E assim foi

E acorda um homem mal o sol nasceu, um homem sai do quarto e está na Plaza de Catalunya, respira fundo e corre pela Diagonal, chega ao Passeig de Gracià e volta para trás, pronto para o sacrossanto pão com tomate e presunto, um homem pega no carro, liga a música alto, o dia está fantástico, até apetece conduzir sem destino, mas não, um homem tem destino e horas marcadas, a vida é mesmo assim, um homem ouve música alto, não sei se já tinha dito, são as variações Goldberg, um homem distrai-se e fica sem gasolina, uma maçada, à beira da autoestrada, aguente firme, afinal o dia está bonito e Glenn Gould continua a chegar-lhe aos ouvidos, atrasa-se a reunião e a seguir atrasa-se o voo, já agora muda-se o destino do voo, afinal um homem já não voa para a sua cidade, as coisas são como são, janta-se uma francesinha e dois finos, um homem inteira-se do que de relevante se passou nestes dias, nada de novo, espera, afinal sim, há uma notícia que toca um homem, o hino do Benfica já pode ser tocado em funerais, um homem fica a cismar, caramba, porque há-de alguém querer o hino do Benfica no seu próprio funeral?