22 outubro 2013
Post para dez comentários
Cinco linhas, não mais de três segundos, é o tempo que tens para me impressionar com a tua escrita. Nem mais uma linha, se me queres cativar é jogar tudo nesses três segundos, não terás segunda oportunidade para uma primeira boa impressão, se não quiseres perder para sempre os meus favores de leitura cativa-me, Garcia Marquez consegui fazê-lo com aquilo do "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo", Saramago fê-lo ainda melhor com "No dia seguinte ninguém morreu", se não conseguires que o teu post me prenda nas três linhas primeiras perdes-me para sempre, trata lá disso da química da escrita, prende-me, agarra-me, conquista-me, comove-me, desperta-me.
Por favor.
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ai quer ser agarrado? :b
ResponderEliminarsozinho, sentado na cama, estava naquele alheamento há mais de dez minutos. perto, ouvia-se o som da água a correr, a televisão do piso de baixo tinha sido ligada e alguém cantarolava a cotação do dólar, sempre a subir. mas ele continuava no terreiro, para lá dos silvados, de punho em riste, aguardando o próximo golpe do Júlio cigano...
(:b Bom dia, Sir!)
Pipoco, se queria meter-se nessa coisa dos desafios dos bloggers devia ter optado por oferecer malas em troca de nudez. Teria mais participantes...deve h
ResponderEliminarNão acredito que tenha 10 pessoas interessadas nos seus 'favores de leitura'
ResponderEliminarCaríssimo, se eu conseguisse agarrar os leitores nas cinco primeiras linhas, escrevia livros... não andava nesta coisa dos blogs.
ResponderEliminarNão está mal visto. E isso não se aplica- só à anouc mas a todos nós.
EliminarSabe o que me preocupa ? É constatar uma sub-repticia obsessão com o pelotão de fuzilamento, Há dois dias foi a evocação do dois de Maio , hoje é a crua poesia de Marquez. A sério, isto preocupa.
ResponderEliminarNão está mal visto. Freud deve explicar...
Eliminar"No dia seguinte ninguém morreu".
ResponderEliminarPor favor diga-me que é na página 92, que começo a não conseguir respirar com o cheiro, com a angústia, com a fome, com o medo.
AnaB
Ah! As saudades que eu tenho de descobrir alguém que me prenda, cative, conquiste, nas primeiras três linhas... Se descobrir, avise!
ResponderEliminarAs primeiras três linhas são as mais fáceis. O problema reside no restante, especialmente entre o meio e o fim, porque há sempre um fim. Assim sendo, escrevi isto só mesmo para ocupar espaço. Não topo!
ResponderEliminarE o Mestre da esgrima joga a luva no chão e instiga as hostes : palavras em troca de palavras. Será talvez excessiva a expectativa ? Não creio. O Mestre sabe o que faz. Não dá ponto sem nó.
ResponderEliminarMeu caro, isto é tipo o Factor X, mas em posts?
ResponderEliminarDou-lhe mais que cinco. Se não desistir na primeira linha, e, já que é tão corajoso a fazer desafios, tenha lá a coragem de terminar a história e dar-lhe um final à Garcia Marquez. Ou à Pipoco...
ResponderEliminar""Vem depressa, receio que não lhe reste muito tempo..."
