31 julho 2015

A blogger é uma fingidora

Nos blogs, as bloggers das corridas, quando tiram o retrato das pontas dos pés a tocar-se, mostram-nos sempre ténis a estrear, coisa que, sei-o eu, contraria a regra número um das corridas que é nunca estrear ténis novos.

Nos blogs, as férias delas são sempre maravilhosas, nunca têm no seu espaço vital senhoras de idade a ouvir a Renascença nem filas para tomar café nem crianças que fazem birras, pelo contrário, as crianças estão todo o dia na praia com os amigos de aventuras e só regressam quando colocam uma bandeira na casa de praia, encostada ao areal, e é vê-las felizes e coradinhas, regressar para o almoço, esfomeadas e trazendo novos amiguinhos a cada dia, uns meninos louros, o pai é embaixador.

Nos blogs elas circulam sempre no sentido correcto da autoestrada, a chefe é que é incompetente, os colegas são preguiçosos, felizmente elas existem, salvadoras do dia, ainda que à custa de um serão, trabalham muito, demasiado, para que não se notem os defeitos dos outros, que seria da organização se elas, as dos blogs faltassem um dia ou dois?

Nos blogs as cozinhas são brancas, os armários estão tão repletos de cereais e comida integral que nunca há espaço para batatas fritas nem para chocolate (talvez chocolate 99% cacau, ah, o que que elas se deliciam com aquele sabor bom do chocolate 99% cacau...), as famílias são sempre um lugar de paz e de refúgio, no fim corre sempre tudo bem e, se não está a correr bem, é porque ainda não é o fim.

Nos blogs os amigos delas são sempre "amigos de uma vida" e nada faz sentido sem os companheiros, a vida não existiria sem eles, são eles que tiram o melhor delas, estão gratas por cada dia em que, diante das suas lareiras com lenha de azinho a crepitar, bebendo chá verde, eles lhes dizem sem ter que o dizer que estarão sempre ali, como um rochedo, quando elas virem apenas umas pegadas na areia serão as deles, que as levam ao colo no percurso mais difícil.

As dos blogs são umas chatinhas.

29 julho 2015

Belchior de Mascarenhas

Nunca saberei determinar com precisão o momento a partir do qual o Belchior de Mascarenhas se transformou num filho da puta. Até certo momento, o tal que não sei determinar, o Belchior de Mascarenhas era o melhor de nós, calças bege bem vincadas, camisa branca sem bolsos, um relógio Omega que o pai lhe tinha oferecido quando saiu do Liceu Francês, era o genro que todas as mães queriam ter, avisava quando chagava tarde a casa, podíamos contar sempre com ele para conduzir, pedia sempre "por favor", nunca tratava as mulheres na segunda pessoa do singular, não fumava, era cordato e delicado, namorava a Constança de Mendonça e Burnay desde sempre, um amor respeitoso e profundo.

Um dia, que não sei determinar com precisão, o Belchior de Mascarenhas pediu uma Piña Colada, naquele tempo usava-se, era o tempo do Bora-Bora e do Tangaroa e nós, copos de Jameson na mão, estranhámos, outro dia o Belchior de Mascarenhas ofereceu-nos cigarrilhas Davidoff, a nós que estávamos nessa fase de transição de Montecristo para Partagas, estavam ainda longe os tempos de Cohiba, no dia seguinte apresentou-nos a Sónia e a Soraia Silva, duas primas da África do Sul que abraçava como se não lhe fossem família.

E o Belchior de Mascarenhas refinou-se, aprendeu a gerir três telefones, o pai da Constança de Mendonça e Burnay procurou-o umas boas semanas para "lhe dar uma palavrinha", sem sucesso, tinha garrafa de gin em tudo quanto era discoteca no eixo Plateau - 2001, fez-se dono de um Jaguar descapotável, oferta generosa de uma senhora mais velha, do Estoril, ganhou dinheiro num esquema que nunca me quis contar, fez felizes (para a seguir entristecer) mais mulheres do que o próprio Capitão Roby.

