29 janeiro 2016

Pipoco está a viajar para sítios muito longe e hoje não pode

Digam-me que o sacana do cão (aquilo é um cão, não é?...) tem as unhas aparadas...

Politicamente correcto

Rebolar com os meus sobrinhos na relva e ninguém achar estranho, jogar à bola na praia às duas da tarde de Agosto e mergulhar no mar para arrefecer sem ninguém me lembrar que aquilo não são horas, chamar preto ao Eliseu, um tipo que há-de ser meu amigo até ele querer, e ninguém me lembrar que o preto se chama Eliseu, dizer a uma mulher bonita que ela é efectivamente bonita sem esperar que me denunciem e me multem, beber um gin e conduzir sem que me olhem como um assassino, comer carne de vitela mal passada e acompanhar com batatas fritas com sal grosso sem que insinuem que o colesterol e a hipertensão não sei quê, dizer que o Charlie Hebdo é uma bela merda sem que me recordem que o meu dever é ser Charlie, cantar alto a La Habanera no trânsito da segunda circular e ninguém fechar as janelas do carro.

28 janeiro 2016

Há vacas sagradas nisto dos blogs?

Isto é, bloggers que, escrevam o que escreverem, têm o nosso acordo, opinem sobre o que opinarem pensaremos "é isto o que eu penso sobre o tema", bloggers excelentes com os quais concordaremos sempre?

(excluindo-me a mim, quero dizer...)

Don Xilre e eu

Don Xilre havia de chegar cinco minutos antes da hora aprazada, havíamos de nos reconhecer pelos livros combinados que levaríamos debaixo do braço, eu o Manhã Submersa, Don Xilre os Poemas, de Borges. Não seriam necessários os livros, ainda Don Xilre caminhava para a porta do Martinho da Arcada e já eu o tinha identificado pelo fato de bom corte e pelo chapéu de feltro, este tempo de Lisboa pede um bom chapéu, Don Xilre também se me dirigiria de imediato, aperto firme, "Como está?", havíamos de dizer que era um privilégio conhecermo-nos um ao outro, enquanto terminávamos os nossos charutos, antes de entrar.

Ainda antes do prato principal, perdiz de caça para ambos, Don Xilre havia de assentir em deixar-me escolher o vinho, um Pintas de 2012, e já eu atacava o tema que ali nos trazia, que não tinha cabimento Don Xilre acabar assim os seus escritos, que havia que resistir a deixar isto entregue a blogues menores, quem sem ele ficaria só eu e mais meia dúzia a escrever em condições.

Don Xilre havia de contrapor, a maçada da rotina, o assédio das donzelas, primeiro gabando-lhe a inteligência e as temáticas, para logo a seguir lhe contarem que as coisas da intimidade lá delas já tinham visto melhores dias, quisesse Don Xilre ter a maçada de as aconselhar... . E continuaria Don Xilre desfiando as suas razões, o não haver quem lhe entenda as entrelinhas, o endereço electrónico xilre.mail(at)gmail.com a abarrotar de bons conselhos e de pessoas de boa vontade a partilharem com Don Xilre que também já se sentiram assim, Don Xilre a não estar certo de ele próprio se sentir assim.

Já no café, que não adoçaríamos, havia eu de fazer as alegações finais, que todos ficaríamos mais pobres, que havia de se poder fazer uma requisição civil, que não se admitia Don Xilre ser insensível ao ponto de admitir privar-nos das cartas do Professor Andrada, que não se concebia não mais termos notícias de Dona Aureliana.

Don Xilre, havia de prometer considerar as minhas palavras e, finalmente, havíamos de nos despedir com um "até breve", eu na secreta esperança de Don Xilre retomar os escritos, Don Xilre certamente impressionado com as minhas capacidades de persuasão.

Afinal não foi preciso. E ainda bem.

Come chocolates, pequena

O Atahyde de Vasconcellos foi quem começou com aquilo da Ofélia e do Pessoa se ter desconjuntado por causa do Álvaro de Campos, não se tivesse Ofélia deslumbrado com Álvaro de Campos, e teríamos poeta por muitos anos. Pior poeta, concedia, que isto dos poetas de amores felizes não era coisa para fazer prosperar a boa poesia, mas ainda assim. Eu não disse nada, tenho a minha conta de mulheres que confundem tudo, respondem ao heterónimo quando estão defronte do poeta, ele mesmo, acabam por confundir-lhes as idiossincrasias, misturar-lhes os predicados, somar-lhes os defeitos. Acabam por esmorecer, pois claro, que isto de organizar as emoções não é da natureza das mulheres.

(Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

27 janeiro 2016

Diz-me, Ruben Patrick

É certo que lhe ligas não poucas vezes só para teres a certeza de não ires notar pequenas inflexões na voz que te forneçam um sinal de que alguma coisa não está conforme, desesperando quando a má cobertura de rede não te dá certezas?

Podes afirmar que já entraste numa dessas perfumarias de centro comercial e desesperaste por não existir um frasco de teste com a marca do perfume dela, impossibilitando-te de aspergir um lenço monogramado que compraste só para esse fim?

Confirmas que há ocasiões em que, durante a espera num num semáforo encarnado, fechaste os olhos e sorriste enquanto pensavas nela e tiveste que levantar a mão para o tipo do carro de trás que buzinou, pedindo-lhe desculpa pela tua desatenção?

Já deste por ti a notar que alguém havia de inventar uma forma de medir a saudade, mas medir mesmo a sério, numa escala que não fosse de tempo?

Já deste por ti a caminho de muito longe, e muito longe é sempre a caminho do mar, e só notaste o tarde que era quando sentiste muito frio e era de manhã?

Então, Ruben Patrick, estás oficialmente apaixonado.

(Estás fodido.)

