31 outubro 2016

Ponte

Talvez o mundo perfeito fosse um mundo onde as televisões só passassem filmes de Tarantino e Burton, alternado com Woody Allen anteriores ao Vicky Cristina Barcelona e nunca transmitissem o Titanic nem o Música no Coração nem telenovelas nem programas de descoberta de talentos, os restaurantes haviam de servir os melhores vinhos a copo e nunca haveria bife nem filetes de pescada nem lombo assado nem manteiga de pacote, cada rua havia de ter uma livraria e nenhuma delas venderia livros escritos por jornalistas nem por bloggers nem de auto-ajuda, os programas de rádio variariam entre o Som da Frente e os cinco minutos de jazz, mas em emissões de doze horas sem ninguém falar, as notícias seriam sobre coisas de ciência e livros e longas sessões de análise às vitórias do Sporting, mas sem ouvirmos o Jorge Jesus nem o Bruno de Carvalho, as férias seriam em sítios com neve e as pistas haviam de ser todas encarnadas e com cinquenta quilómetros sempre a descer, alternadas com uma semana de praias onde se pudesse mergulhar e caçar um sargo para o jantar,  não existiriam blogs com coisas a saltar quando estamos a tentar ler e os bloggers não se atreveriam a dizer-nos que maus produtos são bons só porque lhes pagam, seria proibido que as bloggers escrevessem mais que um post por ano a dizer-nos que se levantaram e que regressaram mais fortes, os filhos das bloggers que foram atormentados a sua vida exposta no blog da mãe haviam de ter daqui a vinte anos blogs sobre cuidados geriátricos, onde mostrariam como colocar fraldas Lindor nas mães e onde aconselhassem e emplastros Leão, com as mães sorridentes, com os seus óculos progressivos da Multiópticas, o segundo par é grátis, ostentando sem lamúrias a sua falta de cálcio, felizmente há leite Mimosa enriquecido e Calcitron.

(boa merda, isto de começar a escrever sem saber sobre que será o post, publicar e só quando releio é que percebo que tinha aqui assunto para dois posts e só escrevi um)

30 outubro 2016

Em verdade vos digo

Se alguma coisa aprendi nestes oitenta e dois anos de blogs, é que as pessoas dos blogs não são más pessoas, é certo que às vezes tenho que as deixar ali a dizer coisas sem saberem que eu carreguei num botão que só eu é que tenho, um botão de "mute" imaginário, vou olhando de vez em quando para ver se elas já deixaram de mexer os lábios, se ainda lá estão a esbracejar e com os lábios a movimentar-se eu continuo com os meus pensamentos sobre se não será melhor mudarmos os extremos e metermos o Markovic a apoiar mais o Bas Dost, se os lábios já estão quietinhos e a pessoa acalmou um pedaço, digo-lhes que estou arrependido e que as palavras rudes, porém merecidas e muito sábias, mudaram a minha vida e a forma como vejo o mundo em particular e os blogs em geral mas agora tenho mesmo que ir, que a minha vida não é isto, as pessoas dos blogs, mesmo as mais arreliadoras, não são más pessoas, não nos querem fazer realmente mal nem aquilo são só nervos, estão ali mal dispostas de cara mas, na verdade, as pessoas dos blogs só querem que gostemos delas.

26 outubro 2016

Pipoco em modo hesitante

Derivado de situações em que as grandezas espaço e tempo se conjugaram de forma prejudicial aos meus interesses, dei por mim a assistir, na óptica do observador atento, a uma demonstração desses aspiradores que os demonstradores detestam que designemos por aspiradores.

Se contar a coisa, será o post mais divertido que já escrevi. O problema é que os vendedores daquilo lincham-me a seguir.

Uma coisa nova por dia

Saca-rolhas de lâminas

24 outubro 2016

Pipoco pergunta

O comentador sente-se mais deprimido quando o blogger não responde ao comentário ou quando o blogger corre todos os comentários com variações de "ahahahahah" e "dois pontos e muitos dês"?