Encontrámo-nos ontem no não sei quê Cool Jazz, depois do concerto. Pullover rosa desses de boa marca, chamou-me em voz alta e rouca, atirou "Pipoco, foda-se, estás igual!", deu-me um abraço, apresentou-me à loura com cara de mulher de jogador de futebol como "um grande amigo de infância, o único que sabe viver a vida", eu reagi como pude.

Bebemos uma cerveja. Paguei eu. Nisso, nada mudou.

Fosse eu agenciado pela Blog Agency, que não sou...

...e a minha primeira exigência seria que o meu texto de apresentação não tivesse erros de sintaxe nem de ortografia.

Últimos concertos

Jagger, Cohen, Aznavour, Cid e, ontem, Knopfler.

E eu próprio não me sinto muito bem.

28 julho 2015

Em verdade te digo, Ruben Patrick

O problema, Ruben Patrick, é que nunca somos suficientemente bons para o lugar que elas, nos seus melhores sonhos, reservaram para nós. Mas quem é que quer uma casa com cozinha demasiado grande e demasiado branca, filhos vestidos de igual, almoço de domingo com os pais dela, uma carrinha Volvo, que os nossas botas de montanha tenham que ser descalçadas na varanda, que cheire sempre a comida de forno quando se entra em casa ou que os livros tenham lugares certos para ficar?

(Se bom sexo pode compensar esta má fortuna? Talvez. Também)

E novidades, Pipoco?

27 julho 2015

Segunda

Do que me recordo da Segunda Lei da Termodinâmica (e se eu fui feliz com a Segunda Lei da Termodinâmica, caramba...), e simplificando as coisas para que não se pense que estou aqui a pavonear-me como o tipo do post ali em baixo (como não viram? esteve lá quase catorze horas!), mas dizia eu que a Segunda Lei da Termodinâmica informa-nos que a entropia de um sistema isolado (toda a gente sabe que a entropia é uma espécie de desordem do sistema) aumentará até um valor máximo, que será a nova ordem, o novo valor de equilíbrio.

Na minha vida, esse momento é quando admito que preciso mesmo de férias.

26 julho 2015

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Elas perdoam-nos quase tudo, Ruben Patrick. Perdoam-nos que olvidemos a data em que a conhecemos, nós que recitamos de cor a equipa-tipo do campeonato 80-81, perdoam-nos saber tudo o que há para saber sobre a marca Aston Martin, nós que desconhecemos em absoluto que existam marcas  como Carolina Herrera ou Furla, perdoam-nos que só saibamos os nomes de dez cores, nnós que sabemos os nomes de cento e cinquenta tipos de cerveja, perdoam-nos não conseguirmos verbalizar sentimentos, nós que sabemos tudo o que há para saber sobre inteligência emocional.

O que elas nunca perdoam, Ruben Patrick, é que te pavoneies, que alardeies feitos grandiosos, que exibas performances notáveis. Elas buscam o único e são elas, serão sempre elas, a decidir o que é único, é uma transmissão ancestral de saberes empíricos e não só, elas tomam notas e recolhem informação confidencial, basta-lhes o mais pequeno vislumbre de auto-propaganda e logo os olhos se lhes reviram, é esse o momento em que, sem que o notes, és transformado em carpaccio de Ruben Patrick, é esse o momento em que passas a última opção.

(por outro lado, se te posicionares como cuidadosamente descuidado, se elas te arrumarem na categoria dos modestos-chic, se altruisticamente permitires que sejam elas a decidir o teu coeficiente de elegibilidade, nesse caso, Ruben Patrick, nem precisas de as fazer rir...)