26 janeiro 2016

Entretanto na Disney

Enquanto usufruía de um pequeno intervalo nas minhas elucubrações , fumando um merecido Partagas e degustando o providencial cognac de meio da manhã, passei os olhos pelos jornais e os meus sentidos foram estimulados com a incrível história que o Washington Post me ofertava, precisamente uma situação sobre um drama dos nossos dias, uma espinha entalada nas nossas gargantas que acabaria por nos passar despercebida. não se tivesse dado o caso de eu cá estar para ler o artigo e estar aqui a falar destes temas aziagos.

 O Washington Post diz-nos que houve quem andasse a ver os filmes de princesas da Disney só para tomar nota de quem fala mais, se os personagens femininos ou masculinos. E se em Branca de Neve e os sete anões a coisa se equilibrava, o que equivale a dizer que a Branca de Neve e a bruxa falavam tanto quanto os sete anões (sete!) e o príncipe, a coisa vai andando aos altos e baixos a partir daí, oscilando entre os dez por cento de falas femininas em Aladdin ou pouco mais de vinte por cento em Mulan ou Brave. Tudo histórias de princesas, note-se.

Ora isto acontece porque as princesas estão ali só para arranjar maridos. Bons maridos de preferência. E toda a gente sabe que para se arranjar um bom marido não é necessário falar muito. Aliás, até dasajuda.

Já os rapazes das histórias são donos de lojas, polícias. Estão a cantar alto nas tabernas ou a organizar batidas a monstros. Tudo coisas que carecem de diálogo. As mulheres? Ora, estão a sofrer por causa do tal marido que se está a fazer difícil. A sofrer em silêncio.

Eu era capaz de começar por aqui.

25 janeiro 2016

O método do discurso

Habituei-me a escolher as minhas guerras. Respeito as guerras de quase toda a gente mas dá-se o caso, maçador, bem sei, de nem todas as guerras serem as minhas. E, em não sendo as minhas guerras, não há grande maneira de me arregimentar, não há estatísticas nem estudos americanos que transformem uma guerra que não é minha, na minha guerra. A não ser que me apeteça, evidentemente. E raramente me apetece, a não ser em episódios em que suceda eu ter tempo e debruçar-me com mais detalhe sobre os temas e pensar de mim para comigo que sim senhores, ali está um bom motivo para me fazer guerrear. E então dá-se o milagre, um tema que estava lá arrumado no meu cerebelo, ou lá onde é que se guardam os temas que são capazes de ser putativas guerras minhas, ganha vida própria e eu passo a acarinhar com todas as minhas energias a minha guerra novinha em folha. Ora isto não é coisa que me suceda todos os semestres.

É claro que eu também sou um vendedor das minhas guerras, aprendi que, se as guerras não forem só minhas, passo a ter mais possibilidades de as ganhar. E ganhar guerras é muito mais importante do que a excitação de arregimentar pessoas para a  minha fileira. Além de muito mais divertido. E eu sou um tipo que ainda se diverte a ganhar guerras. 

Para ganhar as minhas guerras eu preciso de ter quem mas compre. Há muitas maneiras, posso fazer de conta que não quero vender a minha guerra a ninguém e acontece que as pessoas a compram, mesmo fazendo eu de conta que não a quero vender. Outra maneira, que dá mais trabalho, é explicar bem a minha guerra e, muito mais importante, porque é importante ganhá-la. Bem sei que é difícil acreditar nisto, mas nem sempre as pessoas compram a minha guerra. Às vezes apetece-me abaná-las e dizer-lhes que não estão a ser muito inteligentes, tão evidente me parece o mau caminho por que seguem. Apetece-me mandar-lhes uns artigos e exigir que os leiam. Educar as pessoas, não sei se me estão acompanhar. No entanto, aprendi cedo que as pessoas ficavam aborrecidas comigo por eu estar a insinuar que elas não tinham capacidades cognitivas para me acompanhar intelectualmente. Algumas podiam fazer de conta que compravam a minha guerra, mas era só para deixarem de me ouvir, afinal eu tinha sete anos e a minha voz não era tão máscula como é agora. 

Aprendi a aceitar que há quem não compre a minha guerra. Não são más pessoas, apenas têm outras guerras, tal e qual como eu. Felizmente há quem esteja mais capacitado e admita comprar as minhas guerras. É nesses que eu me foco, acarinhando-os, incentivando os seus pequenos avanços, aprendendo com eles. Explico-lhes as vantagens de ganhar aquela guerras e pergunto-lhes se conhecem uma maneira mais rápida e melhor para lá chegar, ao resultado final. E eu gosto de ganhar guerras. Até porque, depois de as ganhar, posso sempre começar outras, sejam das minhas ou seja daquelas que me apeteceu comprar. 

Confesso que sei qual é o melhor método: é nunca pensar que sei mais do que aqueles a quem quero vender a minha guerra. Mesmo que seja verdade.

Pipoco pergunta

Deveria a Gillian Anderson ter recusado liminarmente fazer de novo de Dana Scully e dar uma lição à FOX, que havia de ajoelhar porque os X-Files só funcionam com a Dana Scully ou a coisa certa foi a  Gillian Anderson reclamar e ter um salário igual ao do David Duchovny/Fox Mulder?

24 janeiro 2016

Pipoco comenta as eleições (final)

Ficamos então aqui à conversa? E tiro a moderação ou quê?

Pipoco comenta as eleições (XV)

Abril Vencerá, dizem lá na sede do Edgar Silva.

(alguém lhes conte o que se passou, por favor...)

Pipoco comenta as eleições (XIV)

Marisa diz que levará consigo os problemas das pessoas. Lá em Bruxelas ela trata disso.

Pipoco comenta as eleições (XIII)

Isto das eleições presidenciais é como o campeonato nacional este ano, sabe-se logo quem é o grande vencedor.

