30 novembro 2015

De onde se fala no calendário Pirelli sem falar na Yoko Ono

O calendário Pirelli, essa instituição, diz que a ideia deste ano é mostrar as mulheres tal como elas são.

Nenhuma mulher aprecia que a vejamos tal qual ela é.

29 novembro 2015

Senta-te aqui, Ruben Patrick

O problema, Ruben Patrick, é que um destes dias lhe terás dito que haviam de combinar ir jantar (mesmo estas escassas e vãs palavras tu não saberás exactamente se as chegaste a pronunciar e, mesmo que as tenhas pronunciado, jurarás que não eram dirigidas a ninguém em particular).

A partir desse momento aziago, Ruben Patrick, ela postou-se defronte do telemóvel e esperou, ela foi de propósito à joalharia experimentar uma aliança, só para ter a certeza de que  o modelo lhe assentava bem, ela passou os olhos por esses blogs de mulheres que colocam fotografias dos filhos, só para saber se Caetana e Sebastião ainda eram escolhas de valor, ela dormiu com o telemóvel, não fosses tu lembrar-te do convite a meio da madrugada, ela trocou de telemóvel, não fosse aquele modelo estar incapacitado para receber mensagens a partir do teu número (que tu, avisadamente, não partilhaste com ela), ela disse de ti o que Maomé não ousou dizer do toucinho, ela aconselhou-se junto das melhores amigas (que, só com um franzir de sobrolho, lhe fizeram temer o pior), ela chamou-te traidor e espalhou aos quatro ventos quão velhaco tu eras, ela tomou comprimidos para dormir e gotas para as olheiras, ela só agora começa a recuperar e ainda só passaram três dias.

E tu, malvado, assistias ao jogo da bola e agasalhavas-te com o teu cachecol que diz "Campeão Nacional 1999-2000", tu, infame, bebeste minis nas roulottes, tu, insensível, esqueceste-te do telemóvel em casa, tu, meu trapaceiro, viajaste em trabalho e não te focaste em mais nada.

E três dias depois, quando um amigo comum te comunicou que a Isabelinha desabafou com o mundo quão minúsculo era uma determinada parte do teu corpo, tu, meu insensível, perguntaste: "Quem é a Isabelinha?".

Os problemas das mulheres

Acreditarem que, muitos anos depois, um homem pensa delas o pensava muitos anos antes.

28 novembro 2015

É sábado, não está cá ninguém para ler isto

Desejar uma bicicleta, ter uma bicicleta, o meu avô a contar-me histórias aos domingos de manhã, as histórias do meu avô começarem sempre por "Numa ocasião...", uma bata branca e uma escola só de rapazes, a minha mãe levar-me à escola no primeiro dia, eu a ler livros de "Os Cinco" numa pernada de uma carvalha nas férias grandes, assistir ao assalto ao banco e fugir com o meu melhor amigo, jogar à bola na rua, a minha avó a pedir-me para lhe escrever cartas para as amigas a e metade do texto ser sempre o mesmo em todas as cartas, "muito estimo que te encontre de boa saúde que nós cá vamos indo na forma do costume", gostar de José Cid e os meus pais rirem-se disso, o meu tio a oferecer-me Eça no dia dos meus dez anos, eu detestar Eça, trabalhar nas férias enquanto os meus amigos iam para a praia de barco, David Bowie, Erasmus quando ninguém sabia o que era Erasmus, ganhar dinheiro durante um ano e gastá-lo todo num mês a viajar de comboio, uma vez, duas vezes, sete vezes, escolher as noites para viajar só para poupar o dinheiro, saber em cima da hora que teria que abrir um baile de gala e não saber dançar valsa, não vacilar porque eu era o presidente da associação, Paris, subir os Alpes em todos os países onde há Alpes, o Gerês, Bolero de Ravel, ter a certeza de que ela seria o amor da minha vida porque partilhámos o Memorial do Convento numa viagem de comboio até à Grécia, Amália Rodrigues, ir a uma entrevista para o meu primeiro emprego numa tarde e começar a trabalhar na manhã seguinte, contar que tinha sido escolhido e o meu pai perguntar-me quanto ia ganhar e eu não saber porque não perguntei, o meu primeiro ordenado ser três vezes mais do que aquilo que eu podia esperar nos meus melhores sonhos, Aznavour, ter a certeza que ela era a mulher da minha vida porque nos expulsaram da Turquia, esquiar pela primeira vez e estar sempre a cair e ser o pior da turma, ao fim do segundo dia alguém me avisar que havia folga nas fixações dos esquis e eu passar a ser o melhor da turma, o cheiro a lenha na rua de cada vez que ia no Inverno à aldeia, ter os mesmos amigos há muitos anos, Smiths e The Cure, achar que ela seria o amor da minha vida porque me ganhou um jogo de snooker depois de me bater aos pontos numa discussão e só nos tínhamos conhecido havia um par de horas, eu a achar que a impressionava por ir para dentro de um balcão de um bar no Algarve e preparar a minha própria bebida, ela a dizer-me que tinha sido patético, eu a pensar que nunca ninguém tinha dito a palavra patético referindo-se a mim, eu a conduzir um Alfa-Romeo, Bach, eu a achar que a felicidade estava numa descida de uma pista de esqui, eu a achar que a felicidade estava numa noite de gin e charutos e amigos, eu a achar que a felicidade estava em correr com um cão preto ao lado, eu a achar que a felicidade estava em conquistar mulheres demasiado bonitas, eu a achar que a felicidade estava em Puccini e Saramago e Cardoso Pires e Tarantino e Pessoa e Roth e Brel, eu a escrever um post que parece mesmo que é um bom post e a não escrever nada sobre aquilo que é realmente importante

