27 junho 2014

Um mundo de oportunidades

O que recordarei deste Mundial, para além das caipirinhas a acompanhar rodízio, é aquele invento de pegar num "spray" de espuma branco e as pessoas afastam-se para lá da linha, respeitadoras dos limites que não podem ser ultrapassados, tementes à linha branca.

26 junho 2014

Que te parece a ti, Ruben Patrick?

Valorizarão mais elas o choro compulsivo do guarda-redes ou aquela situação do puxão dos calções que confirma não ser um mito urbano aquilo dos africanos?

24 junho 2014

Eu já tive um coup de foudre. Talvez mesmo dois.

Todos, mas mesmo todos, deveríamos ter o nosso próprio coup de foudre, pelo menos uma vez na vida. Todos deveríamos saber a que sabe uma entrega incondicional, a que sabe perder o controlo e isso ser bom. Ninguém devia ficar sem saber como é ver o coração saltar do peito, ali mesmo diante dos nossos olhos, fundir-se com outro coração e isso fazer sentido, aliás, nada mais fazer tanto sentido. Devia ser obrigatório que cada um de nós ficasse por uma vez sem defesas, que nem se lembrasse que um dia teve defesas, que as lógicas e as regras não fizessem de repente sentido, que nos deslumbrássemos sem resistência.

23 junho 2014

Caros jogadores da Selecção Nacional

Eu ouço-vos sempre com atenção, a sério que sim, acredito que serei o único português que não tem conta de Facebook nem pulseirinhas de elásticos mas que escuta com atenção o que os jogadores têm para dizer. Não o faço para me divertir, como acontece quando presto atenção ao Jorge Jesus, foco-me mesmo nas vossas palavras e não há conversa redonda que me faça esmorecer, surpreendo-me sempre com os "o futebol é assim mesmo", de cada vez consigo distinguir uma entoação, uma urgência, uma expressão corporal, um pequeno nada que me faz valorizar aquele "o futebol é assim mesmo" como algo de único.

Não obstante, que a conversa vai longa e as pessoas aborrecem-se com posts grandes, temos sempre que lhes ofertar um título sugestivo para as prendermos, enquanto vos escutava via telefonia sem fios, a caminho cá das minhas situações, notei que todos, sem excepção, depois daquilo de ontem invocaram que "agora temos que levantar a cabeça". E aqui, meus caros jogadores da bola, creio que posso ajudar a resolver a questão a montante, ensinar-vos a pescar em vez de vos ofertar o peixe. Da mesma forma que a melhor maneira de evitarmos a expressão "agora o que há a fazer é limpar a sola do sapato e tirar esta bosta de cão" é andar com cuidado na rua, minimizando assim as nefastas consequências de pisar bosta de cão, a melhor forma de evitar os trabalhos de "levantar a cabeça" e todo o moroso processo implicado, isto é, fortalecer o pescoço, iniciar um movimento basculante que se inicia na base da nuca e, tranquilamente, iniciar um movimento ascendente da cabeça, desafiando a lei da gravidade, e, finalmente alinhar o nariz num ângulo que 45 graus em relação ao chão, a melhor forma de evitar todo este processo de "levantar a cabeça" é não a baixar, nunca a baixar.

Os problemas das mulheres

Só perceberem onde estiveram depois de terem saído.

22 junho 2014

Talvez acompanhe com Keith Jarrett, talvez acompanhe com Ana Moura.

Falta pouco para eu tirar o som à televisão e ver o jogo. Sem o som da televisão percebo melhor o que estou a ver, sem contaminações, sem tipos que me falem de defesa em bloco ou de futebol transversal.

E acho que hoje ganhamos o jogo.

19 junho 2014

Coisas que resultam sempre numa apresentação sobre mercados de futuros

Entremear os slides dos gráficos com retratos de cachorrinhos, bebés e mulheres bonitas.

18 junho 2014

What happens in Salvador, stays in Salvador

E agora é recuperar das caipirinhas, dos rodízios, da cerveja fresca no pelourinho, da comida baiana da Casa de Teresa, da miudagem a pedir copos de plástico, do caos no trânsito, das noites longas, da Merkel aos pulinhos e eu a ver, dos nossos irmãos a gritar-me que "Ronaldo brochou...".