Pipoco comenta as eleições (XII)

Maria de Belém agradece aos que nela votaram. Na sala ninguém acusou o toque.

Pipoco comenta as eleições (XI)

Como fará Jorge Sequeira para se auto-motivar?

Pipoco comenta as eleições (X)

Judite de Sousa está mais sorridente que Manuela Ferreira Leite.

Pipoco comenta as eleições (IX)

Jorge Sequeira continua a não acertar com os tons da gravata e do lenço. E o povo não perdoa estas coisas...

Pipoco comenta as eleições (VIII)

A Dois está a dar um bom programa sobre coisas do mar.

Pipoco comenta as eleições (VII)

O Padre Melícias está na sede da Maria de Belém. Aqui está um homem habituado a não ganhar nada...

Pipoco comenta as eleições (VI)

Tino de Rans controla a situação. A alegria do homem é contagiante.

Pipoco comenta as eleições (V)

Coitadinha da senhora que tem que justificar a campanha do Edgar Silva...

Pipoco comenta as eleições (IV)

É dos meus olhos ou Tino de Rans pode ter mais votos que Maria de Belém?

Pipoco comenta as eleições (III)

João Soares diz que Portugal precisa de uma mulher na Presidência. E essa mulher seria Maria de Belém.

(estão a ver a vantagem de não haver quotas para a presidência da República?...)

Pipoco comenta as eleições (II)

O Bloco ganhou as eleições. Outra vez.

O Partido Comunista vai ter mais dificuldade em justificar a coisa. Mas também ganhou, evidentemente...

Pipoco comenta as eleições (I)

Cá estamos.

A minha primeira vez nas urgências de um hospital público

Cá estou. Meio debilitado, mas isto são achaques da idade. E com este tempo já se sabe, a humidade é fatal para as articulações de um ancião. Pomada Tigre e Emplastro Leão e a coisa resolve-se.

Fui parar a um hospital público porque era o único até onde eu conseguia conduzir. Era o mais próximo, a escolha foi simples. Às oito da noite lá estava eu, a dizer onde morava e a acrescentar que só queria que me dessem alguma coisa para as dores. Não me deram nada para as dores mas deram-me a senha D1313, que eu devia ter rejeitado, aquele era o número do Primo Azarado dos Metralhas.

Quando o número 1313 apareceu no écran eu achei que afinal as urgências não são assim tão ruins, afinal ainda não tinha passado meia hora e já me chamavam, certamente a senhora da recepção tinha percebido a gravidade do meu caso. Afinal não, aquilo chamava-se triagem e era só uma rapariga com muito bom ar a decidir que eu merecia uma pulseira amarela, explicou-me que agora era ir para a sala de espera e esperar. Pareceu-me coerente.

A sala de espera é um sítio divertido para quem quiser fazer análise sociológica da espécie. Senhoras idosas de pijama e roupão, rapazes gordos em fato de treino, seguranças que comunicam por intercomunicador e acabam sempre a dizer "Recebido" ou "Escuto", velhotes que se levantam da cadeira e coçam o escroto, rapazes que respondem muito alto a chamadas telefónicas e dizem "não sei, caralho, estamos aqui há quatro horas, caralho". E eu, o tipo que está em pé porque não se consegue sentar.

Quando o número da senha aparece no écran, a pessoa transforma-se. Esquece os impropérios e a ira esmorece. O momento faz-me lembrar o dos miúdos que são seleccionados para a fase seguinte no Ídolos, a pessoa que tem na mão a senha com o mesmo número que aparece no écran voa sobre os demais, pula de alegria e a sala, com as velhinhas de pijama e os tipos que coçam o escroto, quase irrompe num aplauso, feliz pela sorte do tipo com a senha com o número do écran, suspirando pelo momento em que poderão ser eles a viver aquele momento mágico, de libertação.

A consulta dura vinte segundos. O médico, um guineense que se ria muito e com mais dificuldades com o Português que o treinador do meu clube, toca onde eu digo que tenho dores, eu digo "Ai!", ele responde "Já precebi, já precebi...", encomenda um RX, eu peço alguma coisa para as dores, é uma da manhã, ele diz "estou escrevendo, estou escrevendo", e lá estou eu na sala de espera de novo.

Chamam-me para o RX, eu volto a pedir alguma coisa para as dores, e um tipo com ar de puto e um barrete de lã simpatiza comigo porque me viu segurar a porta a um velhote com algália e "o cabrão do velho nem te agradeceu, man...". Digo-lhe que ele nem notou, já lhe deve faltar a paciência, o miúdo afinal chama-se Ruben e tem três filhos, Resisto a dizer-lhe que tenho um sobrinho com o mesmo nome, não estou para grandes conversas.

São duas da manhã e levo então a minha dose de injectável, dois frascos, um de líquido branco, outro de líquido amarelo, a meio peço para me deixarem deitar na maca, o enfermeiro diz "sim, de facto está a ficar branco", mas descansa-me a virilidade, "isso é do medicamento, isso é dose para cavalo", quando acaba o segundo frasco o enfermeiro não está, informam-me que tem duas salas para tomar conta e está na sala errada nesse momento, infelizmente o sangue, o meu sangue, está a começar a ocupar o lugar onde antes estava o líquido amarelo e aquilo começa a aborrecer-me, até porque são duas e meia da manhã e eu já não tenho dores, o sacana do medicamento resulta, vou à procura do enfermeiro, agulha espetada num braço, suporte metálico na outra, encontro-o  a meio caminho, o enfermeiro pede desculpa, tem duas salas onde tem que estar, eu compreendo, cada vez compreendo melhor, tira-me tudo mesmo a agulha, o médico pode achar melhor eu levar mais líquido injectável e assim já tenho a agulha espetada, negociamos, pergunto-lhe qual a probabilidade disso acontecer, ele diz que não é muita, digo-lhe para me tirar a agulha, se for preciso pica-me no outro braço, concorda comigo, saio dali, sigo para o médico, diz-me que tenho que ter cuidados com certas e determinadas situações, digo que sim, que terei.

