28 novembro 2016

Post das oito

Aprende a cozinhar.Ainda não inventaram melhor remédio para expulsar demónios que cozinhares para ti. Não guardes o teu melhor vinho para uma data especial que pode nunca acontecer. Guardá-lo para beber com o teu pai, isso sim, pode ser. Escolhe sempre bons livros, nunca se sabe quando uma mulher bonita te verá a lê-los. Não há nada mais afrodisíaco para uma mulher bonita que observar um homem absorto na leitura de um bom livro. Não escolhas Ulisses, de Joyce, não dá grande resultado. Aprende a gostar de coisas realmente valiosas. A tua lenha a arder na lareira enquanto Miles Davis toca baixinho, sem te distrair das letras de Herberto Hélder é uma coisa valiosa. Abraçar a tua mãe também. Adopta um cão. Um cão grande. Ele far-te-à feliz enquanto corre ao teu lado, os dois a cheirar a giesta e molhados da bruma da manhã. Vai aos Açores. Dorme pelo menos uma vez ao relento na ilha das Flores. Não acredites em tudo o que escrevem as pessoas dos blogs. A não ser que seja o blog do Pipoco Mais Salgado.

27 novembro 2016

Acabou de acontecer

Era uma dessas mulheres que às vezes encontramos nos anúncios Chanel, mas esta estava numa livraria das que não são em centros comerciais, procurávamos livros nos mesmos cinco metros quadrados, suficientemente próximos para lhe sentir o odor a Poison e para que notasse quão demasiado bonita era, depois ela pegou no Vaticanum e acabou-se a magia, talvez ela tenha notado porque olhou para mim e, com um meio sorriso, disse "Não é para mim", mas era demasiado tarde.

26 novembro 2016

Coisas do dia

Espremer num copo o sumo de um limão, Juntar uma dose de cola e duas de rum em condições. Mexer bem e pensar que mais valia ter pedido uma aguardente velha.

Uma maçada, Ruben Patrick. Uma maçada.

Um dos grandes enigmas por resolver, Ruben Patrick, é que elas não aceitam que nós nos eclipsemos, que, pura e simplesmente saiamos de cena, aquilo que para nós é um facilitador de processos, sair da vida delas no preciso momento em que achamos que não devemos lá estar, para elas é o cabo dos trabalhos, elas exigem explicações, querem saber dos porquês, propõem alternativas que não interessam a nenhuma das partes, não vêem vantagem na disrupção, não aceitam a maravilha do corte a direito, interessa-lhes mais a perda de tempo que é escalpelizar os motivos do que a beleza do porque sim.

23 novembro 2016

Em loop

Aquela maneira de Cohen dizer "I´m ready, my Lord" também vos desassossega?

Oremos

Talvez devêssemos ter gravado na alma o sentido das palavras ditas por Moustaki nesse hino que é "La vie en rose", talvez já não vamos a tempo de fazer o que nos conta Pessoa nessa tirada genial que nos convida a construir castelos com as pedras que encontramos no caminho, talvez já não nos lembremos do tremor que sentimos quando nos abraçámos enquanto o sol se levantava no mar que bordejava as areias da Costa Vicentina num certo Agosto, talvez essa ode à beleza de envelhecermos juntos que encontrámos nas palavras singelas de "A Cabana junto à praia" se tenha perdido para sempre, talvez a ternura que nos inebria nos filmes de Tarantino ou as cítaras que nos comovem em Mozart ou a luminosidade de Dublin no Natal já nada nos digam.

Mas teremos sempre Paris, tal qual Brigitte Bardot e Alain Delon no "Regresso de Jedi"

22 novembro 2016

Eu e mais cinquenta mil e quarenta e cinco


A blogger que se afronta, capítulo quatro

Nunca peças desculpa pelo que escreveste.

(se não estiveres a perceber, eu explico-te melhor, em tendo tempo...)

21 novembro 2016

A blogger que se afronta, fascículo onze

Em estando o circo armado, a caixa de comentários em fogo e o mundo dos blogs unido, zurzindo no pobre blogger prevaricador, uma dizendo dele que coisa e tal, outra afirmando que sabe de fonte certa que ele não é grande espingarda em certas e determinadas situações, outra ainda clamando que isto e aquilo, é altura de expelir o último anel de fumo do Cohiba, tomar o último trago de cognac e interromper o jogo de poker, é tempo do blogger bocejar longamente, esticar as mãos numa espreguiçadela dolente e, enfim, interferir no curso dos acontecimentos, cirúrgico, determinado, confiante, é agora o tempo de influenciar as massas, mostrar um outro prisma, uma visão fora da caixa, se elas lhes apontam a má qualidade dos peúgos é arranjar-se um concurso de mostrar peúgos de mau ar, se o tema da afronta for um desconhecimento qualquer é espetar-lhes com um desses posts em que nada bate certo, é fazê-las rir, há logo quem lembre que um homem que faz rir as mulheres é um portento de inteligência, e logo as outras dirão que sim, não há quem o possa negar, e num par de horas está o ciclo invertido, as que ainda agora atazanavam o bom blogger cantarão hossanas, as que se afrontavam pensarão de si para si que laboravam no erro, em dois tempos haverá bloggers afrontadas contra bloggers afrontadas, dizendo umas das outras o que Maomé não disse do toucinho, é então chegado o tempo de o blogger se afastar, voltar para o disco de Brel com a agulha do gira discos em suspenso, escolher um bom livro da biblioteca e repousar enfim, verificando que o bom velho mundo está de novo nos eixos e que tudo está muito bem assim.

