28 agosto 2014

Crónicas da viagem grande (III)

Ainda antes, muito antes, de me mostrar como fazem o melhor atum do mundo, o homem da fábrica de Santa Catarina explica-me que a função maior, o que mais o orgulha, é dar trabalho a mais de cem mulheres da ilha. Cem mulheres que levam dinheiro certo para casa, cem famílias onde o dinheiro que entra todos os meses é o delas, o deles entrará ou não, cem famílias onde são elas que decidem as prioridades. O atum é excelente, a nova imagem é cuidada, as exportações lá vão no bom caminho. Mas aquele homem, antes de tudo, orgulha-se de dar trabalho a cem mulheres e isto vale infinitamente mais e é infinitamente mais eficaz que cem feministas a reclamar dos piropos e a proclamar que não sei quê.

32 comentários:

  1. E tinha de borrar a pintura com a última frase.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Anónimo28.8.14

      Por acaso... acho que a pintura já nasceu sobre a borradela do preconceito para o qual chamou tanto a atenção :um homem a orgulhar-se tanto de dar o dinheiro ( nem se percebe se o mais importante é o dinheiro se o trabalho !!!!) a cem mulheres....bate-se bem com o piropo e a proclamação não sei de quê.

      Eliminar
    2. Lá está, estas feministas, nunca estão satisfeitas com nada. Ali o nobre empresário, a fazer por nós, a gabar-se disso, a ser aclamado por isso, e nem assim damos valor.

      (acabei de deixar um comento no mesmo sentido do/a anónimo/a, mereço umas chibatadas)

      Eliminar
    3. Anónimo28.8.14

      Anónima e sinto-me em óptima companhia (conheço muito bem o seu blog).

      Eliminar
  2. Que bom exemplo. Gostei.

    ResponderEliminar
  3. Melhor seria que fosse uma mulher a pagar o ordenado das outras cem. Mas lá chegaremos. Em breve :)

    ResponderEliminar
  4. Anónimo28.8.14

    Que estupidez! Como se as coisas fossem incompatíveis ou contraditórias.

    ResponderEliminar
  5. Desta vez tenho de discordar da minha compagnon de route Luna (punho erguido!). É que pareceu-me ter borrado a pintura logo na terceira linha, momento em que senti o distinto e incomparável odor de Paternalisme by Chennelle, essa fragrância que devia ter ficado esquecida nos anos 80.

    (eu, que sou uma pessoa muito mal intencionada, mas que já viu muita coisa na vida, pensei logo que deverá existir uma empreendedoríssima razão para preferir dar emprego a mulheres, nomeadamente em termos do custo do trabalho. mas sendo tio Pipoco homem preocupado com o humanismo / igualitarismo / feminismo, decerto tirou essa dúvida com o decentíssimo e babado empresário do atum).

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sabiam que há certo tipo de trabalho manual fabril muito repetitivo feito exclusivamente por mulheres, porque simplesmente a maioria dos homens não consegue fazê-lo no mesmo ritmo?
      Foi-me explicado recentemente que na indústria alimentar, por exemplo, a enrolar croissants, só há mulheres, porque conseguem estar a fazer esse trabalho durante 8 horas (4 horas numa direcção, 4 horas noutra) enquanto conversam umas com as outras, enquanto os homens que tentaram pôr na função nunca se aguentaram devido a menor capacidade de multitasking e abstracção.

      Eliminar
    2. Não sabia mas faz sentido. A gente consegue, de facto, estar a amanhar peixe, por a conversa em dia, e ainda planear o que se vai fazer depois do serviço, mas acho que treinados de pequeninos os homes também conseguem. Pelo menos lá para a terceira geração.

      Eliminar
    3. Izzie, Luna, as portas deste humilde blog estão sempre abertas para dar eco às vossas vozes de protesto, ao vosso grito libertador, à vossa acçãosempre clamando por um melhor amanhã.
      (estou capaz de aqui prantar um retrato das senhoras a trabalhar, só para vis aborrecer)

      Eliminar
    4. Eu não fazia ideia até há bem pouco tempo, quando soube que neste caso concreto - enrolar croissants - só havia mulheres na função e surpreendida perguntei porquê? Na prática, e pode de facto ter a ver com hábitos que vêm desde cedo e que determinam certas capacidades, os homens não se conseguiam abstrair do trabalho manual - ou seja, tinham de estar mesmo focados a enrolar os croissants - e o trabalho tornava-se demasiado penoso e influenciava o rendimento final.

