O que me foi vendido como "O último Saramago" é uma fraude. Sessenta e seis páginas impressas com um tamanho de letra igual à que se usa nos livros para crianças, linhas separadas por espaçamento generoso, realces a vermelho daquilo que acabámos de ler no texto, tudo entremeado com desenhos de página inteira, ainda que sejam desenhos de Gunter Grass, é um logro. O que está a ser vendido como livro inacabado de Saramago é apenas um livro mal começado, que se lê no intervalo de tempo que decorre entre o anúncio do comandante de início da descida para Lisboa e o anúncio do comandante à tripulação "portas em disarm", ainda que os textos (sofrível o de Gómez Aguillera, melhorzinho - mas pouco - o de Roberto Saviano) funcionem como uma espécie de enchedores de chouriços, mais um contributo para esticar as poucas páginas de Saramago e fazer de conta que assim se faz um livro, tão à pressa que ninguém deu conta da bizarra noção de geografia "...porque se o Chile não devolvia à Bolívia o que lhe tinha roubado no norte, menos lhe abriria de não beijada uma estrada no sul através dos Alpes".
"Afinal, talvez ainda vá escrever outro livro", dizia-nos Saramago nas suas notas. Não escreveu.
Do que li, ninguém escondeu o número de páginas existentes.
ResponderEliminarSoube também que o livro não era um livro com início e fim. Irei comprá-lo. Vale mais do que muito do que é editado por "jovens escritores" em Portugal.
Tal como o "The original of Laura (Dying is fun), de Nabokov, não é um livro terminado, são rascunhos. Mas ainda assim com valor.
Não se queixe se não investiga.
Não me queixo do número de páginas do livro. Aliás, nunca me queixo de nada.
EliminarMas não havia necessidade de vender a coisa como "o romance inacabado de Saramago" (como o vende a Fundação Saramago) ou que afinal Pilar del Rio (citada hoje por José Mário Silva no "Actual") diga que "corresponderia a uma novela" quando estamos a tratar de umas poucas páginas com uma potencial boa ideia.
Livros póstumos fazem-me sempre sentir desconfortável.
EliminarSe os escritores não os quiseram editados em vida, por algum motivo foi.
Como disse anteriormente, o livro de Nabokov não era para ser editado, o filho achou por bem fazê-lo e foi muito criticado.
A "Claraboia" de Saramago não foi um livro esquecido (como pretenderam vender), foi dos primerios livros escritos que Saramago não achou bom. Comprei, li e não é de facto um livro grandioso, não sendo mau, vê-se um Saramago em construção, o que é bom. Mas a Sra del Rio, toma e pode tomar este tipo de decisões.
Acho-a uma mulher de fibra, mas não posso concordar com tudo o que faz e diz. Há também muitas coisas escritas pelas media, que nem sempre correspondem ao lhes é dito.
Kawabata e Salinger também têm livros descobertos, serão editados dentro em breve, em inglês. Como são escritores de que gosto, fico atenta, mas faz-me sempre pensar que estou em território proibido.
Neste caso concrecto, a culpa não é de Saramago, é de quem quer vender. E o que me agasta é que tenha escrito este post como se assim fosse.
Sou a anónima do primeiro comentário
Beatriz, naturalmente, a culpa não é de Saramago nem nado no post indica que seja essa a minha linha de pensamento (se há, que fiquemos esclarecidos desde já que nem de perto era minha intenção menorizar Saramago, de quem li praticamente tudo o que foi editado).
EliminarEvidentemente, a culpa é de quem edita não-livros, de quem se cola a Saramago sabendo que o que quer que seja publicado venderá - ainda para mais estando a chegar o natal.
Que fique claro que nas poucas páginas está lá a marca de Saramago, que a história tem um tremendo potencial. Mas não é um livro de Saramago, isso não.
Ah Pipoco, está mesmo muito acabadote !
ResponderEliminarJá lhe vendem fraudes ? cai nelas ?
Não defraude cá o nicho de leitores, veja lá isso que ainda esperamos por si em melhores dias.
É verdade que estou acabadote. No mesmo dia venderam-se duas fraudes (talvez três, ainda não ouvi todo o novo Cohen).
EliminarA segunda fraude foi o franchising da Aghata Christie, havemos de falar nisso.
Obrigada pela informação, caro Pipoco. Assim, talvez já nem vá comprar o livro e poupe a desilusão.
ResponderEliminarDesejo-lhe um bom fim de semana, sem mais fraudes.
Obrigado, Susana.
Eliminar(espero que sim, que sem fraudes deixem o Estoril jogar à bola e ganhar o jogo...)
Acho bem já que para fraudes chegou o jogo de ontem em que o Porto foi escandalosamente roubado de um penalti.
EliminarO que o impediu de ganhar o jogo. Não viu?
Não vi. Mas vi o Porto levar um banho de bola.
EliminarMuito repartido o jogo, caro Pipoco: Com alguma prevalência para o Sporting na primeira parte, e até podia ganhar que não lhe ficava mal.
EliminarMas do que o Pipoco falou foi de fraudes. E fraude houve uma num penalti a favor do Porto a quem o árbitro fez vista grossa, isto independentemente do Porto merecer ganhar ou não, que não merecia, mas o está em causa é um penalti não assinalado contra o Sporting.
Bom saber!
ResponderEliminarBom saber também para si, Arrumadinha!
EliminarTanta viagem, tanta milha e ainda não aprendeu que não é o comandante que dá a ordem "portas em disarm" mas o supervisor/chefe de cabine? Hum...
ResponderEliminarÉ verdade. E se juntarmos largas dezenas de aterragens e descolagens no cockpit, o estrago ainda é maior.
EliminarQue diria o próprio Saramago de uma edição destas...
ResponderEliminarNão diria, Cuca. Com Saramago vivo, não existiria uma edição destas. Não é por acaso que Claraboia é uma edição póstuma, conforme já aqui fio dito.
EliminarA pilar ainda vai arranjar maneira de editar a lista de supermercado que o homem escreveu
ResponderEliminar:)))
EliminarNão senti curiosidade qb para ler o livro, até agora. Debato-me entre o ler ou não ler, mas com esta crítica...
ResponderEliminarNão apenas publicou o que ainda não o era, como andou por aí a explicar como deveria ser lido o livro. Esta mulher é um pesadelo, esmifrou o homem em vida e esmifra-o depois da morte.
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