- Depois deito-me para trás na cadeira
- Parte final de "Tabacaria" de Álvaro de Campos
E continuo fumando.Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
E cruzando a direita, perna, claro está, sobre a esquerda, bebericando o kir royale, pingado de licor dos Cartuxos, continuo divagando. Enquanto Destino mo conceder, continuarei divagando.
ResponderEliminar(Não tenho vergonha de dizer que estou triste
Não dessa tristeza ignominiosa, dos que em vez de se matarem
fazem poemas,
Estou triste por que vocês são burros e feios
E não morrem nunca)
Parte final de "Divagando" de Mário Quintana
MH
As duas pernas estendidas, cabeça pendendo para a frente. Um geladinho de café numa cama de tiramisu. Enquanto a net não cai, continuarei acompanhando.
ResponderEliminar(Chora, meu filho, chora,
Anteontem, ontem, hoje,
Depois de amanhã, amanhã.
Não dorme, filho, não dorme,
Se você toca a dormir
Outro passa na tua frente,
Carrega com a mamadeira.
Abre o olho bem aberto,
Abre a boca bem aberta,
Chore até não poder mais.)
Parte final do poema "Hino do Deputado" de Murilo Mendes
Que caixa de comentários tão bonita.
ResponderEliminarUma perna estendida e outra sobrada, corpo inclinado sobre o lado do coração, e entre o fumo de meio cigarro a parte final de fantasmas, de Al Berto:
ResponderEliminar"É verdade- bateram à porta
Mas não podias abrir
nesta casa só sobrevive a memória turva
dos poemas amados - mas ninguém mais nada
alem da parede de lodo e da caixa de sapatos
cheia de sílabas preciosas - e uma mesa pequena
com um albatroz empalhado para te vigiar a alma
a um canto da sala o cigarro continua a arder
na ponta dos dedos do teu retrato escondido
atrás do sofá - virado para a parede
como tu
coberto de bolor de sustos e de arrependimento
A perna é dobrada e não sobrada. Apesar daquela coisa da perna de pau dos piratas, a mim não me sobram pernas.
EliminarQue marota!
EliminarTanta literatura falta apenas uma receita simples com migas acho!
ResponderEliminarArrumadinha, sou sua fã. Quando às vezes então irrompe por caixas de comentários que estão em brasa e deixa um desconcertante "isto está muito animado por aqui". Mas, às vezes, consegue ser genial, neste caso por exemplo acaba por fazer um belo resumo. Quando a realidade nos entra vida dentro e nos acorda da metafísica, dos pensamentos profundos sobre a essência das coisas. Um bom prato de migas pode muito bem substituir o Esteves neste caso, Fernando Pessoa em modo Álvaro de Campos havia de não se importar com esta substituição. A metafísica, por um bom pedaço de realidade.
EliminarA Cláudia sempre gentil!
EliminarEnsandeceram todos com a erva, julgando tratar-se apenas de tabaco.
ResponderEliminarLá vem a Nau Catrineta, que tem muito que contar. Ouvi, agora, senhores, uma história de pasmar...
Ai a cara Arrumadinha! Olhe que o Pipoco é má influência...
Um cavalheiro o tio Pipoco meu caro sempre!
ResponderEliminarE agora, para contribuir para a beleza da caixa.
ResponderEliminarSer Parecer
Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos
Mia Couto
"Não sou nada.
ResponderEliminarNunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Eu começo-me aqui.