      Eliminar
    5. Aborrecer por ver senhoras a trabalhar, e possivelmente satisfeitas com isso? Nada disso. Só aborrece o paternalismo e a crítica a posições válidas retratadas como histerismo. Fica mal.

      Eliminar
    6. Pipoco, retratos de PESSOAS a trabalhar é que não há necessidade, que eu não sou de me congratular com o sofrimento alheio enquanto ando em período de ócio.

      Luna, diz que já se fizeram experiências com homens e mulheres, a quem eram dadas duas ou três tarefas para fazer ao mesmo tempo - tomar conta de algo ao lume, passar a ferro e ver tv, por exemplo - as mulheres davam conta do recado, a maioria dos homens não. Há quem diga que é genético, eu acho é que são muitos anos (séculos) de condicionamento.

      Eliminar
    7. (jamais aborreceria propositadamente as minhas mais inteligentes - porém completamente ineficazes a passar a sua mensagem - comentadoras)

      Estive um par de minutos à conversa com o indivíduo lá daquilo da conserveira e percebi o dilema que ali havia, ou escrevia umas coisas inflamadas num blog ou inventava uma fábrica onde desse emprego a cem mulheres. Não gostaria de estar na posição do tipo, tamanha deve ter sido a angústia da escolha...

      Eliminar
    8. Sabe, Pipoco - e é com lágrimas de sangue que o admito - nem todos nascemos para a nobre função social de job provider. Eu - com profunda vergonha o confesso - sou só uma assalariada, ainda por cima paga com o dinheiro dos seus impostos, e a fazer horas numa área muito deficitária do Estado, que não gera riqueza, lucro, cash flow, uma miséria.

      Dito isto, estou em sério cuidado com a discriminação que esse empresário faz. Sofro pelos homens da terra, postos de parte ainda que tenham gosto e vontade em amanhar o atum. Não serão todos uns bêbados irresponsáveis, presumo. É que eu, Pipoco, e para além de palavras inflamadas em blogs - e com profunda consternação o digo - tanto trabalho com um homem ou com uma mulher, e tanto daria emprego a um homem como a uma mulher, mas nunca beneficiaria um em detrimento de outro, considerando como qualificação a atender o tipo de miudezas que trazem no entrepernas.

      Eliminar
    9. Anónimo28.8.14

      Não gosto do que vou dizer, mas se alguém foi (completamente) ineficaz a passar a mensagem, foi o PMS. Não passou a mensagem do angustiado homem do atum de Santa Catarina e não conseguiu dar força às cem famílias. Passou uma mensagem paternalista com um travo de agressividade que não vinha a propósito depois de um diálogo tão inspirador e humano (pagaram as feministas). Em suma, a única mensagem que passou foi mesmo uma discreta publicidade ao incremento da conserveira e á sua imagem cuidada.
      ( as mais inteligentes comentadoras foram muito eficazes)

      Eliminar
    10. Anónimo29.8.14

      As mais inteligentes, ou as mais acérrimas feministas?
      Em todo o caso acho que foram muito ineficazes, como de resto, o foram e são todas as feministas de triste memória aqui, voluntariamente trazidas à degola.

      anti.

      Eliminar
    11. Anónimo29.8.14

      ahahahahahahahahahahahahahahahahahah!!!
      Seja mais meigo. Podia, não podia?

      Isolda.

      Eliminar
  6. Anónimo29.8.14

    Fábrica de peixe.... atuns.... esta é a Viagem Grande do ano? Açores?

    Às vezes o Pipoco dececiona-me. Fico à espera da Viagem Grande do próximo ano.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cláudia29.8.14

      Dececionam-me comentários que revelam este tipo de pirosice, ou labreguice, enfim, há vários nomes que se podem chamar a isto, são todos da linha do provincianismo...Açores...é mesmo uma viagem grande!