Pousou o telefone lentamente, resistindo à tentação de o atirar contra a parede. Sabia que aquele telefonema haveria de chegar mais cedo ou mais tarde- mas caramba- tinha passado tão pouco tempo, ainda nem se tinha habituado à ideia, quanto mais aceitá-la... O resto do dia arrastou-se sobre patas de tartaruga e quando finalmente se pôs a caminho, já escurecera e começara a cair uma chuva miudinha, e a soprar uma aragem gelada. Boa! pensou, combinava com o seu estado de espirito. À sua volta via pessoas encolhidas, agasalhadas nos seus casacos, na pressa do regresso a casa , alheias à sua dor. Encontrou uma estrada deserta à sua espera, não se fez rogado e carregou no acelerador. A viagem de regresso a casa sempre se pautara por um entusiasmo infantil: primeiro aquela paisagem calma e infinita, depois o aconchego do ninho, os mimos dos pais, os amigos de sempre, e ela ...a alegria estonteante que ela lhe transmitia mal se viam. Agora a paisagem que deslizava pela janela era árida e deserta e o aquecimento do carro não conseguia combater o frio que qual lâmina aguçada se insinuava até ao mais profundo do seu ser. Não muito tempo depois, o céu abriu as comportas e a chuva derramou-se em lençóis densos, toldando-lhe a visão e dando-lhe a ilusão de algo a pairar à sua frente; um espetro funesto a abrir caminho e a rir-se dele: - Vou chegar primeiro! Já não vais a tempo! Acelerou e avistou finalmente os contornos tão conhecidos do bairro que o viu crescer . Fez a derradeira curva e estacionou em frente ao portão, olhando na direção da cozinha iluminada; a mãe estava à sua espera e lá em cima luzia uma claridade mortiça num dos quartos. A mãe abriu-lhe a porta ainda antes de lá chegar, olharam-se e abraçaram-se. O nó na garganta não permitiu que falassem, nem tal era necessário, conheciam-se demasiado bem para saberem o que ia no coração de cada um. Correu pelas escadas acima saltando de dois em dois degraus, e estacou à porta do quarto. Abriu-a devagarinho e o que viu paralisou-o. Em choque olhou para aquele corpo outrora tão robusto. Aquele corpo que tantas vezes abraçara, era agora, só um montinho debaixo do cobertor . Ela parecia dormir sossegada. Pensou por isso ir-se embora , mas eis que lentamente, ela ergueu a cabeça e pousou nele aqueles olhos castanhos, aqueles olhos capazes de carregar em si toda a ternura do mundo. Foi então que ele parou de lutar, soltou as amarras das lágrimas e deixou-as escorrer livremente . Dirigiu-se a ela recordando a primeira vez que a vira, fora quando...
Era bom, mas agora não tenho tempo.
ResponderEliminar"não
ResponderEliminarmais
de
três
segundos"
Não há ninguém. Só uma mulher de pernas intermináveis, cabelos longos e músculos sinuosos. Sentada na calçada chora com a cabeça entre os seus joelhos. Desconsoladamente, mas em silêncio, apenas com gemidos entrecortados e imperceptíveis.
ResponderEliminarDe todo o uso que possas dar às palavras, fica-te pelo culto do banal e do trivial. Daquilo que não te distingue de outro qualquer. Não te mostres nas palavras. Mesmo entre cegos, pode haver quem te veja, desnudo, entre parágrafos. Não te confesses. Já houve quem se condenasse por menos. És, um secreto segredo, um crime perfeito.
ResponderEliminar5 linhas em 3 segundos (?! pouco mais de meio segundo por linha?!), das quais as 3 primeiras devem ser cativantes?! poças, e ainda se queixam que sou demasiado rápido, que devia levar mais tempo, e que me canso logo à primeira...
ResponderEliminaradmirável. nunca teria lido um livro, nem ouvido uma melodia, em toda a minha pacata vida com um princípio desses (excepto revistas e VHSs do homem aranha a lançar as suas teias).
sugiro ISO A0 para formato padrão da palavra impressa, fonte sanserif para complicar e atrapalha-lo com aquela coisa das linhas em letrinha de tamanho 6.
o meu amigo, tanto na leitura como na estrada, tem o pé pesado. olhe que esta coisa de lamborghinis não é para qualquer um.
e sempre a provocar os seus ouvintes...
aquilo que a gente (eu e as minhas vozinhas interiores) quer saber (e que interessa isso em boa verdade?) é como termina aquela história com a rapariga a bicicleta e a revista no armazém.
com esta prosa toda pegava nas letras e fazia uma sopa e uma lasanha se tivesse tempo.
_ Avó, se eu não a tivesse tido a si, o que teria sido de mim?
ResponderEliminarA avó olhava-a, sábia de rugas de vida, e de dor no coração. Era isso que a preocupava.
_ Ana, a culpa não foi tua.