25 julho 2015

Felizmente estou cá eu

Por cada gota água tónica com aroma de framboesa ou alfazema, ou lá que aromas têm agora as águas tónicas, que se verte num copo de gin, há uma foca bebé que é sodomizada por um urso polar de setecentos quilos, um desses ursos já avôs, com grandes sobrancelhas hirsutas, o caso do gin transcende toda a minha capacidade de crença na evolução para melhor da espécie humana, tantas campanhas pelo regresso do Fizz Limão, tantos voluntários na limpeza do fundo do mar, tantas horas gastas a debater o que leva mulheres de bem a usar sandálias de salto alto, e pelo bom nome de um gin tónico, nada, ninguém se revolta, nenhuma acção, deixamos a tragédia acontecer diante dos nossos olhos sem um gesto de comoção, um carinho pela relevância da causa.

24 julho 2015

Ciclo preparatório

Ninguém me perguntou, mas eu, que sou pessoa de bem, sempre vou dizendo que há uma fase da vida de um homem em que nada fica escrito na pedra, é a fase em que estamos prestes a comprar um Porsche a pronto e eu tenho suores frios com a antevisão desse dia aziago, não temo a próstata nem as mantas em cima do joelho nem os cruzeiros no Mediterrâneo nem as férias no Inatel, mas o dia em que se está a um bocadinho assim de se entrar num concessionário da Porsche, esse sim, é coisa que me atormenta, de maneiras que, se tudo é certo hoje e incerto amanhã, se nada é como é, não há razão para que os posts não tenham prazo de validade, era isto ou passar a ilustrar posts de cinema e citações de livros maus com retratos a preto e branco, parecendo que não é melhor assim, que os posts durem só o tempo que têm que durar e não se fala mais nisso.

22 julho 2015

Só mais um post fofinho e vou à minha vida

Estava aqui a ler a Dias Cães, que me contava qual tinha sido a coisa mais bonita que tinha feito por ela e eu, que sou uma pessoa influenciável, fiquei aqui a matutar sobre qual teria sido a coisa mais bonita que fiz por mim, tive que decidir que a coisa mais bonita que fiz por mim não foi a coisa mais importante que fiz por mim e, mais difícil, tive que tirar de cena coisas bonitas que fiz por mim mas por intermédio de terceiros, das coisas mais bonitas que fiz por mim, muitas foram porque a intenção primeira era fazer coisas bonitas a outros que não a mim, só que as coisas são como são, quando fazemos coisas bonitas pelos outros, para os outros, acaba sempre, mas sempre, por ser a nós quem acontece uma coisa superlativamente bonita.

A coisa mais bonita que fiz por mim foi dizer "não" pela primeira vez. Um homem sensível, como é o meu caso, evita dizer que não, que não quer, que não é assim, que o outro não está certo. Tentamos negociar, evitar a afronta, acredita-se que um "não" pode magoar as pessoas, que será mais avisado aguardar melhor ocasião, que não nos queremos aborrecer por tão pouco. E, evitando dizer que não, um homem aprende a contornar a resolução das questões, agarra-se à crença de que o tempo acaba por resolver a maior parte das coisas. E não é assim, lembro-me bem que quando decidi que não queria ser operado ao menisco aprendi a andar de forma que não me doesse o joelho. E de facto o joelho deixou de doer, o problema é que me passou a doer o corpo todo. Todo não, o joelho, esse não doía.

Um homem vicia-se desde o primeiro não. Primeiro ficamos ali a apreciar o efeito, o desconcerto do outro,  o pasmo, nós próprios à espera da reacção que nunca chega a surgir, um "não" bem sustentado nunca tem grandes efeitos colaterais, um homem percebe que pouca energias, a si e aos outros, fica com mais tempo para o que interessa.

