09 abril 2019

Porque hoje podia ser dia dezassete de Abril

Ou então talvez o problema fosse nunca veres as mesmas coisas que eu, bem podíamos olhar exactamente do mesmo ângulo um qualquer pormenor de uma dessas cidades que calcorreámos juntos e não víamos o mesmo, um via o pitoresco do pintor de rua a meter conversa com a rapariga da estátua de um conquistador do tempo em que havia conquistadores, outro desdobrava-se em explicações sobre a história nunca contada daquelas pedras antigas, bem podíamos jantar no mesmo restaurante, um havia de notar a suavidade da noz moscada no bacalhau fresco e a originalidade do sal dos himalaias na tarte tatin, o outro havia de notar que, por aquele preço, uma operária têxtil do vale do Ave tinha que trabalhar duas semanas, bem podíamos ler o mesmo Ulysses, um havia de se deliciar com as cambiantes possíveis que cada uma das sete mil e duzentas páginas nos oferece, o outro havia de se focar na má qualidade do retrato da contracapa.

Havíamos de ter sido felizes, parece-me.

17 comentários:

  1. São os opostos que se atraem e se completam.
    Também me parece que poderíamos ter sido felizes sim, mas não, não fomos, e sei bem, juntos, nunca o seremos. Tão perto e tão longe estamos...

    ( Não é só Dom Xilre que tem o direito de se dirigir à leitora, falando para toda a gente, não acha? Assim sendo, tomo este post como se fosse escrito para mim, ora! )

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  2. Sem dúvida, completam-se

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  3. Não querem lá ver que Mr. Pipoco ficou embaraçado?
    Não seja tão formal, homem. Isso que escrevi antes foi tudo numa de brincadeirinha...Santo Deus!! Até me esqueço que estou no bairro chique da blogosfera, onde se fazem viagens para Paris como se comem caracóis e tremoços aí num outro blogobairro...Apre!

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  4. Havíamos de dar-nos bem, ser amigas e comentar as picuinhices do Pipoco...parece-me.

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  5. Anónimo9.4.19

    Agora acordou uma memória de um dezassete de Abril a viver em Roma, numa casa quase vazia, com o recheio ainda a subir o Oceano Atlântico dentro de um contentor, depois de um dia inteiro a tomar conta de dois romenos que montavam uma cozinha daquelas temporárias de loja escandinava, finalmente acabada a instalação e batida a porta da rua do apartamento do quinto andar do palazzo do Largo Chigi, com a chave na fechadura do lado de dentro, a polícia, os bombeiros, não afinal é com a primeira empresa que encontrar no google, duas horas depois, cansaço misturado com fome e trezentos euros e dois indivíduos assustadores, uma radiografia e uma chave de parafusos e não mais do que quatro minutos, até ficar a saber que em Itália o dia dezassete é o dia da má sorte. Não fomos infelizes em Roma, foi foi duro.

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    1. Anónimo9.4.19

      experimente Tânger.

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    2. Anónimo9.4.19

      Conte então o que se passa a dezassete de Abril em Tânger.

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    3. Anónimo9.4.19

      you don't want to know.

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  6. Anónimo9.4.19

    Em dois mil e quinze já o lia, e ainda antes lá do hemisfério Sul. Gostei de cá passar e constatar que estamos os dois a ficar uns saudosistas blasé.

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  7. Cláudia Filipa9.4.19

    As perspectivas diferentes enriquecem-nos. Foi precisamente por isso que comecei a ler blogs, a ler, a ver pinturas a acontecerem cada vez melhor, a ver retratos que são uma outra perspectiva, nunca são demais as perspectivas diferentes.
    Já aprendi muita coisa aqui, acrescentei-me, cresci, penso até que, ainda com alguns erros, até já sei lidar melhor com as vírgulas.
    Até me apetece fazer um brinde a todas as pessoas que nos acrescentam e que nos fazem felizes.

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  8. Descreveu em parte a minha vida...e acho que sim, sou feliz.
    ~CC~

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  9. Salgadinha10.4.19

    "Ou então talvez o problema fosse nunca veres as mesmas coisas que eu" Fim de citação.
    Aqui a coisinha desencaminhada traduziu assim.
    O problema foi teres ideias próprias e não seres a ovelhinha obediente e bem mandada.
    Mas não desista porque ainda há das educadinhas muito obedientes e a felicidade sorrir-lhe-à.

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    1. Anónimo10.4.19

      esse acento grave já é do acordo de '40... vá lá então.

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    2. Salgadinha11.4.19

      É comigo que está a falar? O que tem o acento grave? Qual acento grave

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    3. Anónimo12.4.19

      Aquele que está, mas não é! Amarguinha...

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  10. Anónimo15.4.19

    É para mim o post, não é Pê? Porque hoje podia ser dia treze de Abril.
    Havíamos de ter sido felizes, sim. Fomos felizes.
    N.

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    1. Salgadinha.16.4.19

      E pronto. Eu já estava mesmo a prever que a desgraça ia acontecer.
      E não tem remorsos de construir a sua felicidade por cima de duas inconsoláveis viuvinhas. Duas inconsoláveis e as restantes muito entristecidas de corações partidos.
      Má sina a nossa. Tanta delicadeza e meiguice despendida e vem esta que nem gosta da literatura de classe nem da comidinha requintada e afoga as nossas esperanças.
      Pronto, sofrimento pela incompreensão dos machos sem entranhas é o nosso triste fado.

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