(a seguir, desde que se vislumbre um números superior a três comentários neste post, um novo fascículo sobre a temática de nunca se pedir desculpa por um post que se escreveu)

18 novembro 2016

A blogger que se afronta, fascículo sete

A blogger afronta-se essencialmente por duas categorias de motivos: por tudo e por nada, a causa-raiz da afronta tanto pode ser a novel mãe que anuncia ao mundo que não amamentará, que a coisa lhe prejudica a silhueta e potencia os efeitos da auto-estima futura, como a desgraçada que em má hora escreve qualquer coisa sobre pretos, é ver a caixa de comentários a inflamar-se e o céu do mundo virtual a desabar-lhes em cima.

Nesta altura, convirá ao blogger prevaricador respirar fundo e ter compaixão pelas bloggers afrontadas, as acções devem limitar-se à aprovação de comentários, gerindo com parcimónia o curso que desejamos para os acontecimentos, aprovando aqui um comentário mais acintoso para logo a seguir eliminar três mais atrevidos ou, pior ainda, que venham em defesa do ponto de vista do blogger, convirá que a primeira vaga de comentários seja feroz, sem contaminação por comentários gentis, o blogger deverá interromper cirurgicamente a degustação do seu cognac, expelir uma baforada do seu Cohiba e, com o espírito dos bons samaritanos, ler os comentários dramáticos que a blogger que se afronta, num exercício de catarse que é promover, se deu ao trabalho de deixar na magnífica caixa de comentários, sorrir, benevolente, e voltar à música e aos livros, deixando que o bom velho mundo continue a girar no sentido dos homens de bem enquanto a carnificina acontece debaixo do seu texto.

A segunda vaga será explicada ao centésimo comentário.

17 novembro 2016

Que estás a fazer neste momento, Pipoco?

First we take Praiense, then we take Madrid.

A blogger que se afronta, fascículo um

Em setenta e nove anos de blogs já assisti à crise da mala da Pepa e às ondas de choque da entrevista da Judite ao rapaz rico, à trapalhada da Pipoca Mais Doce com a vestimenta da miúda com cancro e aos ataques variados à própria Mais Doce, das promessas de não mais comprar no Pingo Doce nem na Ensitel, enfim, as massas são mesmo assim, ficam possuídas por um assomo de coragem quando estão por detrás das moitas, é por isso que não é má ideia contar-vos tudo o que sei sobre técnicas infalíveis que vos permitam levar a coisa com um sorriso a meio caminho entre o sobranceiro e o pedagógico, partilhar os meus vastos saberes sobre gestões de putativas crises, ajudar-vos a lidar com a maravilha que é terdes a cidadã blogger a opinar sobre o que não foi escrito mas que a cidadã blogger acha que sim.

Segue em fascículos, que é a forma que mais me convém e a mim, em me convindo mais, está a coisa decidida, sai um fascículo novo quando houver um comentário inteligente na caixa de comentários.

15 novembro 2016

Os problemas das mulheres

Podendo escolher, escolhem sempre guerrear com a mais fraquinha.

11 novembro 2016

Closing time

Há uma sorte de artistas que fazem parte das nossas vidas, são quase nossos amigos, eles não sabem que tanto nos acompanham as horas de estudo de Termodinâmica 3, e havia um risco no vinil quando chegava à parte do "But you don't really care for music, do you?", no Hallelujah, como nos acompanharam em cêdê a caminho do Porto, e o Sisters of mercy, do segundo disco do Live in London, tocava sempre ao quilómetro duzentos, a passar Coimbra, e se não tocava era porque eu estava a andar demasiado depressa, o First we take Manhattan é sempre a primeira música que toca no iPod quando vou correr, há coisas que esses quase amigos nos dizem que não percebemos bem e pedimos que repitam, e voltamos atrás na música, ou então percebemos demasiado bem e também pedimos que repitam, só para que nos deslumbremos com a escolha das palavras.

Perdido Bowie, perdido Cohen, já só me resta Aznavour.