Isto sim, Susana, é um post fofinho

E agora estou a ser atirado ao ar e o meu pai agarrava-me sempre e eu sabia-o, e agora descubro que sei ler porque junto os sons das letras das matrículas dos automóveis, e agora é a minha mãe que me ensina a magia de saber somar números, e agora ganho as minhas primeiras moedas com o meu trabalho e servem-me para comprar livros dos Cinco, e agora vou ao cinema e é o Tarzan e todos batem palmas quando os elefantes libertam Tarzan da jaula, e agora estou em Alvalade e o Sporting é campeão porque ganha por 3-0 ao Leiria e marcaram o Jordão e o Manuel Fernandes e o meu pai comprou-me um cachecol que dizia Sporting Campeão, e agora passo a fronteira a pé e entrego aos guardas um papel com a autorização dos meus pais para passar a fronteira a pé, e agora acordo em Irun e chove e estranho as árvores tão diferentes das árvores que conheço e é só o primeiro dia dos meus mais de duzentos dias de inter-rail, e agora sou o pior da turma na primeira aula de esqui e estou sempre a cair e descubro que não será má ideia apertar a bota na fixação e passo a ser o melhor da turma, e agora estou sozinho e só falo português quando alguém pede para falar com "Chambre trois cents vingt deux, Rèsidence Descartes", e agora tenho medo de morrer porque estou no Steghorngletscher e os meus crampons ficaram no Lämmerenhütte, e agora estou de pé em cima de um Spider na Marginal com uma garrafa de gin no estômago e outra na mão e está a chover, e agora o meu avô vai-se nos meus braços e eu fecho a porta e digo que trato do que há para tratar, e agora estou de gravata e fato às riscas e sei que só devia estar onde estou daí a dez anos, e agora digo adeus ao cor de laranja e sigo com o verde e digo adeus a Lisboa e hola a Madrid.

Os problemas das mulheres

Extrema dificuldade em digerir que, às vezes, não há mais nada senão o jogo.

21 julho 2015

E tu, qual é o teu território?

Há ocasiões, Ruben Patrick, em que é avisado refugiarmo-nos no nosso território, jogar pelo seguro e não arriscar, mesmo que te incitem a sair do teu território, que pensar fora da caixa é que é, que não sei quê da zona de conforto, a beleza do desconhecido, não te aventures.

O meu território são os livros. Ainda que gostasse de dizer que é o sentido de humor ou a ironia, o meu território são os livros.

(Entender as mulheres? Ora Ruben Patrick, nada estará tão absolutamente fora do meu território...)

20 julho 2015

Post fofinho alert...

Na verdade, Ruben Patrick, apaixonamo-nos por um ideal de mulher, ainda ela não está diante de nós, ainda nem sequer podemos assegurar que ela existe, e já estamos apaixonados por ela, por todas as muitas virtudes que estamos certos que terá e por todas as poucas fraquezas que, sabemo-lo bem, estatisticamente também terá, pela sua luminosidade e pelo seu provável lado lunar e, estando ela tão bem definida, estamos então preparados para a ter.

Depois, um dia, quando menos o esperares, ela existirá de facto e nada será como tinhas imaginado e estarás afinal impreparado e nunca a terás em absoluto, o aconselhável é que nunca a tenhas de todo, nem sequer só uma pequena parte.


E aí sim Ruben Patrick, nesse momento, podes então apaixonar-te por ela.


As coisas são como são

O Vasconcellos de Burnay dizia-me, enquanto levantava dinheiro numa dessas caixas automáticas, que nós não somos a Grécia, nós descendemos de uma casta de homens que deram a volta ao mundo, desses bravos que rumaram à aventura e ao desconhecido.

Eu fiz notar o Vasconcellos de Burnay que nós não descendemos dos que de cá saíram.

Nós descendemos dos que cá ficaram.

Do retrato viral que não tarda nada estamos todos a falar dele

Estava aqui a olhar para a fotografia do dia, aquela situação lá da Carolina do Sul, e o que mais me impressiona, muito mais do que o polícia com bom ar a socorrer o imbecil da extrema direita tão mauzão que nem sequer aguenta uma corrente de ar mais quente sem sentir afrontamentos, muito mais que o mau cabelo do energúmeno, o que mais me impressiona é que se continue a dizer nas legendas que o polícia é afroamericano quando nós estamos mesmo a ver que o polícia é preto.