Dois bons posts seguidos

Podia ter sucedido que eu me tivesse interessado por Júlio Dinis em vez de Júlio Verne quando tinha doze anos, havia de ser um rapazinho sensível, que pediria desculpa a cada vez que marcasse cinco golos a um guarda-redes que se chamava Badocha mas eu chamava-lhe Jacinto, se me perguntassem aos quinze anos qual o meu livro preferido eu havia de dizer, suspirando, que era o Amor de Perdição, aos dezasseis decidiria ir para Letras, mas acabaria por me decidir por História da Arte ou Psicologia, havia de ficar afrontado de cada vez que me dissessem que o Música no Coração é uma boa merda de filme, apaixonar-me-ia por uma rapariga de pele muito branca chamada Maria do Céu e ela, a puta, havia de se apaixonar pelo cabrão do Badocha, que entretanto tinha metido uma banda gástrica e agora jogava Râguebi no Agronomia, eu havia de sofrer muito e apanharia bebedeiras de Amarguinha e Martini Bianco, até encontrar uma mulher com quem eu pudesse desabafar, havíamos de nos conhecer num voluntariado de levar comida aos que nada têm e casaríamos num sábado de manhã, eu haveria de cuidar que houvesse uma mesa de queijos em condições e viveríamos num segundo andar com um bom papel de parede e sem alcatifas por causa das alergias da nossa filha Maria do Céu, sim, Freud havia de explicar.

Felizmente vi o Top Gun na altura certa.

23 outubro 2016

Costa Silva

O Costa Silva foi ficando, o pai mandou-o estudar para o Liceu Francês e era uma dor de alma perceber-se como o Costa Silva não encaixava ali, aquilo de ser o melhor da turma nas matemáticas não disfarçava o efeito camisola de lã feita pela mãe, casou-se com a namorada de sempre, um casamento com mesa de mariscos e quatro pratos, abriu a pista com uma valsa mal ensaiada, salvou-o o sogro que puxou a noiva para dançar enquanto lhe dizia muito bem, muito bem, e batia palmas, a gravata já desapertada, o Costa Silva desorientado, havíamos de o puxar para nós e acender um dos charutos ressequidos e embrulhados em celofane que o Costa Silva nos tinha distribuído pelas mesas, isso e um Grant's novo, a última vez que o tinha visto foi quando o Costa Silva me quis mostrar a casa nova, ali para a zona da Expo, que é uma zona feita de propósito para despejar lá os Costa Silva desta vida, é espetá-los ali e dizer-lhe que estão na Expo, como isso fosse coisa boa, eles ficam felizes e faz-lhes bem à autoestima, se quisermos ser mais excêntricos é mandá-los na semana do Carnaval para Serra Nevada e uns dias de Algarve no Verão, mas dizia eu, o Costa Silva foi ficando, liga-me nos anos e eu ligo-lhe no Natal, foi-se refinando, aprendeu sobre vinhos e comprou um Audi dos pequenos, um dia destes convidou-me para almoçar a um sábado, fazia um número redondo de anos e tinha alugado uma churrasqueira ali para os lados de Campolide, infelizmente eu estava fora e não pude ir, uma pena, vi-o esta semana que passou, estava ali por causa de uma formação lá do banco, já é gerente, disse-me ele, e foi ficando, faltou à última hora da formação de liderança e chegou tarde a Moscavide, mas valeu a pena, para mim e para o Costa Silva.

21 outubro 2016

Não fiques triste, Abrunhosa

Prémio Leya não será atribuído este ano.

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Com o tempo, Ruben Patrick, aprenderás a arte de tirar do sério uma mulher, aprenderás que mais do que não lhe notares o novo penteado, mais do que te esqueceres do que ela acabou de te recomendar que jamais esquecesses, mais do que responderes em modo automático quando ela te conta em pormenor as coisas lá dela, mais do que preferires Alvalade a um jantar de sushi, o que verdadeiramente as fará deixar de apostar em ti, Ruben Patrick, é quando as tratas com condescendência.

20 outubro 2016

Pipoco pergunta (outra vez)

É muito importante um blogger responder aos comentários?

19 outubro 2016

Pipoco pergunta

Quanto tempo demora um blog a recuperar de um mau post?

18 outubro 2016

Já agora, vale a pena pensar nisto

Aquilo lá do concurso dos blogs está mesmo mesmo quase a acontecer mas os meus olhos não vêem grande galvanização nas hostes, a não ser nos que se viram inscritos lá na coisa, uma surpresa, e que nos anunciam que está para chegar o dia da decisão.

17 outubro 2016

Por cada menina dos blogs que escreve "obrigado por partilhares"...