10 novembro 2016

Acabou de acontecer

Está frio cá fora, uma nuvem de vapor sai do focinho da minha cadela grande, que salta ao meu lado e tenta lamber-me as mãos enquanto eu seguro a lenha das árvores que me morreram no ano passado, depois acendo o fogo, a cada inverno estou melhor na função, gosto de ver a madeira a arder, podia ficar horas a fio nisto, Nina Simone a rodar no gira-discos e eu a olhar para o fogo, só isto, nada mais, sem sequer me passar pela cabeça que o rendimento de uma lareira não chega aos dez por cento.

Os problemas das mulheres

Se as deixarmos falar, elas acabam por se calar.

09 novembro 2016

Pipoco comenta aquilo da América (II)

Por outro lado, passei parte da noite a ouvir pessoas a dizer coisas, aliás talvez a minha maior diversão, desde que decidi de ler blogs muito ruins, seja ouvir pessoas a dizer coisas e depois, no dia seguinte, as mesmas pessoas a dizerer coisas diferentes porque a vida real não foi generosa com as suas premonições e isto de ter que com que pagar as coisas boas da vida custa a todos.

A coisa mais divertida que as pessoas que gostam de dizer coisas dizem é que os políticos têm que ouvir as pessoas comuns, que as pessoas comuns arranjam espaço, entre uma compra na Primark e uma ida à praia de Caxias, para ir votar e transformar-se numa maioria silenciosa que decide as coisas a desfavor das elites dominantes (sim, refiro-me ao texto do Corta-Fitas onde  Rentes de Carvalho me levou) e por isso a sua voz, a voz de quem vê a Casa dos Segredos e que discute no trabalho se o golo do Benfica foi em fora de jogo ou nem por isso, a voz de quem comenta boçalmente as notícias dos jornais online e que mostra nas redes sociais o que vai almoçar, essa voz tem que ser ouvida, só porque essas pessoas votam e um dia aborrecem-se e espetam com o Reino Unido fora da União Europeia, elegem a Le Pen e o tipo da Hungria, e, finalmente, escolhem o Trump quando a Hillary assentava tão melhor ao mundo.

E eu, que também digo coisas variadas, sei que não, que a voz das pessoas comuns, a do bom povo, raramente é boa conselheira, que o facto de poderem votar não lhes dá o poder se nos dizerem a coisa certa, que a democracia é fantástica, que é, mas não é infalível.

Pipoco comenta aquilo da América (I)

O problema é que as pessoas continuam a ser o que são, informam-nos que estão a fazer dietas enquanto enfardam donuts à sorrelfa, dizem lá na repartição que o Correio da Manhã devia ser proibido mas é a CMTV que estará sintonizada logo à noite na cozinha enquanto descongelam pizza do LIDL para o jantar, afrontam-se com o sofrimento dos refugiados enquanto murmuram "cabrões dos pretos, é mandá-los para a terra deles", fazem likes ao Charlie mas lá no fundo acham que os gajos estavam a pedi-las, dizem aos das sondagens que acabaram de votar na Hillary quando o xis foi no quadradinho do Trump.

O politicamente correcto está a matar as sondagens.

Coisas importantes do discurso do Trump

Alguém havia de dizer ao rapazito que o casaco é para estar abotoado, até porque assim como está, vê-se que entre o cinto e o final da gravata há dois palmos de distância. E há algo na Melania que me diz que está muito frio em Nova Iorque.

(quem será o primeiro a colocar aquela música do Bowie?)

08 novembro 2016

Agora muito a sério

Amanhã de manhã, quando acordarmos, o mundo pode estar virado de pernas para o ar. Talvez estranhemos, mas havemos de encolher os ombros e pensar que não é nada connosco, que a nossa vida segue igual, que nos dá igual. Não conhecemos os argumentos de cada uma das partes, bastou-nos o folclore imediato, não quisemos saber. Como de costume, bastou-nos a mensagem superficial, rimos com as tropelias e seguimos a nossa vida, afinal que interessa? é coisa lá longe, nós nem seque votámos, que podíamos fazer para evitar a barbárie? Não nos esforçámos por saber, não nos interessou saber, pensámos que era só uma brincadeira, não fomos capazes de projectar as consequências, o impacto a médio prazo, os pequenos equilíbrios.

Amanhã de manhã, a barcaça de Cuca, a Pirata pode chamar-se outra coisa que não Conjurado e nós havemos de arrepender-nos. Será tarde de mais.

07 novembro 2016

Umas votaram "Conjurado". Outras não.



Caríssimas bloggers, caríssimos bloggers...

