11 novembro 2020

No dia em que perdemos Gonçalo Ribeiro Teles, que isto anda tudo ligado

Tomei conhecimento do último livro de best of do Miguel Esteves Cardoso, esse herói dos sagrados anos noventa, em que eu e outros como eu acreditavam que se tinha inventado um jornal capaz de vender mais do que o Expresso, uma coisa quase tão impensável como o Pipoco Mais Salgado ter mais comentários do que a Pipoca Mais Doce, o blog, quiçá a segunda das improbabilidades talvez já tenha acontecido, embora já cá não esteja ninguém para ver, e eu, que à época achava maravilhoso que alguém escrevesse como MEC, capaz de pegar em qualquer coisa que os portugueses fizessem, fosse a maneira de comer azeitonas em Moimenta da Beira ou os extras que se colocavam à época nos Ford Escort XR3i, só o vocalista dos UHF teve três, eu, que gabava a sorte do meu amigo Zé Gringo, que tinha o pai a trabalhar numas plataformas em Angola e já tinha ido ao Texas, o Zé Gringo era visitado pelo homem do Círculo de Leitores e podia encomendar dois livros por mês, benesse que ele desbaratava olimpicamente encomendando Lobsang Rampa, uma espécie de Paulo Coelho daqueles tempos, mas em mais alucinado, eu, que era eu, desperdiçava o meu tempo a decorar a terceira pessoa do pretérito perfeito e as todas as subdivisões dos mamíferos e dos aracnídeos, saberes tão inúteis como ter decorado um número demasiado grande de letras de canções de José Cid e dos Sitiados, ou seja, em vez de o Ministério da Educação patrocinar a pessoas como eu assinaturas do Times e do Le Monde, do Jornal de Letras e do Blitz, talvez uma Photo para desenjoar, encharcava-nos de saberes inúteis e que nunca me fizeram falta, mesmo contando aqueles dias em que queria impressionar a Maria de Lurdes, ela assinava Maria de Lourdes, e gostava dessas coisas da natureza, eu fazia o que melhor sei, inventava subgrupos de espécies e ela ficava impressionada, anos mais tarde acabei por saber que era lésbica, eu e o meu jeito para antecipar futuros com mulheres, mas, dizia eu, tomei conhecimento do último livro de Esteves Cardoso, o tal best of, e entristeceu-me, como me entristece ver o Herman José ou a Lena de Água, símbolos de um tempo bom, era o tempo em que nos abraçávamos e se começava a noite no Bairro Alto com um Pontapé na Cona, essa mistura de que ninguém conhecia os ingredientes e ainda bem.

3 comentários:

  1. Cláudia Filipa11.11.20

    Pois perdemos Gonçalo Ribeiro Teles.
    E poderia dizer que foi o que me fez comentar este post, mas a verdade é que não foi.
    Poderia dizer que foi a referência ao MEC, que o MEC é o MEC, e é pessoa para fazer-me querer comentar situações, que é, mas não foi;
    Poderia ter sido para arreliar-me consigo, a valer, por causa dessa história dos comentários e de não estar ninguém a ver ou lá o que é, mais não sei quê e assim, mas não foi;
    Poderia ter sido para dizer-lhe que acho que o Herman se reinventou e está a fazer uns bonecos fantásticos, para além de achar que o Nelo e a Idália já são particularmente bons, há muito tempo, e que a única coisa que não perdoo ao Herman é aquilo de pintar o cabelo, com isso sim, não me conformo, mas não foi;
    O que me fez mesmo querer muito comentar este post, toda divertida, ainda por cima, foi a vontade de contar-lhe que a minha mãe também se chamava Maria de Lurdes e também assinava Maria de Lourdes, também era pessoa para ficar impressionada com subgrupos de espécies, (já lésbica, não seria...)
    Até vou deixar-lhe aqui um sorriso gráfico em destaque e tudo, não resisto: :-)

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  2. Anónimo12.11.20

    Ufa tio, fiquei cansada com a sua escrita. Nso podia colocar uns pontinhos e uns paragrafos?
    Ufa,
    Vw

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  3. Jesus! Passou-se...desta vez deu um murro na mesa e virou-a com um pontapé.

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