(Jogo? Qual jogo?)

13 junho 2014

Dupond & Dupont



Uma das minhas principais preocupações...

...é não ter segunda selecção favorita no Mundial. Na África do Sul, derivado de duas circunstâncias, a primeira uma coisa de amores e a segunda ter sido tão bem tratado, dividiram o meu pobre coração entre a equipa do Paraguai e a da África do Sul e, diz o povo e é bem verdade, não há fome que não dê em fartura, embora nesta situação em concreto se deva entender o provérbio ao contrário, tão escasso está o meu apreço nisso da minha segunda selecção favorita.

Excluídos à partida estão os Estados Unidos, a Alemanha e o Gana, por razões ponderosas e que me abstenho de detalhar. Excluída está também a Coreia do Sul porque ainda me lembro de como os levaram ao colo quando eles organizaram a situação lá na terra deles. Excluída está também a Grécia por aquilo que nós sabemos.

Poderia ser a Suiça, que poderia, pois se eu já fui tão, mas tão feliz na Suiça, quer em situações de neve perfeita, quer em situações de conseguir chegar a abrigos de montanha com cordas às costas. Mas, por outro lado, já fui tremendamente feliz em França, com quem tenho um amor tão eterno e tão à prova de tudo.

Mas não, este ano nada me incentiva a ter uma segunda selecção preferida. E isso dilacera-me o coração.

Eu sou pela selecção de Portugal. Quero que ganhe o Mundial

Não obstante, sei que me vou aborrecer, aborrece-me primeiro Paulo Bento, uma espécie de Peseiro com sorte, aborrece-me depois aquela maneira de jogar a fazer de conta que estamos ali por acaso, que aconteceu terem recebido uma dessas mensagens que anunciam as flash-mob, para estarem todos em Campinas a certo dia e a certa hora, que ia ser uma coisa de valor, e depois era para fazer uns jogos de bola, ninguém sabe muito bem o que tem para fazer mas basta confiar no número sete que alguma coisa se há-de arranjar, assim o da baliza não tenha uma daquelas recaídas cíclicas, que me enervam e me fazem colocar as mãos em conchinha por cima da cabeça e dizer "Nãaaaaaoooo!...", que é igualzinho a quando me acendem uma luz forte depois de uma noite de gin.

Também me há-de aborrecer, conheço-me bem, o processo de desistir à primeira facilidade e a primeira facilidade será a Alemanha. Imagino-me a receber, no meu telefone barato que só uso em ocasiões de potencial clima intimidatório ao nível de ameaça exterior, as mensagens de quem viu a coisa em televisão de alta definição, rejubilando com esse pequeno nada que é ter três pontos e ainda faltarem dois jogos.

Finalmente, e apesar de Liedson e Maniche, certamente por razões ponderosas lá da vida deles já não podem brindar-nos com o perfume do seu futebol, é também verdade que ainda por lá pululam Fábio Coentrão e Hélder Postiga, o que, parecendo que não, desinquieta-me deveras.

E é isto. Parece que chove em Salvador, ou lá onde é aquilo.

12 junho 2014

Às vezes...

...tenho vontade de jogar GTA quando as pessoas param nas passadeiras, entretidas que estão a mandar mensagens pelo telemóvel.

Post em tempo real

Está um tipo a correr neste momento aqui à volta da esplanada onde tomo café. O tipo tem um ar de sofrimento extremo, sua desalmadamente, respira a custo. As pernas movem-se com dificuldade e parece-me o tipo mais deslocado do mundo, uma daquelas pessoas que não é fácil adivinhar que desejaria estar noutro sítio qualquer que não a correr às voltas da esplanada onde tomo café. O tipo tem uma t-shirt verde fluorescente onde posso ler "Run for fun".

