disse tudo e não disse nada... vá, desbronque-se...

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  4. Até me apetece dar-lhe um beijinho tio.

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  5. Cláudia Filipa19.8.15

    (Pelos relatos). Talvez o caminho reconduza ao essencial, pondo o acessório no seu devido lugar, no lugar do que é prescindível. Talvez a magia seja essa. Afinal, aprender-se que se é capaz e poder contar com o apoio dos outros, a entreajuda, é o essencial, seja qual for o caminho.
    Fico feliz por si, por estar a fazer e quase a completar, mais um caminho na sua vida. Admiro muito, gente que se mete ao caminho.
    Tal como a Maria, desejo-lhe um bom final de caminho.

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  6. Hoje de manhã vim aqui escrever um comentário, mas penso que não ficou, não aparece. O comentário desejava-lhe um bom resto de Caminho e deixava um abraço.
    Mas ainda bem que não ficou, porque agora leio os outros e, tal como a Loira, também me apetece afinal dar-lhe um beijinho e tal como a Cláudia também eu admiro as pessoas que fazem o Caminho, eu nunca o fiz e penso que nunca o vou fazer, mas acredito que é isso que ela diz, aprende-se a ver melhor o secundário no seu lugar e o essencial ficará mais nítido e uma coisa assim como se se ficasse mais humano e como que por magia imune a males, males do foro geral, males que nos assolam tantas vezes sem sabermos de onde vêm... sei lá... será assim?

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