17 julho 2015

Por uma vez Pipoco pede uma sugestão

El Camiño, três quartos de maratona por dia durante doze dias, com mochila às costas, dormindo em camaratas de albergues (mas com três noites reservadas no Parador de Santiago, que isto dos finais querem-se felizes...), levantar às cinco da manhã para terminar antes da hora da sesta.

Um único livro para os dias do El Camiño. Por uma vez: que me sugerem?

16 julho 2015

Felizmente há o amor, Ruben Patrick

O problema, Ruben Patrick, é que isso da paixão é coisa condenada à partida. Vê tu bem, são as noites mal dormidas por não se saber se a coisa resulta melhor em dólares ou em ienes, é o efeito do absinto, é saber quem paga, é o sobreiro morto que tem que ser cortado, são as férias que afinal já não são, é a balzaquiana na mesa lá do fundo que nos olha nos olhos, é a nossa equipa que perde, é o músculo rasgado no jogo da bola que nos compromete o Monte Branco em Agosto, é o trânsito, é o mau café, é não se ter dito a palavra certa, tudo a desfavor da paixão.

Felizmente há o amor, Ruben Patrick. Felizmente.

15 julho 2015

Meyrelles de Menezes

O Meyrelles de Menezes, o melhor jogador de poker que algum dia enfrentei, vai casar-se. O melhor de nós, aquele que pecebia a essência das coisas na sua terceira derivada, o que nunca falhava na primeira análise que fazia das mulheres que lhe apresentava como sendo a mulher da minha vida, ou pelo menos daquele momento da minha vida, o que telefonava a desoras só para me informar que aquela mulher da minha vida não duraria duas semanas, ora porque ela tinha trocado uma conjugação verbal, ora porque tinha encomendado sangria, ora porque tinha cara de ser má cama, ora ainda porque tinha mau cabelo ou unhas desarranjadas ou mau gosto para sapatos, sempre sem se enganar, havia quem não lhe atendesse o telefone só para não lhe escutar o vatícinio, esse julgador infalível vai casar-se. O que me batia à porta a desoras só para perguntar se ainda tinha daquele whiskey ou daquele conhaque, pouco interessava, o que o Meyrelles de Menezes queria realmente era estar à conversa e saber se o Henry Hub influenciaria a acção da General Motors ou se Fukushima era bom ou mau para a Shell, o que comprou um Alfa Spider ainda nós mal tínhamos dinheiro para uma DT50, o que nos mostrava as vantagens do cartão de crédito quando o nosso grau de sofisticação máximo eram os traveller cheques, o que negociava até ao limite do adversário e quando o adversário cedia recomeçava tudo de novo, o que sabia de vinhos aquilo que eu nunca saberei, o que fazia as mulheres conhecerem um novo paradigma nisso da beleza de jogar o jogo, aquele de quem elas falavam sem nunca o terem conhecido, aquele que me dizia "Pipoco, vais safar-te, safas-te sempre (e nisto acertava) e "Pipoco, essa tua confiança nas pessoas é que te vai matar" (e aqui não acertava), o Meyrelles de Menezes que já estava a regressar quando nós estávamos a caminho de alguma coisa grande, vai casar-se.

O Meyrelles de Menezes vai casar-se. Pela quarta vez.

14 julho 2015

Coisas que eu sei e que não interessam para nada

As garrafas de Cartuxa pesam mais do que as outras, os cães pretos são os mais leais, a minha fila de trânsito anda sempre mais devagar, a pessoa à minha frente na caixa do supermercado vai reclamar porque não foi considerado o desconto que ela diz existir (e que a intervenção do responsável de loja vai esclarecer que só se aplicava ao frasco azul turquesa e não ao frasco azul esmeralda, e aquele é azul esmeralda, evidentemente, com o consequente pedido de troca e posterior constatação que não existe já nenhum frasco azul turquesa pelo que terá que se fazer o respectivo desconto, o que implica chamar-se "o responsável", a quem se repetirá toda a história e "o responsável" mandará verificar se não existe em armazém nenhum frasco azul turquesa, que obviamente não existe), os Xutos acabam sempre com "A Minha Casinha" e os Muse com "Knights of Cydonia", a pessoa ao meu lado no cinema receberá sempre uma chamada que atenderá em voz baixa a dizer "agora não posso atender, estou no cinema, mas diz...".

