04 outubro 2014

Cohen e Saramago

O meu mais profundo desejo era passar por cima daquela da situação do Saramago, olvidar de vez que me venderam "um livro inédito" e afinal eram só umas poucas páginas, foi como se me tivessem vendido o último Bentley e afinal era só o volante, um bonito volante revestido a couro de bisonte abatido com chumbo de prata por um caçador diplomado, mas apenas um volante, foi como se me tivessem vendido Barca Velha do meu ano, afinal sempre havia, mas, vendo melhor, era só a rolha, uma bonita rolha de cortiça de sobreiro alentejano, pirogravada com o meu ano de nascimento, mas apenas uma rolha. Mas não, li hoje no saco do Expresso que a Fundação José Saramago e a Porto Editora continuam a falar de um "livro inédito", a dizer que "O prémio Nobel continua vivo" e que a coisa é "uma última viagem na sua permanente vocação para agitar consciências", incomodou-me tanto que virei o saco para o lado em que a TAP me diz que tem um cartão de crédito para mim, estará o  mundo do avesso?, talvez tenha um fundo de racionalidade, chama-se ter um plano B para quando os aviões estão no chão, podia ser isto ou a Montblanc ter uma linha de perfumes, o quê?, a Montblanc tem perfumes?, céus...

(por outro lado, o último Cohen está muito bem. "Slow" é uma delícia, "Almost like the Blues" também. É verdade que há ali um abuso de backvocals, mas é Cohen inteirinho, oitenta anos de Cohen justificam umas ajudas que o levem ao colo e eu, aos de quem gosto, suporto tudo)

12 comentários:

  1. Há muito que a Montblanc, para quem gosta de artefactos onde a tinta flui por aparos, é pouco mais que a "Alabardas, alabardas" das canetas. Daí até emprestar o nome a perfumes vai um passo com a espessura de um traço F.

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  2. Existem leitores para tudo, depois existe aqueles que apreciam e sabem fazer uma critica racional e objectiva, como é o seu caso,boas leituras!

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    1. Anónimo4.10.14

      Ó Pipoca, vá lá dar o estalo.
      Cr´tica racional e objectiva?

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  3. Anónimo4.10.14

    O Picopo está mesmo velho.
    Como os bezanas não larga o assunto.

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  4. Anónimo4.10.14

    eheheh!!!!!!!!!!!!! Essa é boa , ó Arrumadinha. Critica racional e objectiva, em se tratando de Saramago ou do Sporting, não sei onde as lê aqui no blog.
    eheheheh!!!!!

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  5. Anónimo4.10.14

    Isso da Montblanc também se aplica à joalharia?
    Mas, mas, não pode ser! Então e os meus brincos e corrente preferidos, o que é que lhes faço? D. Pipoco diga-me que joalheria pode ser!!!

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  6. este post é muito bom

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  7. Anónimo4.10.14

    sim, sim, mas esperava mais que apenas meia hora e picos de 'problemas populares', soube a pouco. daqui a dois anos (agora edita de 2 em 2, graças ao desfalque da sua ex.agente) temos o quê, a segunda parte deste cd? :p

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  8. Cláudia4.10.14

    Publicitar a publicação dos três capítulos iniciais de um livro, como "livro inédito" é uma intrujice. Até entendo a iniciativa de publicar, foi o último projecto de livro de Saramago e em jeito de homenagem publicavam-se esses três capítulos já escritos e divulgava-se isso mesmo, tratar-se apenas do inicio de um livro e de algumas notas sobre como seria o desenrolar do mesmo, faz falta, podia dizer honestidade, mas prefiro chamar elegância, na forma como certos assuntos são tratados.

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    1. Anónimo4.10.14

      Ò Cláudia és a rainha da elegância a comentar o pipoco, mulher!

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  9. Ainda assim continuo a querer o «último» Saramago. A publicidade em volta do livro-objecto é de facto falsa; é um aproveitamento editorial (muito) questionável, mas... acredito que, para que goste de Saramago, seja mais um livro simbólico. É o último suspiro de um grande escritor.

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