(são estas pequenas coisas que me fascinam)

11 junho 2014

Quarenta

O meu limite sempre foi quarenta. Não ter mais de quarenta blogs na coluna dos "Bons Blogs". Bem sei, nem todos são bons blogs, isso de "Bons Blogs" é uma maneira de dizer. Alguns são razoáveis blogs, outros são pessoas a quem adivinho um mau dia se os tirar dali. Não parecendo, tenho um bom coração e sei que quinhentas visitas por dia fazem falta a qualquer um, a pessoa habitua-se e depois é o cabo dos trabalhos se lhes acabamos com a adição. Depois dá-se o caso de alguns ainda agora terem chegado, é aborrecido trocá-los, as pessoas sentem estas coisas e não convivem bem com a rejeição. Outros há que não são assim tão bons blogs, mas acontece-me achar que era capaz de gostar de quem os escreve. A outros devo favores, eles não sabem mas devo-lhes favores e sou um tipo agradecido, quase sempre. Resumindo, bons blogs, ali ao lado, são três, cinco se me acontecer estar num dia bom, com o espírito apaziguado. Mas quero juntar ali o Circo da Lama e A Voz à Solta. E manter os quarenta. E não me venham dizer "Ah, o Pipoco? O Pipoco nunca tem problemas", que isto é das coisas que mais me dilaceram o coração. Porque isto não é fácil.

A beleza da Feira do Livro?

É nos dias de feira que reponho os livros que emprestei e não me devolveram, mais os livros que perdi. Quero-os com cheiro de usados, bem sei que não é o meu cheiro, mas sempre me ocupo um par de minutos a pensar que cheiro será aquele, quem terá lido aqueles livros antes de mim, se serão livros que alguém não devolveu ao legítimo dono.

(Os alfarrabistas prestam um serviço público)

Os maçadores

Ainda não começou o Mundial e já me aborrecem os que se afadigam a perguntar quando acaba, que não se pode, que tudo gira à volta do Mundial, que parece que nada mais importa senão o joelho do Cristiano, que maçada, não se admite, o povo alienado pelo futebol, isto é o que quer o governo, não se admite esta loucura.

(e nós, tolerantes, a dizer que a final é só lá para meados de Setembro, isto vão ser as férias todas, que aquilo são muitas equipas, cinco jogos por dia, fora os de desempate, é ter paciência, felizmente desta vez não há vuvuzelas...)

10 junho 2014

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Serás verdadeiramente feliz quando existirem coisas que não consegues fazer sem a ajuda dela.

09 junho 2014

Breve contributo para descodificar a densidade dramática que a autora Pipoca Mais Arrumadinha transmite ao seu poema maior "De seu nome Pipoco"

Poderemos pensar que a Pipoca Mais Arrumadinha, do alto da generosidade e paciência que todos lhe reconhecemos, apenas pretende presentear cada um de nós com singelas palavras, numa espécie de tributo sentido a esta grande casa que é a blogosfera. De facto assim não é, seria um transtorno para a humanidade em geral e para os blogs em particular que nos ficássemos por uma análise superficial, olvidando o essencial da mensagem Arrumadinhiana, as suas particularidades, as suas múltiplas propostas de abordagem.

É neste contexto que descodificarei o poema "De seu nome Pipoco", uma ode inspirada e que representa de forma sublime o período de pujança máxima da corrente Arrumadinhiana, um poema iconográfico e que condensa em poucas palavras toda a minha própria obra, num exercício notável de clarividência e coragem.

Sem mais delongas, debrucemo-nos sobre o essencial:

Nesta Blogosfera gigante,
Cheia de gente engraçada,
Eis que alguém inteligente,
Surge no meio do nada.

É notória a influência que os Russos exerceram em Pipoca Mais Arrumadinha, a aparente dissonância entre uma blogosfera gigante, uma reminiscência dessa torre de Babel que nos contava Brughel, o Velho, e a singeleza do nada, do surgimento daquele que havia de colocar ordem no caos, servindo-se de nada mais do que as suas capacidades cognitivas e dos seus longos saberes, alicerçados em doutrina. É impossível não se pressentir nesta estrofe uma forte influência do Velho Testamento, quando Bartolomeu, o Bizantino, surge da nuvem que cobria a planície de Cafarnaum e acalma o povo da Judeia, usando nada mais que sábias palavras e portentoso intelecto.

