A felicidade não se apregoa, pá...

Sim, confirmo tudo, passo todo o meu tempo aqui no blog, é o meu único interesse na vida, ele é os amigos (que não tenho) a queixar-se que não vou almoçar com eles, ele é os filhos, coitadinhos, sem jantar, à espera que eu large o maldito portátil, a minha mulher a dizer-lhes baixinho "não vão agora incomodar o pai, ele esta lá naquilo da net", tudo isto na nossa sub-cave na Brandoa, isto é uma luta, eu e o computador, uma ventoínha à minha frente para arejar, eu a suar em bica, apesar de estar só vestido com uma camisa interior, daquelas de alças e buraquinhos, mais uns calções que me ficam apertados e uns chanatos por cima de uma meias brancas a dizer "sport", saio daqui, desligo a aparelhagem onde passa uma cassete com Demis Roussos e sigo para a repartição de finanças onde tenho que aturar um chefe malvado, sabem lá, manda-me agrafar coisas, depois afinal diz que era só para pôr um clip, implicam comigo por causa deste palito que tenho sempre ao canto da boca, ou então é por causa da caspa, a verdade é que todos implicam comigo, a minha única alegria na vida é chegar a casa, ligar o computador e escrever estes posts a falar de coisas bonitas e boas e de momentos felizes, que só acontecem na minha imaginação, as pessoas dizem, e é bem verdade, as pessoas felizes não têm que andar a apregoar, se dizem que tudo lhes corre bem é certo e sabido que são como eu, uns infelizes que não apanham ar fresco, que se alimentam do virtual, o que publico aqui são coisas que ouço dizer, que copio de blogs de pessoas com vidas a sério.


(ou então sou só um tipo normal, que não tem de que se queixar, que faz posts por atacado, meia hora de escrita por dia, quase sempre nos intervalos de reuniões, guarda em rascunho e programa para publicar às oito da manhã e às duas da tarde, que publica os comentários quando um aviso de telemóvel lhe anuncia que alguém se deu ao trabalho de ler e comentar aquilo que escrevo)