Há quanto tempo não tínhamos aqui um retrato de sapatos?


A crónica de hoje da Clara Ferreira Alves...

...é uma crónica em bom.

De certeza que não se tornará viral.

26 novembro 2015

Já se nota a diferença do novo governo

O Sporting está a ganhar aos Russos.

Ah, Pipoco, gosto tanto quando escreve com a alma...

Desde que Ulisses, o meu cão Ulisses, morreu, não me tem apetecido correr, aproveito o período entre as seis e as sete e meia da manhã para ler ou para ouvir jazz e não tem sido má escolha.

Hoje apeteceu-me correr, nem sequer tinha a desculpa de estar demasiado frio ou demasiado vento. Para lá, corri com uma lua cheia no horizonte. De volta a casa, com uma brisa leve a empurrar-me, tinha o nascer do sol à minha frente, uma coisa dessas que só se podem ver nos filmes de livros de Nicholas Sparks.

Não sei se há um Deus dos cães, se houver tenho a certeza que será melhor do que esses Deuses dos Homens que por aí andam, se houver, dizia eu, é bem capaz de ter estado comigo nesta corrida perfeita.

23 novembro 2015

Danos colaterais

A minha mãe telefona-me agora praticamente todos os dias. Não esconde que deseja saber se eu cheguei bem, que isto nos aviões anda tão perigoso... (acabamos a falar de coisas cá nossas).

O meu pai também me telefona, nos dias em que não me telefona a minha mãe. Para falar de bola e de como os aviámos mais uma vez e de coisas de homens. (acabamos a falar de como isto nos aviões anda tão perigoso, ele a querer saber, só por saber, evidentemente, para onde vou voar amanhã).

Servirá para confundir anónimos mauzões?


Teremos sempre Paris?

Não vale de muito pensar que teremos sempre Paris porque já não tínhamos Paris há muito, em Paris já não há quem saia à rua de marinière e boina, já ninguém fuma Gauloises nem bebe Pernod depois do almoço, as mulheres já descobriram a magia da depliação e os homens a do banho matinal, o Sam já não toca piano nem as bailarinas do Moulin Rouge são o que eram.

(o problema é que os restaurantes da moda nunca se preocuparam em servir couscus com redução de cassis em cama de camembert, nem o Fauchon deu a conhecer vinhos argelinos, o senhor Mohammed sempre preferiu ir na sua Ford Transit a Marraqueche passar as suas férias de Agosto em vez de arriscar uma ida à praia de Biarritz, e Madame Sophie nunca convidou para os anos dos filhos os amiguinhos que não fossem louros)

22 novembro 2015

Tremei, infiéis!