E Ana sabia, sim, que a culpa não tinha sido sua. Sabia que o fogo que lhes levara os irmãos não tinha sido sua responsabilidade, muito menos o facto de ali morarem, na tenda sem portas, cujo maior perigo vivia la dentro. Sabia, claro que sabia, mas a verdade é que enquanto esperava a pedido da sua mãe a suposta senhora que lhes levaria as provisões da semana, sentada à beira da estrada contando as estrelas que começavam a despoletar no céu, entrava Diego furioso em casa, atirando mesas ao chão, espumando um ciúme possessivo, julgas que vais onde sua puta fina, os seus irmãos corriam para trás da cortina, sem Ana para lhes falar da esperança da onda, a sua mãe chorava, deixa-me!, e Diego gritando, ai queres então que eu te deixe, queres? E Ana lá fora, vendo chegar um carro novo, estranhando o luxo, os vidros espelhados. Lá dentro o cheiro a gasolina, os pontapés no chão, nas paredes, eu deixo-te, claro que deixo! O carro parando, saindo de lá uma senhora que se aproximava de si, sorrindo de alívio, chorando a saudade do que não vivera, olá minha querida, deves ser a Ana. O fósforo. Ana sorrindo, sou sim minha senhora, a minha mãe disse que chegaria. E então a explosão. A prova viva da força da palavra de Diego: és minha sua vaca, ou então não és de ninguém.
Não era culpa sua, claro que não. Então e a dor das vidas por viver?
_Não gosto de ti.
ResponderEliminarOlhava-a da porta da cozinha. José largou as ferramentas que usava para concertar um móvel, mudo de espanto olhando a menina. Ana desviou os olhos da panela, e olhou-a nos olhos também. Esperava alguma reação, uma palmada, um ralhete, mas Ana parecia imperturbável. Nenhuma desviou o olhar neste jogo. Irritava-a aquela calma. Enerva-te, zanga-te, bate-me, vá, mostra que não gostas de mim, não precisas de esconder mais, Ana imune a provocação, o jantar queimando ao lume, José sem respirar com medo de intervir neste momento das duas. A raiva subia, queria desviar o olhar mas não podia, iria ganhar este jogo, tu é que te vais fartar, eu não gosto de ti, não gosto de ti. Rola-lhe uma lágrima massuda e pesada, desobediente ao seu comando, e cai redonda no chão. Quase a ouviu cair. Ana imóvel, sorrindo talvez, já não o sabia dizer porque atrás da lágrima gorda veio o soluço que entalou, não sou eu que estou zangada és tu, eu não estou zangada, não quero saber de ti, não gosto de ti. A raiva explodindo num corpo imóvel, e Ana esperando, convidando-a ao choro, ao abraço, paciente e calma. Calor e medo, mas sobretudo raiva tanta raiva que não cabia em si, sai disparada da cozinha, corre para rua. As lágrimas em catapulta, a vontade de gritar, só quero que me ames, João cavando um buraco no chão, o medo, ânsia, desespero, fome de algo, onde está a minha avó, corre para ele e belisca-lhe com força a perna até ver finalmente umas lágrimas que não as suas.
Se gostares fico vagamente mais feliz...
ResponderEliminarOs paragráfos que referiu não são originais; toda a gente refere esses 2 (para além do das familias felizes serem iguais e tal...)
ResponderEliminarPipoco não foi original, nem cativou, nem acertou no número de comentários:P
Como modesta contribuição para a inflação de comentários, diria que a dimensão das obras citadas e já, agora, o facto de ambos os autores serem prémios Nobel, origina uma pendente demasiado elevada para quem se atreva a ascender a tais expectativas.
ResponderEliminarDe um texto mais curto, de um autor que não ganhou o Nobel, aqui fica um dos meus inícios favoritos, apenas para tomar um caminho um pouco menos percorrido: "La candente mañana de febrero en que Beatriz Viterbo murió, después de una imperiosa agonía que no se rebajó un solo instante ni al sentimentalismo ni al miedo, noté que las carteleras de fierro de la Plaza Constitución habían renovado no sé qué aviso de cigarrillos rubios". Jorge Luis Borges, El Aleph.
Boa noite, caro PMS
E se eu te der o que me pedes o que me dás em troca?
ResponderEliminarestive para desistir, mas já tinha clicado, só que agora vou-me embora!
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