28 maio 2021

Diante do pelotão de fuzilamento

 Da mesma maneira que as famílias felizes se parecem todas umas com as outras e cada família infeliz é infeliz à sua maneira, os amores que realmente contam são os que estão sempre revoltos, as pazes sempre  por fazer, os outros, os da lareira acesa e cafunés, os de mantinhas e mau cinema, os de suspiros e concórdia, soam-me todos a música de elevador e a bacalhau com natas.

8 comentários:

  1. Plenamente de acordo. Não precisa ser uma eterna revolução mas, quando "parece" tudo muito certinho, tenho para mim, que alguém está a fazer frete.

    Bom dia, sô Pipoco


    ResponderEliminar
  2. Ora essa! Deveria ter-se ficado pela música sensaborona de elevador, caro Pipoco. Misturar bacalhau com natas, que tanto tem que se lhe diga, com música para todos os ouvidos, até é um sacrilégio...
    Se provasse o meu bacalhau com natas, mas sem elas, haveria de ver o que era a fina flor dos pratos do fiel amigo. :-)

    ResponderEliminar
  3. Cláudia Filipa28.5.21

    Ai o que foi arranjar agora...

    Uma vez, naquela idade em que uma pessoa está cheia de pujança para mudar o mundo, fiz um trabalho para a escola. Sabe como começava? "Há duas mortes em vida, a propriamente dita e o casamento" (hoje acrescentaria o ajuntamento de facto).
    Dissertava eu, entre muitas outras coisas, sobre a importância que as pessoas davam à palavra "arrumar" neste contexto, "ah, fulana tal ou fulano tal, já está arrumado", ou o descanso com que diziam "já tenho os filhos arrumados", repare, quando uma pessoa está às portas da morte, os que têm menos poesia nas palavras, também costumam dizer " está arrumada/o". É assim uma ideia de arrumação de pessoas, bem dobradinhas e tudo, tal qual roupa nas gavetas.
    Daqui para a frente, serei eu independentemente do tal trabalho (ainda não me passou a tendência para esticar o dedo). É a palavra "arrumar" e a palavra "agarrar", uma lindeza de palavras para a temática amor, não são? (estou a lembrar-me de outros tempos e do desespero da mãe das cinco raparigas, para arrumá-las bem arrumadas, no maravilhoso "Orgulho e preconceito"). Por falar em livros que para mim valeram tanto a pena, já leu "Eliete" de Dulce Maria Cardoso? Um exemplo perfeito de arrumação, a Eliete e o Jorge... como tal, estão lá todos os clichés nos quais podemos integrar perfeitamente o mimetismo do que é tido como grande felicidade para a nossa época, sim, lareira e cafunés, mantinhas e mau cinema, suspiros e concórdia, acrescentando o factor encenação perfeita para a fotografia nas redes.

    O problema do amor, na minha modesta opinião, quando se ama mesmo a sério uma pessoa e não uma ideia idealizada de amor ou a ideia de um futuro arrumado, é que o amor desarruma, o amor pode não dar mesmo jeito nenhum, traz um verdadeiro desassossego e medo de perder, estava uma pessoa tão descansada e agora está ali de coração aos saltos, mas que chatice do caraças o amor, mas qual arrumação qual quê, é passar a viver com o coração nas mãos e com a certeza de que uma pessoa não tem nada que ver, nem com a morte, nem com os impostos, não está garantida e não é coisa que se "agarre". E mesmo quando há mantinha e mau filme, suspiros e concórdia, lareira e cafunés, está lá sempre aquela percentagem de desassossego pela nossa condição humana de pôr os pés em argolas e aniquilar preciosidades.

    Penso que se nota, mas mesmo assim quero dizer que adorei este bocadinho.

    ResponderEliminar
  4. Duas coisas que também abomino: música de elevador e bacalhau com natas. Já a paz no amor, não sei...bem mais complexa a questão.
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois claro que é bem mais complexa a questão. Caso para pedir ao ilustre cronicista do correio da manhã: DEFINA AMOR.

      E já agora, partindo do princípio que o bacalhau com natas obedecerá a uma receita qualquer (excluir naturalmente o bacalhau da janita, por razões óbvias), defina música de elevador.

      Eliminar
    2. Peço desculpa ao correio da manhã, na verdade este arremedo de crónica estará mais ao nível de uma revista ana ou marie claire...

      Eliminar
    3. Então, Kiba? Outro dia mau?

      Eliminar
  5. Que mistura de histórias. Linha de comboio, em consonância.

    ResponderEliminar