"- A vingança não altera o que foi feito. Nem o perdão. Vingança e perdão são irrelevantes.
- Que se pode fazer, então?
- Esquecer - disse Borges -, isso é tudo quanto se pode fazer. Quando me fazem mal, finjo que aconteceu há muito tempo e a outra pessoa qualquer."
Paul Theroux, O Velho Expresso da Patagónia
Eu tenho uma melhor: "A vingança dá uma trabalheira. Sou contra." Izzie.
ResponderEliminarMuito interessante!
ResponderEliminarE resulta? Ouvi dizer que fingir nunca dá bom resultado, convencemos o outro, mas não a nós...
ResponderEliminarA vingança altera o que foi feito, criando um feito derivado, que passa a protagonizar. Questões de ribalta.
ResponderEliminarNão é pois assim que lido com todas as minhas espigas? Pois que é, respondeu ela para ela, sem mais salamaleques.
ResponderEliminarExasperais , não é assim , um pouco excessivo ???
ResponderEliminar" Como isto é estranho. É guerra. Há campos de concentração. Pequenas crueldades amontoam-se em cima de pequenas crueldades...Sei do grande sofrimento humano que se vai acumulando, sei das perseguições e da opressão...
ResponderEliminarSei de tudo isso e continuo a enfrentar cada pedaço de realidade que se me impõe.
E num momento inesperado, abandonada de mim própria, encontro-me de repente encostada ao peito nu da Vida e os braços dela são muito macios e envolvem-me, e nem sequer consigo descrever o bater do seu coração: tão fiel como se nunca mais findasse..."
Etty Hillesum, judia, holandesa, morta em Auschwitz.
Esquecer em muitos casos seria muito bom porque ajudaria a viver ou a sobreviver. Acontece que fingir que nunca aconteceu não é o mesmo que esquecer.
ResponderEliminarSe calhar não se trata de "fingir que nunca aconteceu", mas sim optar pela distinção entre as "coisas" e as "não coisas". Estranho é: tudo quanto me possam fazer a mim admito "esquecer" ou "fingir", porém, aquilo que fazem aos outros já se não me apresenta tão simples (como hipótese). Nunca senti a vingança mas admito a sua possibilidade, lá está, concebendo a hipótese de (me) fazerem mal a certos "outros". Aquilo que mais frequentemente vemos retratado enquanto vingança diz respeito a uma tentativa de sanar um mal infligido contra "esses"... Resumindo, acho que nunca vou sentir desejo de vingança em causa própria e espero sinceramente nunca vir a senti-lo "por outrem". Fiz algum sentido?
EliminarFez
EliminarPois comigo é mais ou menos parecido, cara Cláudia.
EliminarPerdoo sempre aos meus inimigos, mas nunca antes de os ver enforcados.
Não!!!
EliminarLady Kina, já vi tarde o seu comentário, muito interessante. Aliás, que bom chegar tarde e poder ler estes comentários. Percebi-a e vou dizer-lhe o que queria que se subentendesse daquelas duas frases que escrevi e em que ponto discordo de Borges. Para mim o que é totalmente irrelevante é a vingança não o perdão, o perdão é fundamental uma vez que é o perdão que permite acabar com ressentimentos e raiva. É o perdão que conduz ao esquecimento, sem perdão não há esquecimento há só fingimento de que se esqueceu. E esquecer pelo perdão, não altera o que foi feito, mas torna o que foi feito irrelevante e o que é irrelevante esquece-se num instante.
EliminarEu ia escrever que apesar de nem a vingança nem o perdão alterarem o passado, a primeira constrói um futuro pior e a segunda um melhor.
ResponderEliminarMas ao ler o comentário de Sine die, fico a pensar que há coisas que dificilmente algum dia se perdoarão. Talvez seja por isso que o futuro teima em não ser melhor.
Por acaso estou em crer que o perdão pode alterar o passado, na medida em que este, até certo ponto, é uma construção de cada um.
EliminarDe facto, concordo que o perdão pode alterar a forma como olhamos para o passado; será, assim, uma maneira de o alterar a ele. A capacidade de perdoar é, para mim, uma das mais nobres virtudes humanas.