... é com enorme emoção e com o coração cheio de boas vibrações que tomo conhecimento que seis de vós, os melhores de entre os melhores, esclarecidamente escolheram "Conjurado" para nome de baptismo da embarcação da Capitã Cuca, uma blogger sábia e cá muito do meu agrado, uma Capitã destemida que certamente escolherá o melhor nome para a barca, afinal uma Pirata desdenha o voto democrático e aqui o que importa é como se chamará tão nobre e potente navio e não o nome escolhido numa vulgar caixa de votação, boa para escolher perfumes favoritos de bloggers de fracos recursos ao nível intelectual, e outros.

Estando certo que Capitã Cuca, aquela a que uns designam como Capitã Cuca, a Beleza dos Mares preferindo outros Capitã Cuca, a Escolhida pelos Deuses optará pelo único nome decente a concurso, não é menos certo que estou numa fase da minha vida, uma fase mais decadente, em que dou uma oportunidade à lisura de processos e é neste contexto que vos convido a uma visita ao local onde decorre a nefasta e desnecessária votação, deixando deslizar o cursor em forma de seta indicando nordeste até que este se encontre a apontar a palavra "Conjurado" e, nessa situação feliz, premir ligeiramente, porém com a convicção dos que sabem estar a fazer a coisa certa, o vosso dedo indicador no dispositivo electrónico que assinalá a vossa esclarecida escolha, podendo ainda os incautos, severamente arrependidos de opções feitas quando não estavam na posse de todas as suas faculdades, e optar pela, em boa hora prevista, opção "mudar o seu voto".

A não ser "Conjurado" a opção escolhida, deixarei de escrever definitivamente as minhas palavras que, sei-o bem, tanto contribuem para que sejais pessoas melhores, neste maravilhoso e ternurento espaço de palavra fraterna e amiga.

Sempre vosso,

Pipoco Mais Salgado

06 novembro 2016

Mulheres que sabem o que é melhor para todos

As mulheres que sabem o que querem, as que têm os glúteos mais magníficos, as que lêem os melhores livros (dos grandes), aquelas a quem a lei da gravidade não afecta, votam no nome mais magnífico para baptizar o navio da Capitã Cuca.

Conjurado.

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Com o tempo, Ruben Patrick, aprendi que as pessoas valorizam mais o empratamento do que aquilo que eu realmente cozinho, bem pode ser paloco em vez de bom bacalhau da Terra Nova, desde que o prato Vista Alegre tenha uma redução de azeite numa das laterais e um ramo de ervas de Provença do outro, a coisa dá-se e os encómios acontecem, já se eu me esmerar em servir uma boa dourada de mar, sem as modernices de ser escalada, uma salada de tomate que sabe mesmo a tomate, é uma maçada para as pessoas, recordarão com saudade o lombo de salmão de viveiro com flor de sal e espuma de grão da semana passada.

Com os posts é igual.

05 novembro 2016

Era isto ou falava daquilo

Fui ao Dona Maria só para ver como Ricardo III dizia aquele "Um cavalo!, o meu reino por um cavalo..." e Richmond anunciar "O cão raivoso morreu", da mesma forma que fui ver Eunice Muñoz dizer "Morta por dentro, mas de pé, de pé como as árvores!", não o diria tão bem como Palmira Bastos, mas Palmira Bastos nunca vi, também nunca vi João Villaret dizer o "Cântico Negro" de José Régio, aquele "Não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí!" sempre me arrepiou,mas vi Mister Deluxe e Austin e o Rapaz, isso vi, e é certo que ainda não vi tudo e isso não é uma má coisa.

02 novembro 2016

Ruben Patrick quer falar-vos, minhas senhoras

Houve um tempo, Tio Pipoco, em que líamos as mulheres dos blogs e aquilo era prosa que batia fundo, imaginávamos mulheres fatais, dessas que não queriam tomar conta de nós, que tanto nos podiam dar um nó cego quando ousávamos ir a jogo nas mais míticas caixas de comentários como podiam bater-se connosco no gin e na tequilla, sempre elegantes na forma como nos reduziam à nossa condição de rapazes que não sabiam nada de nada das coisas da vida. Era o tempo em que as mulheres dos blogs nos apareciam em sonhos irrequietos, sagazes na argumentação, não nos permitiam ir além do ponto de não retorno, eram poderosas.

Apaixonaram-se, e é sabido que as mulheres apaixonadas ficam fracas de escrita, depois partilharam com quem quis ver, e nós não quisemos (mas fomos os únicos), a forma como amamentavam, falaram-nos de choros de crianças e de roupas baratas, mostraram-nos como corriam corridas das graúdas, a nós que as imaginávamos sempre de saltos altos, falaram-nos de sementes e de papas, a nós que nunca considerámos a possibilidade de elas não jantarem sempre nos melhores restaurantes, mostraram-nos maus livros, más caras, maus glúteos.

E nós aqui, Tio Pipoco, a ver isto a acontecer e a não poder fazer nada a não ser dizer-lhes.