São três da manhã e esperei sete horas por uma injecção para as dores. Sete horas. Um dia de trabalho de um funcionário público...

22 janeiro 2016

12

Oito por cento de bateria. É melhor guardar para uma emergência.

Obrigado pela companhia, sois grandes.

11

Os da pulseira verde olham para mim com inveja.

10

Está ali um tipo com ar de mau rapaz a dar iogurte à boca do avô em cadeira de rodas e a falar-lhe com uma ternura que me está quase a comover. Quase.

9

 Comecei a tossir. O que me trouxe aqui foram umas dores lombares filhas da puta.

7

O croissant da miúda gorda ficou encravado na máquina. A miúda gorda abanou a máquina e ia reclamar. A velhota disse para rla digitar outra vez o número. Saíram dois croissants. A miúda gorda riu muito e muito alto e já não reclamou.

6

Há dez minutos nisto e ninguém a dar uma força...

(vou sair da zona das macas, o ambiente é mais deprimente que nos blogs de poemas)

5

Tempo de espera para pulseira amarela é de duas horas e quinze. A bateria disto acaba antes. Se fosse para cirurgia geral o tempo de espera era de sete minutos. Eu espero.

4

Senha amarela. Pior que laranja, melhor que verde. Dependendo do ponto de vista, claro.

3

Isto está cheio de senhoras velhinhas. É uma questão de minutos começarem a perguntar qual é a porta de embarque do voo para Ibiza.

2,5

As pessoas que chegam de maca têm prioridade sobre os que têm que conduzir até aqui. Eu costumo ter prioridade. Vai ser uma aprendizagem.

2

Instruiram-me para me fazer pior do que aquilo que estou. Por causa da cor da triagem. Não faço ideia do que é isso e já estou suficientemente mal.

Pipoco vai às urgências 1

Pela primeira vez em muitos anos. E logo num hospital público. Vou contando como é vão-me fazendo companhia desse lado. Que tal?

21 janeiro 2016

Os problemas das mulheres

Mesmo após séculos de experiência acumulada, ainda não terem percebido a potência do silêncio numa negociação.

20 janeiro 2016

Dos Oscares e outras bizarrias

Depois daquela situação de não haver mulheres finalistas no festival de BD em Angoulême (a propósito, alguém sabe como acabou aquilo? Não? Pois, lá está...), temos agora a situação de não haver actores negros nomeados aos Óscares.

Que nos reservará o futuro? Uma petição por mais chineses na NBA? Uma acção de rua por mais brancos a ganhar maratonas?

Dúvidas, é isto que me afronta os dias...

19 janeiro 2016

Pipoco abre a caixa de comentários e retira a moderação

Agora a sério, digam-me uma ideia de valor que tenha ficado deste debate.

Pipoco comenta o debate (XI)

Marcelo fala mais pausadamente. Isso irrita-me. Bastante.

Pipoco comenta o debate (IX)

É dos meus olhos ou Tino de Rans está a orientar-se com Marisa Matias?

Pipoco comenta o debate (VIII)

Marisa com aquela voz e sotaque do Porto. Vale a pena pensar nisto.

Pipoco comenta as eleições (VII)

Tino de Rans é o candidato que eu escolheria para ficar à conversa durante uma noite inteira.

Pipoco comenta o debate (VI)

Paulo de Morais tem um arzinho de corrupto...

Pipoco comenta o debate (V)

Estão a guardar Tino de Rans para o fim. Isto prende o público.

Pipoco comenta o debate (IV)

Tino de Rans já olhou três vezes para Marisa Matias (sim, para aí). E sorriu.

Pipoco comenta o debate (III)

Estava aqui a imaginar Edgar Silva como presidente disto. Não foi bom.

Pipoco comenta o debate (II)

Esta Marisa Matias parece o Portimonense...

Pipoco comenta o debate (I)

Sampaio da Nóvoa tem botões de punho. Marcelo não. Marcelo usava sempre botões de punho no seu tempo de comentador de coisas várias.

Isto é capaz de querer dizer alguma coisa.

Dia segundo

Houve um tempo na minha vida, era o tempo de Análise Matemática II, em que eu acreditava que durante a noite o meu cérebro havia de processar a informação que eu lhe tinha fornecido nos últimos dois dias e havia de a verter em folhas com o logótipo da prestigiada instituição de ensino superior que eu frequentava nesse tempo, eu a ficar pasmado com a minha mão a debitar integrais de quinta derivada, coisas que eu nem sequer sabia que sabia, o tipo que havia de avaliar aqueles números sábios a, infelizmente, não concordar com as minhas opções de resolução.

É este esse tempo outra vez, a vida a dar-me informação importante, eu a ter que seleccionar apenas a que me parece mesmo indispensável, e a falhar, a perceber demasiado tarde que a opção certa teria sido a que eu não escolhi, a vida a correr e eu a ir a passo lento, eu a esperar que a noite me traga as soluções certas, um milagre, uma luz.

Talvez tenha sido má ideia ter decidido que não preciso de café.

18 janeiro 2016

Pipoco partilha coisas lá da sua vida

Olá, sou o Pipoco Mais Salgado, são nove da noite e ainda só bebi um café hoje.

O que vês da tua janela, Pipoco?