EliminarMas nós não controlamos o esquecer.....(e a memória que não deixa ? ) enquanto podemos controlar o fingir que nunca aconteceu.
ResponderEliminarDe qualquer forma o "post não é para mim", há uns que são mais que outros, pois nem tenho blog, nem me exaspero.com isto dos blogues.
Pois eu ia escrever que a única forma de esquecer o tanto mal que nos fazem, e substituir a raiva e o ódio por outro sentimento mais nobre, o amor ou a compreensão, porque só o ódio e a vingança mantém os laços apertados e nos impedem de esquecer, e libertar o outro, mas depois lembrei-me que há pessoas incapazes de amar, como eu também, em algumas situações, sou incapaz de dar a outra face.
ResponderEliminarPois é. Há situações e situações, e ocasiões e ocasiões, e razões e razões...e o nosso anfitrião descontextuou um trecho, e deve atentar que raramente isso é bom, independentemente da relevância dos comentários.
ResponderEliminarAliterando, ambas as atitudes alteram a "narrativa", essa palavra actualmente de tão má nomeada (outra responsabilidade da indigência política reinante).
ResponderEliminarAmbas condicionam o futuro e a memória do passado.
Nenhuma me parece particularmente isenta de defeitos.
Mas "esquecer" é coisa de jovens crianças e adultos tolos. A virtude das nossas "árvores de decisão" depende do mérito da inclusão do passado. Vedar-lhes isso é cortar a realimentação do sistema, toldar-lhe a "visão".
Para traineira à deriva já temos o raio do país.
... Sabemos que o Sporting acaba sempre nesta melancolia. O Benfica também, mas com aquele permanente aroma de comédia que Jesus lhe confere, always look on the bright side of life, afinal "acima de primeiro não há nada" ...
... Aqui começa a sentir-se o cheiro a comédia (nunca a campanha eleitoral), diria o Kingcake em dia de lua favorável, aquelas raras ocasiões em que o seu pobre cérebro liga à corrente e salta de um marasmo de trevas em pleno vigor, língua agitando-se incontrolavelmente, palavras brotando, não evocadas pelo espírito ...
Pois olhe que essa política do esquecer deu mau resultado para o Homem da Nazaré que o crucificaram
ResponderEliminarEsse não era esquecer. Era dar a outra face.
EliminarPosso até perdoar, agora esquecer nunca! (se dissesse o contrario estaria a mentir).
ResponderEliminarVW
Do ponto de vista racional, a vingança é coxa, na sua prática um paradoxo, como o demonstra a permanência da pena de morte. Sociedades que se afirmam intelectualmente superiores acolhem e incitam a vingança no seio da Justiça instituída.
ResponderEliminarPorque há quem não queira justiça.
EliminarUm pai que perde um filho porque um tipo qualquer se enfrascou e se sentou ao volante, que justiça pode ter? Prisão para o prevaricador? Compensação monetária?
Vingança é tudo o que resta.
É triste, mas é humano. E por enquanto, ainda somos humanos imperfeitos, ao contrário do que os blogs (e bloggers) podem fazer crer.
Não sei se reparou mas distingo o desejo de "justiça" ao nível do humano de cada um, que como se sabe muitas vezes resvala na chamada "justiça pelas próprias mãos" (portanto, daqueles que "não querem justiça"), e a chamada JUSTIÇA enquanto instituição que inclui leis, tribunais, etc.
EliminarA pena de morte é a vingança aplicada na justiça (com ou sem J).
EliminarAté porque a justiça está longe de ser justa.
Faz sentido enquanto sociedade? Não.
Faz sentido enquanto ser humano? Claro que sim.
E para que fique claro, não acredito na pena de morte. Por várias razões (e a falibilidade do sistema não é uma delas). Mas aceito que exista quem a defenda em causa própria. Apenas nesse caso. Quando ideologia entra ao barulho, os terrenos tornam-se perigosos. Mas verdade seja dita, o sistema prisional tem muito que se lhe diga. Até porque os animaizinhos que estão no zoo de Lisboa, caso fossem soltos na savana, não duravam muito tempo. Se é que me faço perceber com esta ANAlogia.