25 abril 2017

Escrevesse eu uma carta ao tipo que faz o Pipoco

Vai ver isso do joelho, come mais fruta, lê o Ulisses de uma vez por todas, chega mais cedo a casa,  ouve Bach pelo menos uma vez por semana, bebe menos café, come mais vezes por dia, marca dois dias de férias só contigo, não queiras resolver tudo, não rias das coisas sérias, rega as árvores, fala pelo menos duas vezes por semana com os teus pais, vai mais a Alvalade, corre atrás só daquilo que vale a pena.

24 abril 2017

Se Deus existisse, que havíamos de querer que Ele nos explicasse?

(para além de como se interpreta em condições as mulheres, está claro...)

23 abril 2017

Post número cinco do período azul

Porque é que a primeira coisa que faço quando entro num carro alugado é colocar as estações de rádio na ordem que estão no meu carro, porque é que mantenho apenas um dos números de telefone das pessoas que deixaram de me interessar, porque é que arrumo os Eça de Queirós com J. Rentes de Carvalho de um lado e Lobo Antunes do outro, porque é que escolho sempre o 6A nos voos curtos, porque é que começo quase sempre o meu jogo com uma abertura Zukertort, porque é que aposto sempre no vinte e três preto?

Post número quatro do período azul

Às vezes demoro-me diante de quadros improváveis, o Picasso que mais me fascina não é Guernica nem é A Noite Estrelada o que mais me fascina de Van Gogh.

Ontem demorei-me durante quase uma hora com aquele Almada Negreiros que retrata o pescador visto de cima, aquele em que ficamos a pensar se no tempo Almada Negreiros já existiriam drones.

22 abril 2017

Post número três do período azul

Era para ser o post número um do período verde e branco mas afinal não foi.

18 abril 2017

Post número dois do período azul

Em vos calhando em caminho, é passar pelo Museu Raínha Sofia, ali para os lados da estação de Atocha, e entrar para dar uma vista de olhos na exposição "Piedad y terror en Picasso - El camino a Guernica", que é coisa para se ver com calma, enquanto reflectimos que afinal não evoluímos grande coisa nisso de sermos gente de paz.

Depois dizei-me se foi coisa de valor, ou quê.

17 abril 2017

Post número um do período azul

A questão, Ruben Patrick, é que não podemos ignorar os nossos fantasmas nem passar através deles como se fossem apenas fumo. Em verdade te digo, experimenta fazer de conta que eles não estão lá e verás como eles reagem, envolvendo-te, não te permitindo a desfeita de os ignorares.

11 abril 2017

Post número dois do período branco

Oitenta e sete anos depois volto a ter aulas de esqui, nada de excessivo, quatro horas distribuídas por dois dias para pedir opinião profissional de como os meus vícios de esquiar me estão a prejudicar a velocidade de ponta. O professor chamava-se Raul e era chileno. Gastámos três das quatro horas a falar de escritores chilenos. Não foi dinheiro mal gasto.

07 abril 2017

Post número cinco do período cinzento

Na mesa ao lado da mesa onde o melhor amigo do Burnay de Sottomayor e o próprio Burnay de Sottomayor almoçavam hoje, duas mulheres entretinham-se a cortar às postas fininhas uma mulher ausente, desdenhando da sua beleza, apoucando as opções de vestimentas, enfim, uma ode a um dos pecados capitais. Uma terceira mulher tentava, sem grande sucesso, realçar as qualidades da mulher ausente.

A terceira mulher era a mais bonita, evidentemente. Mesmo que não fosse.

05 abril 2017

Post número quatro do período cinzento

E depois havia os postais dos sítios, escreviam-se postais porque tínhamos tempo, era o tempo que agora gastamos a tirar retratos de comida e de nós próprios com monumentos lá atrás, que chegam a quem nós queremos que chegue ainda nós não saímos do mesmo sítio, com os postais a coisa não se dava assim, escreviam-se, as letras amontoadas e pequeninas para caber tudo o que se queria dizer, nem sequer se começava com "muito estimo que te encontres de boa saúde" nem se acabava com "deste que muito te quer", depois chegávamos nós a Santa Apolónia, tomava-se um café Delta e bebia-se uma Super-Bock para matar a saudade de um mês sem Delta nem Super-Bock, dormia-se dois dias seguidos e combinava-se um jantar para mostrar as fotografias que tinham ficado bem, quinze num rolo de vinte e quatro, e alguém havia de nos dizer "recebi ontem o teu postal" e ninguém se abespinhava por causa disso, as coisas eram como eram e era um tempo sem pressas.

04 abril 2017

Post número três do período cinzento

Por outro lado, Ruben Patrick, nota que as mulheres cépticas não são as que duvidam do que lhes dizes, são aquelas que continuam à procura de uma solução depois de a terem encontrado, quanto te defrontares com uma mulher assim convirá que te retires um par de dias, aproveitarás para retornar a Ulysses, talvez possas entremear com a actividade da pesca, que praticarás enquanto cofias a barba de três dias e reflectes longamente sobre a origem das coisas, voltarás então, apenas para te certificares que tudo continua nos conformes, a solução encontrada, ela procurando-a.

03 abril 2017

Post número dois do período cinzento

Por um intrincado processo de coisas variadas dou por mim a olhar para retratos famosos, tirados no preciso momento em que as coisas podiam ser assim ou de outra maneira qualquer e que, tendo sido assim, a vida do protagonista do retrato muda dramaticamente, Kennedy sorrindo e acenando trinta segundos antes do disparo, Luther King antes de subir ao púlpito onde viria a dizer que tem um sonho, Ricardo tirando as luvas antes do penalty, eu sorrindo no cimo da pista que me havia de levar o primeiro menisco, fico ali a pensar que, no momento de retrato o protagonista contava com um determinado rumo e afinal não, as coisas foram de maneira completamente diferente e afinal de contas não temos controlo nenhum, mais vale ficar em sossego e deixar que as coisas se passem como têm que se passar, afinal talvez a vida se resolva sozinha e eu é que sempre estive errado.

02 abril 2017

Post número um do período cinzento

Quinze dias depois de eu apostar que o Sporting ainda vai ser campeão este ano e as pessoas em redor terem convencionado que a coisa era consequência dos quinze graus do Dez Tostões tinto acabadinho de despachar à média de garrafa e meia per capita, coisa para acompanhar em condições uma feijoada de lebre, escuto com mais atenção a música do Dassin, aquela de não valer a pena existir, abasteço-me sempre de chanson sempre que o meu avião se atrasa em Orly, e quer-me parecer que aquilo é uma pressão tremenda sobre a rapariga, um homem apoucar-se defronte de uma rapariga pressiona-a sempre, é isso e elas chorarem-nos à frente, isto ao contrário, depois penso que não me devo inquietar com problemas deste quilate e passo à  Passio Domini nostri Jesu Christi secundum Evangelistam Matthaeum, para vós a Paixão segundo São Mateus, que sempre é coisa mais apropriada a estes dias.