As coisas são como são

O problema de escrever coisas, meu caro Lourenço, é que as pessoas nunca apreendem instantaneamente tanta informação como a que lhe dá um retrato. Tome o meu caro o exemplo dos gatinhos no retrato ali em baixo. Apesar de publicado no pior horário possível para comentários (um domingo por volta da hora de almoço), houve quem se incomodasse a dizer coisas. Publicasse eu um post só com palavras, descrevendo o meu almoço de guisado de javali e arroz de lebre, descrevendo os aromas subtis do vinho tinto e o ar frio de Sortelha, aqui e ali uma casa a largar fumo de lareiras crepitantes e o cheiro a lenha que se sentia na aldeia, e lá estava eu com três gatos a observar-me os movimentos do garfo a levar-me a lebre à boca, publicasse eu só palavras, ainda que o post fosse publicado às dez da manhã de segunda-feira, a melhor hora para publicar, e as pessoas não se emocionariam com os gatinhos.

Eu próprio poderia ter decidido não interromper a refeição e manter a imagem mental dos gatinhos ma janela. Preferi interromper, ir buscar um telefone que tira retratos, sei que é muito mais potente mostrar este retrato à minha mãe do que explicar-lhe por palavras os gatinhos na janela. Por outro lado, posso manipular a informação e transformar um almoço num sítio muito agradável, com excelente companhia, boa comida servida em generosas doses, um vinho adequado, tudo isso pode ser transformado numa memória "daquele almoço onde havia gatinhos na janela".

É por isso que escrever é brutal, quem está a ler percebe bem quando é manipulado ou não, não se contenta com dias menos bons do escriba, exige-lhe sempre estar ao melhor nível, eu próprio obrigo-me a condensar o que quero dizer, sei bem que as pessoas não têm todo tempo do mundo para acompanhar aquilo que estou a tentar partilhar, na maioria dos dias pressinto dedos a tamborilar na madeira, "despache-se Pipoco, não temos o dia todo para estar aqui à espera para saber onde quer chegar".

É por isso que os gatinhos são eficazes, as pessoas emocionam-se e não temos que lhes explicar mais nada, podemos mesmo escolher o retrato só com dois gatinhos mas com as pedras do castelo a fundir-se com o cinzento do céu e uma chaminé a deitar fumo ou escolher o retrato em que estão os três gatinhos, mas perde-se a informação da envolvente: Ninguém que saber se existe mesmo uma Rua do Forno de Gaz a uns metros da sinagoga de Belmonte, nem porque se escreve "Gaz" e não "Gás".

E agora vou ali postar mais um da série "O que vês da tua janela, Pipoco?",  aposto em dez vezes mais comentários do que neste post, apesar de ambos terem sido publicados ao mesmo tempo.

17 janeiro 2016

Coisas que as pessoas não saberiam se eu cá não estivesse

A tripulação do Funchal-Porto das três da tarde é a mesma que a do Porto-Lisboa das cinco e meia.

Há uma Rua do Forno de Gaz a menos de cem metros da sinagoga de Belmonte.

O arroz de lebre do restaurante dentro das muralhas de Sortelha é bastante superior ao guisado de javali.

As almofadas muito altas dão-me mau sono.

Que vês da tua janela, Pipoco?


14 janeiro 2016

Alguém sabe ao certo?

Afinal, o que aconteceu ao Major Tom?

13 janeiro 2016

Mascarenhas de Athayde

No tempo em que eu ainda não sabia que cheirava a Spanish Riding School no final das tardes de verão a jogar à bola, já o Mascarenhas de Athayde usava Drakkar Noir, uma categoria, de cada vez que eu, um aceitável extremo-direito, passava como o vento pelo Mascarenhas de Athayde, defesa-esquerdo, aspirava aquele perfume, na janela temporal que decorria entre eu saltar por cima do Mascarenhas de Athayde, que entrava sempre às canelas, e fintar o Jacinto, que era o guarda redes e demorava muito tempo a mexer-se para um guarda-redes que quisesse realmente evitar que eu lhe marcasse golos.

Do Drakkar Noir o Mascarenhas de Athayde passou para o Tabac, isto até um dia a Isabel, que naquele tempo era o troféu maior e entretanto transformou-se nesse tipo de mulher que usa fato de treino ao fim de semana e tem um carro coreano, disse ao Mascarenhas de Athayde a sucessão de palavras "Cheiras ao meu pai", o que implicou que o Mascarenhas de Athayde voltasse ao bom velho Drakkar Noir, precisamente quando eu me começava a habituar ao novo cheiro do movimento "aí vem ele de carrinho, salta Pipoco, finta o gordo e lá vai disto".

Almocei hoje com o Mascarenhas de Athayde, o ano novo tem destas coisas dos reencontros, senti-lhe a falta do Drakkar Noir e pensei cá para comigo que um homem que se reformou antes dos quarenta anos porque ficou com marcas de stress por ter ganho muito dinheiro a investir o dinheiro dos outros, talvez merecesse melhor que deixar um odor a CK One. 

Dez coisas que eu não sei e uma que vou saber hoje

Jogar para perder, cozinhar sushi, passar camisas a ferro, dormir mais de seis horas, a capital do Lesotho, fingir que não vi, fazer snowboard, como acaba Ulisses, o que leva uma mulher a dizer que não quando quer dizer que sim, porque é que o rei de copas não tem bigode e os outros têm, como se conduz um Aston Martin.

12 janeiro 2016

Eu votaria no candidato a Presidente cá disto...

...que tivesse a voz da Marisa Matias e uma boina como a do Marcelo, que tivesse melhores dentes que Tino de Rans e melhor cabelo que Paulo Morais, que tivesse um sobretudo igual ao do Henrique Neto e o gosto para escolher óculos do Jorge Sequeira, que tivesse uma namorada igual à do Edgar Silva e o ar de tia que dá boas prendas no Natal da Maria de Belém, que tivesse o ar de mauzão do Cândido Ferreira e a capacidade de dizer coisas que não significam nada que tem Sampaio da Nóvoa.

(A Palmier é que podia fazer um desenho com um candidato destes, só para eu ver como ficava...)