Não me perguntem como sei eu destas coisas

As mulheres não gostam de homens arrogantes. As mulheres não gostam de homens condescendentes. As mulheres não gostam de homens manipuladores. As mulheres não gostam de homens seguros da sua verdade.

As mulheres adoram homens que sejam, ao mesmo tempo, arrogantes, condescendentes, manipuladores e seguros da sua verdade.

13 julho 2015

Note to self

Nunca deixar que o Tio Pipoco se desencaminhe lá para aquilo do La Palmeraie, ou lá o que é, a coisa tem toda a pinta de ser local que o Tio Pipoco abominaria.

Dos temas fracturantes...

... que tenho diante dos meus olhos, selecciono os dois que me parecem mais prementes, a mágoa da mãe de Casillas por ver um filho entrar em espiral descendente e a crónica do Giles Coren no Times, a mandar dizer que a cozinha portuguesa parece que não sei quê.

Se até posso concordar com parte do que diz a mãe de Casillas, de facto o FC Porto não se pode comparar a um Real Madrid, um Manchester United, um Sporting ou um Bayern de Munique, a verdade é que Casillas já deu o que tinha a dar, agora quando falamos de Casillas é para nos referirmos a frangos memoráveis, ao nível dos primeiros tempos de Patrício ou dos tempos desse Roberto de boa memória, e é aqui que que temos que ser complacentes,  a senhora Casillas, na sua condição de mãe extremosa,sobrevaloriza  qualidades que já lá não estão. Temos que compreender, a minha mãe ainda acredita que eu sou o melhor aluno da turma.

Já Giles Coren, do alto do requinte do fish and chips, esse ponto cimeiro da culinária do mundo, logo secundado pelo bangers and mash, a excelência do puré de batata com salsicha, quando fala da má qualidade da cozinha portuguesa é só para nos divertir. E nós divertimo-nos, Giles. À grande.

Eu tenho sentimentos...

Eu vibrei mesmo a sério quando a Bad Girl ganhou a guerra, espero sempre mais, muito mais, da notável Palmier, lamento não ter sido eu em vez da Cuca a inventar aquela deliciosa ambiência da pirataria, estou mesmo curioso para ver se a X. se safa num campeonato acima, sinto-me como se estivesse lá quando a Helena Ferro de Gouveia escreve sobre viagens, quero mesmo ler o livro do Lourenço, gozo com tempo cada post do , acho mesmo  que o Xilre é mais, muito mais, do que um homem culto, faz-me falta o Tempo Contado do meu amigo J. Rentes de Carvalho, acho mesmo que a Mãe Preocupada é qualquer coisa de muito bom e não será só nos blogs, parece-me mesmo que a Susana só pode ser mesmo uma pessoa boa, que é bastante mais que ser boa pessoa.

(talvez faça uma segunda edição, faltam aqui bastantes das minhas pessoas dos blogs)

(e uma terceira para os anónimos e para os blogs que não tenho ali na lista do lado)

12 julho 2015

Domingo

Come maçãs com casca, uma vez por semana diz para ti mesmo "que se foda" e arrisca fazer a coisa que talvez não seja a coisa certa, percorre El Camiño, ouve o teu pai, não é necessário fazeres o que ele diz, basta ouvi-lo, não escales o peixe, come chocolate preto, aprende a gostar de ópera, aceita imediatamente as pequenas gentilezas das pessoas, ajuda as senhoras de idade a orientar-se nos aeroportos, desliga o telemóvel no cinema e no teatro, nos museus e nos concertos, lê Borges e Saramago, abraça os teus irmãos, mesmo que não sejam filhos dos teus pais, evitas as mulheres de olhos claros, não deixes passar muito tempo a admiti-lo quando te enganas, beija de olhos fechados, não deixes um animal sofrer, mesmo que seja um cão pequeno, talvez seja melhor aquilo do "que se foda" ser só uma vez por mês.