...e a partilha é uma situação daquelas que nunca devia ter saído lá da vidinha da pessoa, há um panda bebé que falece na Antártida ou lá onde raio vivem os pandas bebés.

15 outubro 2016

Nós, os da tribo do champanhe...

...somos quem mantem o carrossel a girar e sustenta os pobrezinhos e os remediados.

(estimem-nos bastante, portanto)

14 outubro 2016

Dulcíssima e notável NM...

... a maior parte das pessoas que acham que Dylan não é merecedor de um Nobel da Literatura (note que eu não digo "talvez não seja merecedor" ou "haveria escolhas mais certas", sequer digo "Dylan não é uma escolha óbvia", digo mesmo que Dylan não e merecedor de um Nobel da Literatura) conhecem Dylan, e isto inclui os seus momentos geniais e os seus momentos tenebrosos, e não concordam mesmo, não é lá por causa de ser americano e famoso, por exemplo Roth é americano e famoso e é uma boa escolha para Nobel da Literatura do ano que vem, isto se se conseguir desembaraçar da concorrência do Abrunhosa, o problema, admirável NM, é que o Nobel da Literatura é para atribuir a quem escreve livros, escrever mesmo a sério, livros com folhas, que nem sequer se concebe serem lidos sem ser em papel, alguém que escreve de forma a levar-nos por mundos novos, que nos fascine, que nos conte com palavras que formam ideias magníficas, que nos deslumbre, e tudo isto muitas vezes, e é por isso que lhe digo, admitindo que perdoará o my french, que times are changing mas é o caralho, bem podem os telefones servir para ver as horas e os relógios para receber chamadas, os grandes escritores, os que são merecedores de prémios valentes, não podem ser cantores, bons cantores, isso é certo, acredito mesmo que Dylan está tão atrapalhado com o Nobel da Literatura como eu estaria se me dessem o Nobel da Paz, é ver que Dylan ainda não atendeu as chamadas lá do Comité, e é por tudo isto que lhe contei, graciosa NM, que não posso concordar com isso da sua argumentação de partir do pressuposto que não consegue provar de se atormentar com isso de as pessoas não saberem do que falam quando falam de Dylan quando a realidade é que tal coisa é tão válida como as pessoas estarem agastadas precisamente por saberem do que falam.

13 outubro 2016

Post do Prémio Nobel da Literatural daqui a dez anos

Dylan recebeu-o mas Brel e Bowie não. Piaf não recebeu e isso foi a coisa certa mas Roberto Carlos recebeu-o e isso foi a coisa errada. Dos últimos dez, só Cohen e Aznavour se aproveitam.

Resumindo, este ano talvez seja Bob Marley. Ou Lloyd Cole.

(Jorge Palma? Não brinquem com coisas sérias...)

Disso do Nobel

O problema nao é o Bob Dylan ter ganho. O problema é que devia ter ganho ex-aequo com o Cristiano Ronaldo.

12 outubro 2016

Por outro lado Gandhi nunca foi Nobel da Paz

Neruda e Beckett receberam-no mas Kafka e Borges não. Joyce não recebeu e isso foi a coisa certa mas Churchill recebeu-o e isso foi a coisa errada. Dos últimos dez, só Vargas Llosa e Pamuk se aproveitam.

Resumindo, este ano talvez seja Roth. Ou Amos Oz.

(Lobo Antunes? Não brinquem com coisas sérias...)

10 outubro 2016

Que isto às vezes um homem fraqueja e emociona-se

Primeiro foi o presidente da Colômbia ter oferecido o dinheiro do Nobel às vítimas das FARC, depois foi uma passagem de um velho livro de Sepúlveda, já no fim do dia foi estar a ver a televisão sem som e ver um miúdo com tão boa pinta que corri a ligar o som e o miúdo estava a partir aquilo tudo lá num desses programas de talentos com o "Georgia on my mind" de Ray Charles e eu fiquei ali a pensar que um miúdo assim, com aquela boa onda, não aparece um em cem milhões.

09 outubro 2016

Dou por mim a pensar...

...que, se me perguntarem qual foi o melhor policial que já li, direi que foi "O Homem que via passar os comboios" de Georges Simenon e que a melhor autobiografia foi a de Garcia Marquez, o "Vivir para contarla" mas acho que já li melhor e não me lembro.