Dupond & Dupont



11 janeiro 2016

As coisas são como são

Entretanto, na FNAC do Colombo já está esgotado o último do Bowie e os CDs menores que ainda ontem estavam na secção PromoFNAC a cinco euros passaram para a estante dos destaques a treze euros e noventa cêntimos. A música ambiente varia entre Let's Dance e China Girl.

Ainda há alguns exemplares do Charlie Hebdo no escaparate de entrada.

Estavas tu a dormir...

...e eu a aviar o último Roth e a pensar que já lhe li melhor, aconteceu o mesmo com o último Umberto Eco, estavas tu a dormir e eu a achar que era capaz de não ser má ideia dar xeque-mate ao alemão com quem estou a jogar xadrez há duas semanas, aconteceu que durante a noite ele preparou uma jogada que ainda hoje me fará perder o segundo cavalo, estavas tu a dormir e apeteceu-me trabalhar na apresentação que só tem que estar pronta daqui a dois dias, às vezes abro uma excepção e não trabalho em cima dos prazos, estavas tu a dormir e não me pareceu desadequado ir apanhar laranjas, estava a chover e eu fiquei ali de olhos fechados e braços abertos a receber a chuva, estavas tu a dormir e eu não.

Ground control to Major Bowie

Oh...

10 janeiro 2016

Melchior de Meyrelles

O Melchior de Meyrelles investia demasiado nos preliminares. Demorava-se nos encómios, pagava camarão com caviar Beluga no Gambrinus sem ser preciso, adornava as palavras e, quando elas antecipavam que estava para breve o momento em que o Melchior de Meyrelles finalmente as levaria a ver a vista nocturna de Lisboa a partir de uma suite no Sheraton, ele arranjava maneira de sugerir uma última taça de champanhe no Casino. Esforçava-se por parecer um verdadeiro cavalheiro, perguntando-lhes sobre as coisas delas, mostrando-se um homem sensível e sem pressas de chegar a lugar nenhum. Elas não tardavam a enfadar-se, primeiro um bocejo ligeiro, depois um olhar de relance para o relógio e, sem glória, o Melchior de Meyrelles acabava sempre por ir desacompanhado para Cascais a comparar-se àqueles jogadores da bola cheios de floreados à boca da baliza, sempre com mais uma finta desnecessária, acabando por falhar o golo certo.

Quem acabava por ganhar a noite era o Fábio Vanderlei, o motorista, que não conseguia dizer "batata" duas vezes seguidas.

09 janeiro 2016

Moral da história?

Por circunstâncias várias e nefastas que não pretendo escalpelizar por incluírem doenças súbitas de indivíduos que ainda esta madrugada estavam como o aço, amigos com quem sempre falei a desoras subitamente incontactáveis e motivos de força maior alegados em última hora, vi-me na contingência de acompanhar cinco simpáticas meninas ao espectáculo da Pipi que passou hoje no Villaret pelas onze horas da madrugada. Boa cara, que as meninas mereciam que eu fosse o único homem adulto naquela sala, isto se excluirmos os tipos do som e das luzes (são sempre homens, há que ver isto) e o próprio pai da Pipi, um temível capitão pirata (aqui a quota está mais equilibrada desde que a Cuca se meteu ao caminho).

À minha frente, uns meninos e meninas de um colégio qualquer ocupavam três filas e confraternizavam como só os meninos e meninas da faixa etária seis-oito anos sabem confraternizar, em sossego e ordem, discutindo em voz baixa a informação prévia que tinham recolhido sobre o espectáculo, isto até que uma menina com óculos de lentes redondas começou a chorar porque um dos meninos a magoou porque disse que ela vinha vestida de pijama, isto soube eu porque as outras meninas vieram confrontar o facínora e houve mesmo uma menina de cabelos compridos e laço maior que as outras meninas que apontou para o desgraçado e lhe disse que ele era um bruto e que agora a amiguinha estava a chorar, até que o rapazinho foi pedir desculpa à menina dos óculos redondos e disse que estava a brincar que não parecia nada que ela tinha vindo de pijama à festa, e repetiu até que a menina dos óculos redondos acreditou no menino e deixou, finalmente, de chorar.

Eu fiquei a pensar que é melhor que a menina dos óculos redondos nunca mande em coisas importantes porque a verdade é que aquela roupinha que ela trazia vestida parecia mesmo um sacana de um pijama.

Moral da história?

08 janeiro 2016

Sonhei com Lamborghinis roxos

Eu, que sei porque é que se fala no gato de Schopenhauer, que sei a Carmen de Ravel de trás para a frente, que me comovo com a beleza da harpa na Patetica de Beethoven, que sei que no final do "Os gatos não têm vertigens" a Eunice Muñoz acaba por se afeiçoar ao miúdo, que sei que Tertuliano Máximo Afonso e Daniel Santa-Clara são os sósias de "As intermitências da morte", que sei de cor os homónimos de Pessoa, não faço a mínima de quais foram os critérios para o José Rodrigues dos Santos ganhar o prémio Saramago este ano.

07 janeiro 2016

Pipoco, modo reflexivo

O melhor indicador do nível de civilização de um povo é a forma como os seus taxistas se comportam no trânsito em dias de chuva.

Coisas dos blogs

Não há melhor amigo para a caixa de comentários que a escrita inteligente. Uma palavra errada vale três comentários adicionais a justificar a vida própria do tal telefone, que nos troca as palavras.

Escreve um post à mesma hora durante seis dias seguidos. Ao sétimo dia não publiques rigorosamente nada e diverte-te com o pavloviano pico de audiências às oito e meia.

06 janeiro 2016

Igualdade, já!

O Lourenço levanta ali naquilo lá dele um tema de valor. A coisa vai aquecer na caixa de comentários, evidentemente. Eu sei disto porque eu próprio irei lá debater.

