Como ter um blog snob-chic, lição segunda

O feliz proprietário de um blog snob-chic, em tirando fotografias aos próprios pés, escolhe o cenário de fundo, de tal maneira que a mensagem subliminar que passa ao incauto leitor seja o local onde se encontram aqueles pés, os lendários pés daqueles que pugnam pela snobchiqueana causa. Se a imagem de fundo for areia da praia ou chão de calçada, os leitores focar-se-ão nos pés em si, realçando se as unhas estão ou não bem tratadas, se há vestígios de pé-de-atleta, eventualmente tecendo comentários jocosos no que respeita à qualidade dos sapatos, isto dando-se o caso de os pés não serem fotografados descalços e, naturalmente, podemos inferir imediatamente que não estamos na presença de um blog com a indelével marca snob-chic, convindo passar, quanto antes, a um blog que, esse sim, tenha a marca daqueles que o Olimpo designou como eleitos para perpetuar a causa.

Já um pé fotografado com o skyline de Nova Iorque desfocado, garante-nos imediatamente que estamos perante essa marca que nos eleva ao nirvana dos blogs, o snob-chic, aqui o leitor jamais se debruçará sobre o pé, preferindo antes debruçar-se sobre as ambiências que, estando em segundo plano, não está lá para mais nada que não seja transportar-nos para a aventurosa vida de um snob-chic, esse ser que jamais anuncia que está numa cidade diferente a cada semana que passa, antes deixa uma piscadela de olho, estabelece uma cumplicidade com o leitor que, reconhecendo o pé como pertencendo ao autor, logo intui que, no preciso momento em que o lê, o autor se encontra a viver uma vida de glamour, prestes a degustar finas iguarias em restaurantes com estrelas Michelin e listas de espera de cinco anos.