De seu nome Pipoco,
Com apelido Salgado,
O que disser ainda é pouco,
Tamanho é o seu legado.


Neste pedaço de excelência, abstraíndo-nos da assertividade com que Mais Arrumadinha sintetiza o essencial do personagem a quem dedica o poema, trabalhando o supérfluo de tal forma que nos remete magistralmente para a informação mais básica, fica apenas o subliminar da mensagem,  a forma superior como Mais Arrumadinha galvaniza o tamanho do Pipoqueno legado, sendo que, neste caso, deveremos entender que o legado poderá não significar apenas o essencial de um pensamento, aquilo que perdurará, mas também, numa abordagem livre, nos convida a não ficar reféns de uma abordagem redutora, significando neste caso que "tamanho é o seu legado" pode ser entendido de formas alternativas a um entendimento mais clássico.

Muitas tentam a sua atenção,
Na esperança de lá chegar,
Mas ficam pela intenção,
E continuam a tentar.

Se dúvidas persistissem do estudo aturado que a minha vasta obra mereceu a Mais Arrumadinha, estas seriam certamente dissipadas pela leitura deste trecho. Efectivamente, é longo e de difícil localização na lonjura dos tempos o número das que, com tenacidade e persistência, tentam captar a minha atenção, jamais dissuadidas pela triste realidade dos resultados. Há neste trecho uma mensagem de esperança, um convite à insistência, focadas no júbilo de finalmente ser alcançado esse desiderato, nunca desistindo, um esforço e tão bem resumido no "E continuam a tentar" final, que aqui nos surge como uma piscadela de olho a Sísifo, outro filisteu dos maiores.

Até Tio lhe vão chamando,
Os anónimos e alguns nem tanto,
E assim lá vão passando,
Mas ninguém lhe causa espanto.
Este poema lhe ofereço,
Cheio de boa intenção,
O seu blog não tem preço.
E merece esta distinção.

Tudo o que possa dizer sobre a parte final desta ode é acessório. As palavras falam por si e qualquer tentativa de clarificar o pensamento Arrumadinhiano seria obscenamente redundante.




(Obrigado, Arrumadinha, é desta capacidade de não nos levarmos demasiado a sério e deste seu poder de encaixe que, em certos dias, mais precisamos. Um grande bem-haja pelo seu carinho, que, cada vez mais, merece o meu respeito.)



De onde se pode verificar que Pipoco tem o mais bonito dos poemas da maravilhosa "Pipoca Mais Arrumadinha"

«De seu nome Pipoco»

Nesta Blogosfera gigante,
Cheia de gente engraçada,
Eis que alguém inteligente,
Surge no meio do nada.
De seu nome Pipoco,
Com apelido Salgado,
O que disser ainda é pouco,
Tamanho é o seu legado.
Muitas tentam a sua atenção,
Na esperança de lá chegar,
Mas ficam pela intenção,
E continuam a tentar.
Até Tio lhe vão chamando,
Os anónimos e alguns nem tanto,
E assim lá vão passando,
Mas ninguém lhe causa espanto.
Este poema lhe ofereço,
Cheio de boa intenção,
O seu blog não tem preço.
E merece esta distinção.

E esta semana?

As meias com ar usado darão para mais uma ou duas abordagens alternativas ao tema ou teremos os livros de volta? E seremos nós ou as nossas personas a escrever os posts mais cabeludos? (é que, parecendo que não, é completamente diferente...). E debateremos exaustivamente a problemática do assobio do tipo das obras até que a argumentação atinja a náusea ou arrepiamos caminho e acabamos todos amigos, irmanados na maravilha de afinal não sabermos toda a história e vida das pessoas? E essa malandragem dos anónimos, continuará a dar a sua opinião sempre válida sem esquecer de fazer o logout ou há um dia em que a coisa corre mal? E as tribos dos blogues mantém-se com a lendária coesão à prova de bala ou teremos cisões de livres pensadoras? E saberemos distinguir os mercadinhos de roupa fofinha uns dos outros? E os mercadinhos onde se compra frutinha e verdurinhas, continuarão na moda? E, a tão poucos dias do sol, decidiremos pela dieta certa que nos fará estar em forma em Agosto ou será melhor optar, de uma vez por todas, começar a correr? E apostamos que aquilo são blogs "Paços de Ferreira", que num momento estão na liga dos campeões e no momento a seguir estão a lutar para não descer, ou apostamos noutra coisa qualquer?