      Eliminar
    2. Anónimo29.8.14

      Creio eu que o comentário do anónimo sobre a Viagem Grande é uma "directa", no que tem muito mérito. Às vezes apetece ....
      (não é meu o comentário ; não lhe acho qualquer labreguice ou provincianismo. A chacota/fascínio aos emigrantes, ah, isso sim, isso acho uma profunda pirosice, é como se diz em francês "chassez le naturel, il revient au galop. "

      Eliminar
    3. Então, anónimo, e vir aos Açores não é uma Viagem Grande? Ou a grandeza das coisas só se mede com a concentração de aparato, transmissão da imagem para os outros e nomes sonantes? Veja lá esse conceito de grandeza...Para sossegar mais um pouco a sua alma decepcionada, veja lá que Açores é uma marca registada...Enfim...

      Eliminar
  7. Cláudia29.8.14

    Na minha opinião, que pode não valer nada, mas que me apeteceu dar, ninguém foi eficaz a passar mensagem nenhuma, o Pipoco que podia ter passado uma excelente mensagem, não resistiu à provocação e entretanto outras pessoas não resistiram a responder à provocação.

    Para mim a grande mensagem e deve ser mesmo isso que orgulha o empresário em questão e com toda a razão, é dar emprego a mais de 100 pessoas na ilha, pessoas que não vão ter de emigrar para arranjar trabalho, que podem organizar, construir uma vida, perto dos seus e que por acaso são mulheres e é isso, é o ser o responsável por uma fábrica que dá trabalho e portanto uma perspectiva de futuro a tanta gente que é de louvar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Anónimo29.8.14

      Cláudia a defender o pipoco , sempre.

      Eliminar
    2. Cláudia29.8.14

      :)...Vá lá, não é sempre...não sei se fique feliz e pronto porque lê os meus comentários, ou se fique um bocadinho dececionada, porque embora os leia, não lhes presta grande atenção...
      (A questão do comentário relativo aos Açores/ viagem grande, talvez não tenha sido a intenção da pessoa que o fez e interpretei mal, talvez a pessoa só estivesse a ser irónica, mas pareceu-me aquela coisa do estrangeiro, que se não for o estrangeiro, já não é viagem digna desse nome e isso é daquelas coisas que me irritam, vai daí, não me aguentei, era mesmo dirigido a quem eventualmente pudesse pensar assim).

      Eliminar
    3. Anónimo29.8.14

      Fique feliz, fique.
      Tendo chegado de férias, estive a actualizar-me e pareceu-me ....foi injustiça minha.Os sempres e nuncas são de evitar...sempre !
      O post do atum irritou-me um tanto, é verdade. Mas nota-se que o tio Pipoco está feliz, e os Açores são lindas.

      Eliminar
  8. Como corolário pessoal desta pedagogia epistolar, tenho a alertar o caro Ruben: sempre que tive de pagar a mulheres as coisas não correram bem, em desagradável paladar de pressa, confusão e sensação de esbulho.

    ResponderEliminar
  9. Anónimo29.8.14

    É encantador imaginar o turista e o entusiasmado cicerone a discutirem as virtudes da fábrica para a economia da ilha, mas será de sublinhar que também emprega aproximadamente 30 homens, não só mulheres.
    Além disso, parece-me que a palmadinha nas costas pelos empregos garantidos pela fábrica de conservas de Santa Catarina deve ser dada a todos os açorianos, já que o Governo Regional aqui há anos tornou-se acionista para garantir a viabilidade da fábrica que, acho, ainda não voltou para controlo privado.

    De qualquer modo, enquanto açoriana, acho sempre enriquecedor ler estas bucólicas descrições dos turistas ocasionais, é assim como ver uma realidade alternativa àquela que se vive no meio do Atlântico. Obrigada.

    ResponderEliminar
  10. O meu caro está a esforçar-se para conseguir uma enorme vaga antitética no seio das suas leitoras (se me é permitida tal expressão).

    (Ruben, não olhes agora, o Tio vai sem mãos!)

    ResponderEliminar