O Barbosa de Benevides nunca foi um dos nossos. Não sabia que o Figo já não jogava no Sporting e ele já estava no Real Madrid, era o único que não discutia se a caixa torácica da Mary, a sueca do Erasmus, tinha algum tipo de aditivação e era o único que se apresentava com Beckett debaixo do braço nos intervalos de Análise Matemática (e pensar que me julgavam um intelectual porque lia o Jornal de Letras e o Blitz...).
O Barbosa de Benevides era, de longe, o que de nós melhor se apresentava à porta dos sítios da moda desses tempos, fossem o Frágil, o Kremlin, a Seagull ou o Green Hill e era o confidente das nossas namoradas, que lhe confiavam as dúvidas e as mágoas (e, sendo nossas namoradas, se elas tinham mágoas e dúvidas...), explicava-nos o mundo para além de Gordon's, Bombay Sapphire e Beefeater (e a minha relação com um gin tónico nunca mais foi a mesma) e, quando lhe falávamos de Londres e Paris, aconselhava-nos o que de melhor havia para ver, sempre tranquilo e sem ostentar o que todos nós sabíamos, que o Barbosa de Benevides, não sendo um dos nossos, era melhor que nós.
Ao longo destes anos, fui encontrando o Barbosa de Benevides nos eventos costumeiros, os congressos, os casamentos ou a morte de algum dos nossos, sempre com a palavra certa, impecável nos seus fatos de bom corte, dando-nos conta dos seus últimos interesses, sempre com uma palavra humorada a mudar de tema quando lhe confessávamos a nossa pouca sabedoria quando confrontada com o que nos contava.
O Barbosa de Benevides quis que eu fosse o primeiro dos nossos a saber que os seus destinos se tinham juntado com o Athayde de Vasconcellos e eu, que sempre o soube sem saber, fiquei com uma felicidade maior, um tipo de felicidade que nunca tive quando um dos nossos me vinha comunicar que tinha encontrado a mulher do resto das suas vidas.