08 junho 2014

Cabeça de Burro

Às vezes o melhor é não racionalizar, é aproveitar o momento único e usufruir da magia de as coisas serem como são. Em ocasiões assim, é evitar gastar energias desnecessárias no supérfluo que seria questionar que alinhamento de circunstâncias ali nos trouxe. Há alturas em que nada nos resta senão agradecer a generosidade, o mundo, os saberes e a energia daquele com quem partilhamos o Cabeça de Burro.

07 junho 2014

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Estarás no auge disso de amar alguém quando ambos apreciarem o prazer dos longos silêncios.

06 junho 2014

Talvez não saibas...

...que os aviões descolam sempre contra o vento.

05 junho 2014

E você, ja postou o seu retrato de sapatos e meias hoje?

É que familiar proximo de NM, familiar próximo de Palmier e Trollofthenorth já o fizeram...

E a Loura também.

São João também. Pode impressionar os mais sensíveis...

Xilre. Pura classe.

Maria Roque, quase a emocionar-me.

Palmier, agora ela mesma.

Anabela Julião e as suas meias de vidro...

Filipa, sempre fofinha.

A maravilhosa, talentosa e enorme Alexandra, que um dia me fez feliz e me ofereceu o header ali em cima.

Uva Passa, com uns sapatos iguais aos meus

Mirone e as sua botas "kitadas", modelo com iluminação por baixo

O Sexo e a Idade, sempre deslumbrante

Açoteia, numa proposta, digamos, ... , alternativa.

Pipoca Arrumadinha, que isto é preciso é diversão, sim.

Menino de sua mãe. Dos que tira as meias. Não é para todos... 

Xaxia. Last, but not least.

E agora é mesmo a última actualização, a impressionante Tia Izzie (quando um movimento shoefie é brindado com a participação da Tia Izzie, a coisa ganha uma imponência e uma validação intelectual superior...)

...e a incrível Cuca, uma das minhas maiores disto dos blogs 

Uma excepção ao last call para Leididi, sempre preocupada com a problemática cromática.

Adenda: Ao décimo shoefie, farei um update das minhas próprias meias e sapatos, para que todos vejam como um homem pode sempre evoluir e ter uma atitude diferente.

(ou então acabei de matar o movimento viral...)

O problema de algumas mulheres

Primeiro matam o pai e a mãe. Depois pedem clemência em tribunal, por serem órfãs.

04 junho 2014

Daqui onde me encontro

Um casal de andorinhas fez ninho no telheiro. Deixei de lá estacionar, apeteceu-me que tivessem tranquilidade e afinal o carro pode ficar num sítio qualquer,  se as andorinhas escolheram o meu telheiro é porque lá acharam que eu era tipo para não as aborrecer de manhã com portas de carro a abrir e fechar-se. Nasceram três andorinhas, só percebi quando estava a ler jornais ao sol, e as andorinhas não paravam de voar em modo circular, cada vez mais perto de mim. Habituei-me a ver três cabecitas a espreitar para fora do ninho e os pais a levar-lhes comida à boca e eu a sentir-me uma espécie de Tony Soprano a espreitar os patos na piscina. Um homem habitua-se a estas coisas e dá por si a desejar que corra tudo bem às três andorinhas que escolheram o meu telheiro, somos quase amigos, eu e as andorinhas do meu telheiro. A primeira andorinha saiu do ninho hoje e está a saltitar em cima do meu carro. Até o cão, que tem o saudável hábito de estraçalhar tudo o que lhe aparece à frente, guarda uma distância prudente e observa de longe a andorinha a tentar voar. Eu gostava de poder tirar o carro, mas é mais importante que a andorinha aprenda a voar sem ter que se preocupar comigo, afinal só tenho a primeira reunião a meio da manhã e sempre me deu tempo para escrever este post.