A questão que o Lourenço não levanta, porque aquilo lá dele é uma casa séria, é que nós, homens também temos direito à indignação. Devemos por os olhos nesta luta das mulheres que não têm jeito para a banda desenhada e, apesar disso, arranjaram maneira de entrar na lista de finalistas (uma lista mais esticadinha, evidentemente) e iniciarmos aqui e agora a luta, justíssima, ninguém fala nestas coisas mas felizmente eu estou cá, disponível para levar a cabo as lutas que realmente valem a pena, que nos fazem evoluir enquanto civilização em particular e enquanto melhores pessoas em geral.

É pois chegada a hora de questionarmos porque somos nós, homens, segregados quando se trata de eleger os melhores blogs de roupas? Porque razão estamos sempre fora das listas de convidados para as noites de lojas abertas na Rua Castilho? Porque é que as marcas de roupa de criança não se lembram de nós para divulgar aquelas coisas com laços nem concebem que nós gostemos de andar vestidos com roupa igual à nos nossos filhos? Nós também os vestimos, caramba. Com calções curtos em dia de chuva e com cores que não combinam muito bem, é certo. Mas é isso razão para sermos ostracizados pela Zara Kids? Não seria pedagógico, para além de promover a igualdade de género, recebemos uns batons para sortearmos pelos nossos leitores?

Homens dos blogs, acção, já! É chegada a hora! Todos para a rua, manifestemo-nos!

(e eu à chuva aqui no Bonfim...)

É mais isto, Tio Pipoco...

Orienta-te. Aprende a jogar poker. E a falar inglês. Vai ajudar-te a perceber melhor as camones na esplanada. Não te comprometas com nada. A não ser pagar as quotas do glorioso. Lembra-te de  que contigo a coisa está mais ou menos controlada. Não peças factura, esses cabrões nunca vão saber onde gastas o teu. Não telefones, manda mensagem pelo face. Pergunta primeiro quanto é que pagam. Não aceites qualquer coisa, tens a tua dignidade. Mais vale ficar em casa. Sê gentil com os mais velhos. Dão melhores gorjetas. Luta por causas. Faz like naquilo dos refugiados. Informa-te. A Bola tem uma página só com notícias do mundo. Viaja. Conhece o mundo. Benidorm e Ibiza. Usa as mãos enquanto beijas. Tem uma opinião própria, sê original. Quando te perguntarem CR7 ou Messi, responde Neymar. Ou Jonas. Não votes, os gajos são todos iguais. Ou então vota no Tino de Rans, é um voto de protesto e o gajo tem piada. Se te enganarem, não reclames por escrito essas merdas não dão em nada. Se pensares, não digas. Se disseres, não escrevas. Se escreveres, não assines.

Mais do mesmo

Endireita as costas. Não uses gravatas com riscas quando usas camisas com riscas. A não ser que te apeteça. Come fruta com casca. Lê pelo menos um livro de Júlio Verne. E outro de Saint-Exupery. Mas não o Principezinho. Vai pelas escadas. Não chegues atrasado. Não digas a uma mulher que a amas se isso não for rigorosamente verdade. Ainda que isso te custe uma noite de bom sexo. Ouve as pessoas, mesmo as que não te te acham especial. Ouve principalmente essas. Não comas pipocas no cinema. Conduz do lado certo da estrada. Sim, o lado direito. Joga na roleta. Se gostares muito, não jogues mais. Guarda os teus discos de vinil, mais tarde ou mais cedo voltarão a usar-se. Tal qual as gravatas. Aprende qual é o copo de água e o copo de vinho. Quando souberes, aprende qual é o copo de vinho tinto e o de vinho branco. Vai ser-te útil. Usa as palavras com parcimónia. Ri alto. Desliga o telemóvel ao fim de semana. E nas férias. E às refeições. E no cinema. E sempre que puderes. Beija de olhos fechados. Faz uma coisa de cada vez. Ninguém sabe fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ninguém. Resolve um problema por dia. Mas resolve mesmo. Ao fim de um ano resolveste trezentos e sessenta e cinco problemas. Trezentos e sessenta e seis se for este ano. Aprecia Fellini e Bergman. Abraça os teus filhos. Mesmo que sejam mais altos do que tu. Aprende a usar o poder. Nunca o uses. Se não estás a ver o problema, talvez o problema sejas tu. Lê os posts até ao fim. Principalmente. Estes. Que parecem mesmo. Especiais. Intimistas. Mas qualquer um. É capaz de os fazer. Se calhar. Já chega. Já se percebeu. A ideia.

05 janeiro 2016

Ruben Patrick pergunta

Até quando conseguirá o Tio Pipoco publicar lamechices?

Se eu fosse rico...

... mas rico mesmo a sério, não é isto de beber  Barca Velha uma vez por outra e Pera Manca quando os tempos recomendam frugalidade, não havia de fazer voltas ao mundo nem comprar um ou dois Aston Martin, nem sequer havia de jogar no casino de Monte Carlo ou ter casa num bairro caro de Paris.

Se eu fosse rico, mas rico mesmo a sério, comprava uma cabana de madeira junto a um lago na Noruega e havia de passar ali o dia a pescar e a escrever e a ler e a cozinhar e a não pensar em nada.

Também podia ser na Ilha das Flores.

Que livro se dá a ler a um homem que nunca leu um livro?