08 outubro 2016

Melchior de Mello

O Melchior de Mello, por exemplo, é um bom exemplo do que quero dizer, Ruben Patrick, o Melchior de Mello conheceu mundo mas não se notava, ficava sempre nos mesmos hotéis e fazia o que podia fazer ficando em Cascais, regressava e gastava dinheiro em livros raros que não lia e em projectos que nunca terminava, enfadava-se a meio, ligava-me a desoras para me perguntar opinião sobre a nova ideia que lhe tinha surgido, eu murmurava banalidades que o  Melchior de Mello tomava com coisa de valor, ninguém tem ideias de valor a meio da noite, e mais dia menos dia, o  Melchior de Mello informava-me, a meio de um almoço no Avillez ou no Sá Pessoa, que afinal não, que se tinha aborrecido com a coisa, com as mulheres era o mesmo, um dia eram as tais, as que haviam de envelhecer ao lado do Melchior de Mello, aconchegando-o com imaginárias mantas de lã de merino enquanto madeiros de azinho ardiam na lareira que o Melchior de Mello não sabia acender, no dia seguinte contava-me uma menoridade qualquer que o tinha enfastiado de morte, preocupava-se em despachá-la com a dignidade possível, tirando Carlos da Maia nunca conheci ninguém que desbaratasse tantos recursos como o Melchior de Mello.

As mulheres adoravam-no, evidentemente.

Os problemas das mulheres

Não lidarem bem com os momentos em que não são o centro da nossa vida.

07 outubro 2016

Pipoco pergunta

Tirando os blogs que me tentam impingir coisas que eu sei que são de má raça, os blogs que querem fazer de mim uma pessoa mais feliz, os blogs de mães que mostram retratos de filhos muito feios, os blogs de pessoas orgulhosas por me mostrar roupa barata que lhes assenta mal, e isto do Pipoco, sobra exactamente o quê?

03 outubro 2016

Pipoco pergunta

As mulheres dos blogs são tão inseguras, não são?

Há outro país...

...onde senhoras velhinhas e com a dentição completa, de face rosada e risonha, preparam, com mãos sábias, galinhas que ainda ontem depenicavam em liberdade grãos de milho semeado por senhores velhinhos mas rijos, milho que foi regado por águas cristalinas de rios selvagens, que foi debulhado ao som de cantigas ancestrais e seco por um sol de Setembro, desse tipo de sol que tisna peles de aldeões que nunca careceram de protector nível cinquenta, onde as crianças sabem os ciclos da natureza, num ciclo de passagem de saberes de avós para netos, nas noites de frios invernos passados ao redor de lareiras que queimam sobro e azinho, escutando os mais velhos e rindo de histórias simples de antanho, onde os jovens sonham ser artesãos e agricultores, perpetuando artes antigas, onde as noites de verão se passam contemplando as estrelas, ali está Orion, ali está a Ursa Maior, não, essa é a Cassiopeia, tens toda a razão meu bom amigo, confundo-as sempre, e apertam as mãos com fervor, num aperto forte e cúmplice, fechando os olhos e pensando que a vida podia ser sempre assim, harmoniosa e simples, lendo livros clássicos, cozinhando alimentos da época, felizes por serem uns bons rurais, agradecendo aos céus não serem como as pessoas da cidade, sempre a correrem atrás de coisa nenhuma, sabedores de maus programas de televisão, e aquele trânsito, senhores, deus nos livre.

(em complemento a isto)

02 outubro 2016

Os problemas das mulheres

Dizerem, como se fosse coisa de valor, "eu cá digo o que tenho a dizer".

(e não dizerem)

01 outubro 2016

E é isto

Não estranhamos que o Waze nos mostre logo pela manhã o melhor percurso para o trabalho sem nós lhe perguntarmos nada, não estranhamos receber promoções das marcas que realmente preferimos e não de outras, não estranhamos que nos apareçam no écran sugestões de museus da cidade para onde acabámos de marcar voo, não estranhamos que os nossos amigos saibam onde passámos as férias e nós não lhes dissemos nada, não estranhamos que os nossos colegas nos digam que os nossos filhos estão crescidos e nunca os viram.

Mas o Whatsapp partilhar os nossos dados com o Facebook? Que é lá isso?!!!