03 junho 2014

Contribuindo para um mundo menos perigoso e injusto (II)

Mas, Pipoco, e se nós acharmos que ela se está a insinuar, pois então se ela se roçou por nós na pista de dança e passou a língua pelos lábios e apontou para nós e no fim nos diz que percebemos tudo mal? 

Se ela diz que não, então é não. Um não é um não. Sempre. Sem segundas leituras ou interpretações.

Mas, Pipoco, e se ela tiver um decote dos grandes, podemos olhar-lhe para as mamas? 

Não. Somos pessoas civilizadas e sabemos perfeitamente como são umas mamas, não vale a pena estar a invadir espaços e a criar situações de desequilíbrio de forças. No limite, podemos olhar de relance quando ela virar a cara para chamar o empregado, desde que, quando ela se voltar de novo para nós, sejamos rápidos e os nossos olhos estiverem já ao nível dos olhos dela.

Mas, Pipoco, e para o rabo, podemos olhar para o rabo? 

Bem, aqui a literatura divide-se, alguns especialistas afirmam que sim, uma vez que, não estando elas a ver, isso não configura invasão de privacidade. No entanto, alguns autores defendem que, existindo a possibilidade de elas se voltarem de repente, pode dar-se o caso de darem conta de que lhes estávamos a olhar para o rabo, pelo que tal situação configuraria uma moldura idêntica à de lhes olharmos para as mamas. Por prudência será sempre mais aceitável não lhes olhar para o rabo, a não ser que se seja rápido a desviar o olhar em caso de manobra brusca por parte dela.

Mas, Pipoco, podemos dizer a uma mulher que ela é bonita? 

Depende. Se for nossa familiar até ao segundo grau ou mulher do nosso melhor amigo, podemos, desde que utilizemos um léxico adequado. Um "estás tão boa" é diferente de "estás muito bonita, com esse vestido de padrões florais, que te assenta tão bem e te confere um ar primaveril", a não ser que queiramos manifestar um misto de incredulidade e surpresa por uma mulher ter recuperado de um triplo AVC, seguido de atropelamento por um camião de seis rodados, situação em que a expressão "estás tão boa", por estar devidamente contextualizada, é aceitável. O "és mesmo boa" deve ser utilizado apenas quando nos dirigimos a mulheres que tenham uma comprovada acção filantrópica.

Mas, Pipoco, afinal quais são as fronteiras intransponíveis, seja aqui ou no Burkina Faso, sejam homens ou mulheres?

Primeira:  um "não" é um "não".
Segunda: nenhum tipo de violência é admissível nem tolerável, seja ela psicológica, verbal ou física.

Contribuindo para um mundo menos perigoso e injusto (I)

Uma pessoa contava-me um deste dias que foi chamada à escola (primária) porque a sua filha tinha batido a um miúdo e os pais do miúdo tinham-se queixado à directora. Sala com as mães do miúdo e da miúda, a directora, as duas crianças. A miúda confirmou que sim, que lhe tinha batido. Porquê? "Porque ele levantou-me as saias". Mãe do miúdo levanta-se, olha para a miúda e diz "Minha querida, nesse caso só se perderam as bofetadas que tu não lhe deste".

Fim de cena.

(mas, Pipoco, a agressão física justifica-se? Justifica, neste caso justifica-se, sem sombra de dúvida)

(mas, Pipoco, e se fosse o pai do miúdo a estar presente na reunião, o desfecho seria o mesmo? Na verdade era o pai do rapaz quem estava na reunião, falei em duas mães para seguir o estereótipo e não vos distrair do essencial da história)

(mas, Pipoco, achas que o miúdo aprendeu alguma coisa com a cena e vai ficar respeitar as mulheres para a vida ou vai associar a cena a um episódio traumático, com mulheres sempre do lado do inimigo? Não me fodam...)

(mas, Pipoco, achas que esta cena se poderia passar no Paquistão? Não, no Paquistão as escolas não são mistas e as mulheres vão pouco à escola. Não me fodam, uma vez mais.)