Ontem conheci um homem que disse que nunca leu um livro. Tirando os livros do curso, ressalvou. Algumas pessoas não acharam estranho que aquele homem nunca tivesse lido um livro, afinal de contas aquele homem manda em muitas coisas e as pessoas tendem a não achar estranho o que dizem os homens que mandam em muitas coisas. O meu gesto reflexo foi afastar-me daquele homem que nunca leu um livro, depois tive pena dele, uma espécie de compaixão igual à que sinto pelas velhinhas com ar perdido no aeroporto de Madrid que não encontram a porta do voo para Ibiza. Perguntei-lhe porquê e o homem que nunca leu um livro estranhou, os homens que mandam em muitas coisas tendem a estranhar quando lhes perguntam porquê, ainda assim respondeu-me "porque não tenho tempo", acho que só me respondeu  por achar que eu também mando em muitas coisas. Menos do que ele, evidentemente. Cismei que aquele homem havia de ler um livro escolhido por mim, se as mulheres acham que podem mudar os homens sem moral sexual, eu também tenho cá os meus desafios. Terei que ser cuidadoso, uma vez uma mulher disse-me que não gostava de ler e eu disse-lhe que a ajudava e tínhamos que começar pelo princípio e ofereci-lhe um desses livros que ajudam a formar as primeiras sílabas, tinha o Mickey na capa e tudo, e ela não apreciou o meu refinado sentido de humor e eu lamentei a minha imprudência porque ela tinha o melhor par de mamas do distrito de Lisboa. Quiçá de Setúbal.

04 janeiro 2016

Tomara que chova

Ontem fui correr à chuva. Calcei os meus ténis amarelos e fui correr à chuva. É uma das vantagens de se ser adulto, a minha mãe nunca me deixava correr à chuva. Claro que não disse à minha mãe que tinha corrido à chuva, não vale a pena preocuparmos as mães com coisas que sabemos que elas haviam de não gostar. Se a minha mãe soubesse, recomendaria prudência, basta que eu passe com o carro pelas poças de água e lá está ela a recomendar prudência, nunca se sabe se a poça é muito funda. Eu só passo com o carro pelas poças de água se não houver pessoas perto da poça. Nunca me preocupei muito com a profundidade da poça. Acho que as mães não gostam que andemos à chuva. Já com o meu pai, a coisa é diferente. Quando íamos à bola, às vezes chovia. O meu pai dizia que, se apanhava chuva quando ia trabalhar, podia muito bem apanhar chuva quando me levava à bola. Eu concordava, aquele era o tempo em que eu concordava com o meu pai, tal como este é o tempo em que eu concordo outra vez com o meu pai. Quando saíamos de Alvalade vínhamos molhados, no estádio antigo chovia em cima das pessoas. Podia-se levar chapéus de chuva, embora eu e o meu pai o deixássemos sempre no carro. Quando saíamos muito molhados demorávamos mais na roulotte das bifanas e ligávamos o ar quente, a chauffage, no máximo, para chegarmos a casa secos. A minha mãe fingia que acreditava que não nos tínhamos molhado e era por isso que nos dávamos bem.

Ontem a minha mãe ligou-me quando eu estava a sair do concerto de ano novo. Não me lembrei que estava a chover e atendi. As mães sabem sempre os dias em que apanhámos chuva.

E foi assim que tudo se passou

O tipo do bar explicou-lhe, com palavras sábias e avisadas, que a coisa levava gin. E vodka. E tequilla. Ela fez sinal para que o tipo do bar lhe servisse a coisa, enquanto dançava. Eu fiquei por ali mais um pedaço, enquanto a música era igual à do Jamaica. Depois perdi-a de vista.

No dia seguinte cruzei-me com ela, é difícil não meter conversa com quem toma o pequeno-almoço às oito e meia da manhã no primeiro dia do ano. Disse.me que a noite foi aziaga. Que tomou um chá preto antes de se deitar. E o chá caiu-lhe mal. Disse ela.

03 janeiro 2016

E una bottiglia di rum...

Do nada, agitando-me estes dias de modorra que decidi passar ao largo do porto de Zurique, chegam-me más novas do Golfo da Biscaia. Os ventos dizem-me que façanhudos piratas liderados por Cuca, a Pirata, essa inviolável donzela que muitos bravos dos mares salgados, mais sábios do que eu, juram ser apenas uma lenda, Cuca, a Pirata, dizia eu, bate-se com galhardia com um conjunto de amazonas, trazidas pela corrente da Sibéria e arrastadas pelas forças favoráveis do Suão, que pretendem surripar-lhe Andramhir, esse valoroso mestre da culinária que sabe enfeitar a travessa e vai comprar uma panela de pressão para ver se cozinha mais depressa a vaca Mu-Mu. O tempo é escasso e desta Zurique, terra de mar salgado, só zarpam navios de grande calado e toda a gente sabe que calado não é pronome que me assente, de maneiras que a situação se me afigura bastante desfigurada. Mas cá vou uma vez mais promover a concórdia, ciente da tarefa quase impossível mas portador de informação confidencial, se vos contasse teria que vos matar a seguir: Andramhir está na minha cozinha, confeccionando lautas iguarias que havemos de acompanhar com vinhos romenos. E Mu-Mu, a vaca, é uma impossibilidade estatística, toda a gente sabe que nos blogs não há vacas.

(e agora vou ver se percebo alguma coisa do que já se passou nesta história, não vá eu ficar mal no retrato, que é coisa que ninguém quer, perguntem a quem quiserem...)

02 janeiro 2016

À atenção do The Literary Man Hotel

Na estante à esquerda de quem entra, a biografia de Churchill está encostada ao Mein Kampf.

Fui eu.

(sim, o tipo que pediu um gin com gelo que não tivesse frutas lá dentro...)

Zapping entre a Sporting TV e a RTP 1

Em nome da nossa memória colectiva, alguém tire o Herman da minha televisão.

Agora.

Pipoco também toma decisões de ano novo

Todos os que seguem atentamente a minha obra têm conhecimento da minha relutância em tomar decisões de ano novo, com excepção da única que venho religiosamente cumprindo há muitos anos, sem falhas, aguentando a decisão até ao último segundo do ano, imperturbável, resistindo às dificuldades, enfim, com tenacidade.

Sim, mais uma vez a minha única decisão para o ano novo foi ser imortal.

Pipoco partilha com o vasto auditório o seu jantar de fim de ano