08 julho 2015

Casillas no Porto

Começo a acreditar que temos algumas possibilidades...

07 julho 2015

O drama

A coisa chegou de um momento para o outro, num dia conseguia ler as letras do contratos que me dão para assinar vida, no dia seguinte perguntaram-me se ia tirar uma selfie com a ementa do Belcanto a fazer de máquina fotográfica, tanto eu a afastava para conseguir ler "confit de pato gratinado com redução de pera rocha colhida com o primeiro orvalho, recheada com colis de beringela franco-asiática. Pedi os óculos emprestados à terceira mulher mais bonita do mundo, que estava sentada à minha frente, uns óculos em bom, desses de massa preta e que fazem qualquer mulher que nem xadrez sabe jogar, ficar com ar de quem me vai explicar a equação de Bernoulli aplicada à fórmula resolvente de Firucelli, na sua segunda derivada, e vi claro, nem era confit de pato, nem era o a ementa do Belcanto, era eu chegado a esta idade, viçoso, é certo que com menos dois meniscos que ficaram em pistas pretas (na verdade só um deles, mas isso agora interessa pouco) e sente-se imortal, um rapazola de vinte e três anos em tudo, menos na experiência de vida e na capacidade de ir onde lhe apetece, bom cabelo, capaz de correr duas horas seguidas, de fazer duas diretas seguidas, seja a trabalhar seja a passar um bom bocado, um homem capaz de manter um blog nos mínimos, com maturidade suficiente para se aguentar sem rebolar de riso com as trapalhadas que vão por essa blogosfera fora e, afinal, de um momento para o outro não consegue ler letras pequenas, uma maçada.

06 julho 2015

Tenrinhos

Andava aqui a distrair-me com isto dos blogs, que sempre dá para ler se aumentar a coisa para 150% do tamanho normal, o que é uma vantagem em relação ao Arial quatro esborratado em que agora se me afigura que todos os livros são escritos e embeveci-me com o que as pessoas escrevem sobre a Grécia, uns com o requinte argumentativo "se eu pago as minhas contas, esses malandrecos hão-de pagar com língua de palmo" outros com a candura de um "que grandes valentes são estes Gregos".

A verdade? Ora, a verdade estará escrita nos livros de História onde estudarão os nossos filhos, e a História, não há quem não o saiba, é sempre escrita pelos vencedores.

Uma coisa nova por dia

Consulta de oftalmologia.

03 julho 2015

Retomando

Quando não chego a ter uma coisa que estive prestes a ter, fico mais atento aos pormenores. Uma camisa sem vincos passa a ter uma importância quase igual a calçar uns sapatos confortáveis, o tipo do café que me serve sem eu pedir nada e sem acrescentar o dispensável pacote de açucar tem o mesmo valor que ainda haver bilhetes para o teatro e só faltarem dez minutos para começar a peça.

O pior é o outro lado, quando dou por mim a reparar que os que me parecem ter menos posses são exactamente os que não dispensam garrafas grandes de refrigerantes de má qualidade em vez da água da torneira ou que os mais trôpegos são exactamente aqueles que atravessam sempre fora da passadeira.

01 julho 2015

Os problemas das mulheres

Forçarem a nossa ida a jogo sem precaver se terão estrutura para aguentar a parada.

Mais um segundo

O tempo bastante para decidir que afinal não a vamos deixar ir embora, para recusar o último gin tónico, o tempo suficiente para o William Carvalho deixar cair o guarda redes para um lado e depois, só depois , rematar, o tempo necessário para reagirmos ao carro em contramão, para escolhermos um livro melhor do que aquele que ainda agora tínhamos nas mãos, para mudar de opinião para uma melhor que a nossa, o tempo suficiente para olhar uma mulher nos olhos.

Hoje tens mais um segundo. Aproveita-o bem.