(mas, Pipoco, podíamos estar aqui a desconversar o resto do dia e analisar as trezentas nuances da coisa, não podíamos? Não, já perdi um avião hoje e estou sem paciência)

(mas, Pipoco, este post não aceita comentários, que injustiça, isto é mesmo o tipo de posts para muitos comentários, eu queria tanto dar aqui a minha opinião e dar graus de liberdade à tua leitura. É verdade, não aceita, as coisas são como são, o mundo é injusto. E perigoso.)

02 junho 2014

Em directo da Feira do Livro

Sentido de humor é as Edições Avante ficarem mesmo à frente da Editora Bíblica.

Microconto

Era uma vez duas pessoas que acharam boa ideia convidar-se mutuamente para escrever no blog uma da outra. Uma rebentou com o blog da anfitriã. A outra também.

Os problemas das mulheres

Primeiro publicam, depois é demasiado tarde

01 junho 2014

Vamos por partes, Leididi

Antes de mais, o mundo é injusto e perigoso e é preciso que saiba isto. A boa notícia é que o mundo é tremendamente simples, tudo se resume a instinto, lógicas de interesses e defesa de classe. Perceber isto o mais cedo possível poupa-nos a uma quantidade de decepções vida fora.

Depois, uma saia mais curta despertará sempre olhares e comentários (de homens e mulheres), os mesmos olhares que despertará um Rolex de ouro em Chelas, um homem de fato de treino cor de rosa no ginásio ou um cachecol do Benfica no meio da claque dos Super Dragões. E fique sabendo que os homens são igualmente gozados por ser gordos e baixos e gagos e com óculos e, um exclusivo de género, os homens são gozados por ser carecas antes do tempo. E saiba ainda que os homens implacáveis lá no trabalho deles se dirá que são igualmente mal-fodidos, na variante "como lá em casa é um pau-mandado, vinga-se aqui", que os homens também são assediados, com a desvantagem de, resistindo ao assédio, "é porque não gostam de mulheres", são assediados porque têm o poder de decidir, são assediados até pelo que escrevem (mas não me queixo, afinal "ponho-me a jeito"). Resumindo, o mundo é injusto e perigoso para todos, homens e mulheres.

Terceiro, o problema do seu post, é generalizar e tratar por igual todos os homens, como se todos, só por questão de género, fossem uns monstros poderosos, que surgem do escuro e atacam mulheres indefesas, como se todos matassem as mulheres que lhes dizem que não, como se o mundo fosse um corredor estreito onde as mulheres passam no meio e os homens estão de cada lado do muro, garrafa de Super-Bock na mão, prontos para repetir a cena do Silêncio dos Inocentes, quando a Clarice Starling visita o Dr. Lecter e passa no meio das celas dos presos, como se as mulheres não tivessem opções, nenhuma opção.

O mundo é injusto e perigoso mas não tão injusto e não tão perigoso como seria se todos os homens fossem monstros, eu continuarei a achar bonitas as mulheres que são bonitas e menos atraentes as que do meu ponto de vista são menos atraentes (e guardarei para mim a minha opinião), considerarei mentes brilhantes as que efectivamente o são (e nem todas o são), continuarão a fascinar-me as que são mães extraordinárias (e não imagina como eu sou um pai extraordinário), mas, ao mesmo tempo, continuarei a descontar a generosidade do decote no dia das entrevistas, continuarei a escolher quem for mais competente (é por isso que escolho seis mulheres em cada dez possibilidades), continuarei a não desculpar os que destratam, os que violam, os que ofendem e os que matam (mas só esses).

Finalmente, não é por deixarmos de se escrever sobre gatinhos abandonados ou por eliminarmos as rubricas "Uma coisa para ver, outra para ler, uma para comer e outra ter" (sempre comprou o tal fato de banho que a vai pôr elegantérrima este Verão?) que o espaço será ocupado por sessões de esclarecimento sobre como se deve tratar uma mulher. O mundo é mesmo perigoso e injusto, não sei se já tinha dito.