Talvez devesse ser ponderada a existência de um sniper, posicionado atrás das câmaras da Sport TV, alguém que estivesse atento ao discurso dos que perdem e que, assim que eles iniciassem a resposta à sacramental pergunta "E agora?" com a sucessão de palavras "agora temos que...", havia de se lhes lançar a luz vermelha da mira da shotgun, a luzinha vermelha na testa do jogador, só naquela de avisar, eles já sabiam o que significava a luz vermelha cravada na testa e haviam de interromper o o discurso, continuassem eles com as palavras "...levantar a cabeça", ficando a resposta completa o preguiçoso "agora temos que levantar a cabeça" e o chefe do sniper havia de fazer um sinal, assentindo que sim, que disparasse e havia de ser uma maçada para todos em geral e para os que apreciam o Nani em particular.
(porque levantar a cabeça não é nada, rapazes. espera-se é que joguem à bola, é-nos completamente indiferente para se o fazem de cabeça levantada ou não, o que se espera é que não discutam com árbitros, especialmente se já tiverem um cartão amarelo e, já agora, que esses chutões à baliza sem sentido nenhum fiquem para os jogos de veteranos, que eu sei bem como é)
Esférico, que no teu voo não cessas de oferecer
ResponderEliminaro calor de duas mãos com indiferença.
O que nos objectos não pode permanecer,
demasiado pesado para eles, pouco mas suficiente,
para que não possa, de repente,
deslizar em nós, invisível, a tudo o que lá fora
se alinha, em ti desliza, entre queda e voo,
indecisa. Elevas-te primeiro como se
o tivesses levado contigo, arrebatado,
e libertado, depois inclinas-te e ficas suspensa —
e lá do alto mostras, de súbito,
aos jogadores uma nova jogada,
dispondo-os, como se fossem figuras dum bailado,
para logo a seguir, desejada e esperada por todos,
rápida, simples, natural, sem pesar
voltares a cair nas mãos que se elevam no ar.
Rainer Maria Rilke, trad. Jorge Sousa Braga