Ah, sarracenos façanhudos, podeis vir com os vossos cintos de explosivos e a vossa fixação nas setenta virgens, podeis vir descarregar as vossas Kalashnikov nas esplanadas onde degustamos o nosso gin de fim de tarde, podeis anunciar ataques a cidades onde não iremos porque nunca se sabe, que nós, destemidos e organizados, cá vos esperamos com as nossas hashtag #je suis Paris, com os nossos cartazes "Stop terrorism!" e com as nossas manifestações contra refugiados (porque nós sabemos bem que vocês chegam infiltrados, pensais que somos tolos?).

(e temos os do Anonymous do nosso lado, não pensem que não estamos preparados...)

Pipoco tem um segredo para vos contar, aproximai-vos

Eu devia apreciar um treinador que ganha três vezes seguidas ao Benfica. Mas não.

21 novembro 2015

O problema é que confiamos, Ruben Patrick.

Confiamos quando a assistente de bordo nos informa que por debaixo do nosso assento está um colete salva-vidas, sem nunca o termos verificado nem podermos dizer que conhecemos alguém que alguma vez o tenha verificado e que sim, estava lá um salva-vidas.

Confiamos quando nos dizem que o leite nos faz mal aos interiores, faz sentido sim senhor, afinal somos o único mamífero que bebe leite em adulto (e também nisto acreditamos, pois se o disseram na televisão...), sem nos lembrarmos do que nos disseram antes, que não há coisinha melhor para a saúde que um copinho de leite antes de adormecermos.

Confiamos na devolução de impostos, faz sentido sim senhor, nota-se perfeitamente que isto anda melhor, não há quem não o note, também isto o disseram na televisão uns senhores que sabiam do que falavam, estavam de fato e gravata, via-se logo que eram pessoas com estudos, sem cuidarmos que nunca nos devolveram o que quer que fosse, a coisa estava sempre bastante pior do que aquilo que contavam e assim não há condições, é esperar por mais tarde, a ver o que se arranja.

Confiamos que o telefone que queríamos está mais barato, agora já o podemos comprar a prestações com zero por cento de juros, o cartaz não mente, o preço antigo, o que tem um xis por cima é o dobro do preço que nós, atentos e cheios de sorte, havemos de pagar.

Eu também confio, Ruben Patrick, confio que havemos de ganhar o jogo de daqui a nada e que, se houver um desses malandros barbudos e de burca, ou lá o que é, a explodir-se no estádio há-de ser na bancada do outro lado da minha.

14 novembro 2015

E assim foi a minha semana


Antes de desatarmos todos a proclamar "je suis Paris"

Isto não aconteceu em França, aconteceu-nos a nós e à nossa maneira de viver. Isto é connosco, os que podemos escolher se nos apetece ou não crer num Deus e, escolhendo crer, podermos optar pelo Deus que mais nos convém, isto é connosco, que escolhemos gastar o nosso dinheiro em livros, em todos os livros, a conhecer outros mundos ou a dançar tango, olhando nos olhos as mulheres com quem dançamos. Isto é connosco, os que não temos medo do que ainda não conhecemos nem dos que não pensam como nós ou não fazem como nós, os que aceitamos as diferenças porque serão sempre as diferenças que nos inspiram a avançar, mais sábios e mais capazes, os que não têm medo de véus nem de barbas compridas nem de livros estranhos nem de quem nos vem tirar os trabalhos que nunca quisemos ter, os que não precisámos de Paris para saber de que fogem os refugiados.

12 novembro 2015

As coisas são como são

Houve um tempo em que podíamos escrever num blog, no nosso blog, a tristeza que é já não podermos ir correr com o nosso cão, podíamos abrir o coração e dizer exactamente isso, que sentimos a falta do nosso cão correndo ao lado, língua de fora, orelhas contra o vento, fizesse chuva ou fizesse sol. Nesse tempo, em que podíamos escrever sobre o desânimo que é ter que enterrar outro cão por baixo do sobreiro grande, podíamos contar com o respeito de quem nos lia, uns seriam tranquilamente silenciosos, outros seriam solidários com a nossa tristeza, outros ainda, diriam que também já passaram pela tristeza de não ter um cão a saltar à sua volta quando chegavam a casa, eu havia de lhes dizer que o meu cão sabia que só podia saltar-me para o peito à chegada a casa, quando já não fazia diferença sujar-me a camisa branca.

Este é o tempo em que pensamos duas vezes antes de baixar a guarda e dizer coisas cá nossas.

