"Nessa noite levaram-me a cear ao Leão. Tenho ainda a memória dos bifes no paladar da saudade - bifes, sei ou suponho, como hoje ninguém faz ou eu não como."
Bernardo Soares in Livro do Desassossego
Talvez esteja para chegar o tempo em que não teremos senão a memória dos bifes, meu caro Ruben Patrick. Resistiremos, outros tempos virão e havemos de nos orgulhar por não ter esquecido os bifes em definitivo, havemos de os perpetuar até onde nos for possível no paladar da saudade, não nos vergaremos a paladares provisórios, em verdade te digo, Ruben Patrick, enquanto tivermos a vertigem de Zermatt nas nossas memórias não nos satisfaremos com Sierra Nevada, enquanto não olvidarmos a que sabe Old Bushmills acompanhando Faulkner não nos conformaremos com Macieira e Paulo Coelho, enquanto nos lembrarmos do por do sol na Comporta e das manhãs em Sintra não acharemos de valor as tardes em Carcavelos ou as manhãs em Odivelas, havemos de ter a memória dos bifes no paladar da saudade para que os saibamos reconhecer quando voltar a ser tempo deles, e nessa altura, Ruben Patrick, havemos de dizer simplesmente que estávamos à espera deles, que não nos esquecemos de como sabiam, que os guardámos no paladar da saudade.
Grande passagem do livro do ajudante de guarda-livros !! O Senhor, quando quer, é um ás a espicaçar sentidos e sensações ...
ResponderEliminarthat's very Proust
ResponderEliminarNão sei se será vulgar dizer que este post é invulgarmente comovedor.
ResponderEliminarMaria Helena
Quando quero forçar um comentário seu, Maria Helena, faço por isso.
EliminarÉ muito bonito Pipoco. Não só as palavras, como o optimismo impregnado na mensagem.
ResponderEliminar