09 novembro 2015

O essencial, Ruben Patrick, é que nunca te aconteça confundir uma mulher bonita com uma mulher fatal

As mulheres bonitas assentam bem a qualquer um e não dão complicações de maior. Um restaurante da moda, um ou outro fim de semana de surpresa em Veneza ou em Paris, dois pares de sapatos por mês e alguma vida social será o suficiente para que uma mulher bonita se sinta valorizada. Com o tempo aprenderás a gostar dela e das suas pequenas idiossincrasias.
 
A mulher fatal é diferente. No dia em que tenhas o privilégio de deparar com uma mulher fatal, sentirás o chão a fugir-te, as tuas defesas descerão para níveis mínimos, farás o que ela queira que tu faças (e serão tantos os trabalhos, tantas as dúvidas de que nunca serás digno dela), há-de parecer-te que não tiveste vida antes de saberes dela, o tempo em que ela estiver fora do teu campo de visão há-de parecer-te uma eternidade, os teus saberes parecerão inúteis.

Se algum dia tiveres diante de ti uma mulher fatal e bonita, faz o que que tem que ser feito e não a deixes escapar.

08 novembro 2015

Carta aberta a Cuca, a Pirata

Cuca, sua pirata, venho dar-te novas das minhas tentativas para tirar o Tio lá dos mambos dele, dos chás e mantas de pura lã virgem e cenas de filatelia e comprimidos de vitamina C. A cena é que o Tio anda meio taciturno, a idade pesa-lhe, o andar arrasta-se e nem aquelas músicas lá dele, o Aznavour e o Mozart o tiram daquele torpor. Tem visto filmes a preto e branco e acena a cabeça para cima e para baixo enquanto sorri um desses sorrisos beatíficos e murmura que aquilo é que eram tempos, isto até começar a correr em volta da sala, com os nervos, com as mãos nos ouvidos e a gritar "AS LUZES, AS LUZES, ALGUÉM APAGUE AS LUZES!!!".

Faço o que posso e posso pouco. Às vezes ele fala-me dos tempos de glória e mostra-me os posts dos primeiros tempos e os de agora, depois vemos o "Nove semanas e meia" e a seguir o "The Wrestler", acho que ele se revê muito no processo do Mickey Rourke, depois tenho que o acalmar e sugiro um  Hennessy e a coisa está tão perdida que o Tio me serve também uma dose só um niquinho inferior à dele.

Preciso de ajuda, de ideias. Passo aqui as noites, tentando animá-lo com Missas Solemnis e Requiems, com Lobo Antunes e Ingmar Bergman e nada, porfia naquilo, naquela penumbra. A Cátia Vanessa sente a minha falta, felizmente o Sandro Fábio, o meu melhor amigo, tem dado tamto apoio que agora a Cátia Vanessa até me incentiva a passar a noite com o Tio, diz-me lá Cuca se não tenho aqui uma miúda de valor.

Combinamos um café, ou quê?

Post em tempo real

Por ter acordado cedo, acabei de despachar de seguida "Lolita", na versão de Kubrick e "Amor de Perdição" na versão de António Lopes Ribeiro, dois filmes a preto e branco, duas adaptações de livros razoáveis, duas tipologias de mulher, a submissa e a manipuladora, ambas detestáveis, fiquei a pensar qual delas gostaria de ter como companhia numa ilha deserta depois de um naufrágio, talvez a manipuladora se ajeitasse melhor a deitar coqueiros abaixo para construirmos uma canoa e sair dali.

06 novembro 2015

Mantinhas por cima dos joelhos e chá de camomila

Às vezes olho para a minha lista de blogs e penso no que estarei a perder por não arriscar ler outros que não aqueles, olho para minha lista de rádios memorizadas e penso que devia voltar a ouvir a Oasis e a Marginal, olho para a minha agenda e penso que talvez não fosse má ideia testar outros restaurantes que aqueles onde me tratam pelo nome, olho para as músicas que tenho gravadas para correr e penso que talvez já tenham gravado coisas depois dos bons tempos dos U2 e dos Prefab Sprout.

05 novembro 2015

Post em tempo real

Não devia ter assumido tão cedo que o Sporting já não me aborrece...

Tenho uma amiga...

Ela é boa mãe, claro que sim, ensina os filhos a comer com os talheres certos, leva-os à catequese e às aulas de guitarra. Ensinou-lhes as primeiras contas e adormece-os com histórias de livros antigos, antes de lhes aconchegar os cobertores e de os beijar na testa.

Ensinou-os a respeitar os outros meninos. Aquele é o Carlinhos (mas, mãe, todos lhes chamam o badocha...), não, é o Carlinhos, é esse o nome dele, é uma grande maldade chamar-lhe "badocha", além de ser muito desagradável relevar características físicas dos meninos. Aquela é a Martinha (mas, mãe, todos lhes chamam a Maria maluca...), não, é a Martinha, é esse o nome dela, devemos convidá-la para as festas de anos (mas, mãe, ninguém convida, ela é estranha...), convidaremos nós, o menino verá que ela acabará por se integrar, temos de lhe dar tempo, verá que vale a pena conhecer pessoas diferentes.

E um dia, depois da missa das onze, enquanto a minha amiga tomava café e emprestava o seu telemóvel às crianças, para as entreter, as crianças, sempre tão pertinentes, sempre com perguntas tão deslocadas, perguntaram-lhe, de olhos arregalados: "Mãe, tu fazes bullying aos outros meninos dos blogs?...".

04 novembro 2015

Bizarra Locomotiva

Os que acompanham diariamente as extraordinárias incidências relatadas neste blog sabem bem que a o único aborrecimento que eu tenho na vida são as situações derivadas do Sporting. Com esta acalmia de incidências disto de coisas aborrecidas vindas daquele quadrante, cuidava eu que a minha vida seria, enfim, uma vida livre de aborrecimentos.

Mas o universo, esse maçador, encarrega-se de equilibrar tudo, não me lembro agora se é a segunda ou a terceira lei da termodinâmica, e dou comigo a aborrecer-me por uma outra situação, coisas dos efeitos da pirâmide de Maslow, ide ver, uma situação que estava obscurecida e remetida a papel secundário por efeito da tormenta que era aquilo dos sportinguianos aborrecimentos.

(ainda cá estais? caramba, sois dos bons, dos que aguentam firme...).

De maneiras que dou agora por mim a aborrecer-me com o facto de me recordar com assombrosa precisão de letras de músicas de José Cid, números de telefone fixo de pessoas que já não existem, nomes de bandas que vi tocar no Rock Rendez-Vous, títulos de livros de Lobsang Rampa,enfim, coisas com este mesmo nível de utilidade prática. Por outro lado, escapam-se informações úteis como as marcas de bom vinho que bebi e que não assentei num papelinho, nomes de pessoas que seria uma vantagem competitiva não olvidar, a matrícula do meu próprio carro, datas em viajarei para sítios bonitos, coisas importantes que pessoas me disseram e eu não me devia esquecer.

E isto, parecendo que não, começa a aborrecer-me.

03 novembro 2015

Pipoco, que percebe quase nada de gataria, pergunta

E quem é que vai estar daqui a nada a ver Real Madrid - PSG, quem é?...

(fui investigar a coisa, de maneiras que...)

02 novembro 2015

Para que servem agora os blogs

?

A falta que me faz a Pipoca Arrumadinha...

Não vão deixar que aquilo ali em baixo, do Alves Redol, seja o primeiro post a ficar sem comentários em setenta anos de blogs, pois não?...

01 novembro 2015

Das pequenas grandes coisas

Alves Redol, no prefácio à edição de 1967, fala da casa onde escreveu "Avieiros", conta-nos que Manuel Lobo o recebeu na sua barraca da Palhota, na condição de levar mulher, que sem mulher a aldeia não o podia receber.

Há muito que tinha vontade de me meter na canoa e rumar à Palhota, diziam-me que a barraca de Manuel Lobo ainda lá estava e eu queria ver como era tocar na casa onde um escritor tinha escrito um livro, gosto sempre destas proximidades, até já paguei uma fortuna por um Bellini no Harry's por causa desta minha mania.

Foi hoje. Confirma-se que a casa de Manuel Lobo ainda lá está, com uma placa a dizer que ali escreveu Alves Redol o "Avieiros".

Isto não é sobre xadrez

De cada vez que ela me desafia para jogar xadrez lembro-me de Beckett e do seu "Try Again. Fail again. Fail better". Ela fazendo um movimento para uma posição proibida mas ainda assim tentando outra vez, falhando outra vez, falhando melhor. Os grandes amores, os inegociáveis, são feitos disto.