16 março 2019

Fechando o capítulo da Índia

Muitos dias depois de regressar, eu que sempre soube que as coisas são como são, desconfio das memórias e questiono se foi como as recordo que as coisas se terão realmente passado, Forster escrevia que "nada na Índia é identificável, e o simples facto de querer identificar alguma coisa provoca o seu desaparecimento ou a sua transformação em algo diferente", é precisamente assim, talvez o colchão do ashram não fosse tão duro, talvez o perfume do incenso na cerimónia do Aarti não fosse assim tão intenso, talvez a estremecimento ao tocar as águas do Ganges não fosse assim tão forte, talvez o deslumbre de caminhar nos Himalaias não fosse assim tão mágico, talvez o frio em Leh não fosse assim tanto, talvez a comida não fosse assim tão picante, talvez as pessoas no comboio não fossem assim tantas, talvez.

9 comentários:

  1. Continue a escrever, caro dom Pipoco, é que ao ler estes dois últimos posts dá para perceber que faz por aqui muita falta numa blogosfera um nadinha moribunda.

    (não se aceita um "talvez" como resposta)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Continuarei, Maria, assim o que tenha para contar caiba aqui.

      (os blogs deixaram de ser um lugar onde as pessoas se podiam aborrecer umas às outras e isto ficou um pedacinho mais deserto)

      Eliminar
  2. E, no virar dessa última página, atrevo-me a dizer que a Índia de E.M.Forster, não é mais a mesma da actualidade. Assim, como no meio de tantos incertos «talvez», só uma certeza lhe ficou, Mr. Pipoco.
    O sabor inconfundível e mágico, desse primeiro café, tomado ao chegar. Verdade?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A Índia de Forster ajuda a entender a Índia de hoje, Maria Antonieta.

      (ficou a certeza de que voltarei à Índia...)

      Eliminar
  3. Cláudia Filipa16.3.19

    Talvez. Mas, e agora apetece tanto trazer para aqui Gabriel García Márquez, mas, merece que não me limite a despejar aqui uma citação e pronto, então, vou dizer que, mesmo que o pedaço de Índia pelo qual passou, que viveu, não seja exactamente assim, mesmo que tudo tenha ficado mais intenso na sua memória, são essas suas memórias que são a sua Índia, são a Índia vivida por si, afinal, será uma outra perspectiva de "as coisas são como são", aquela que dá o protagonismo às recordações, à forma como as coisas são recordadas, e passa para segundo plano eventuais inexactidões, passa para segundo plano, esse talvez.

    ResponderEliminar
  4. salgadinha17.3.19

    Imagino o deleitoso prazer do senhor Pipoco a banhar-se nas águas do Ganges, purificadas por milhares e milhares de cadáveres putrefactos com as entranhas dilatadas espalharem o perfume para o seu banho.
    Ganges o cemitério da toda a Índia.
    Aqui a coisa também conhece a Índia, e não só de visita ou de passagem.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cláudia Filipa17.3.19

      Os blogs continuam a ser um lugar onde as pessoas se podem aborrecer umas às outras, lá está, o Pipoco permite este tipo de serviço público, se, pelo menos, as pessoas fossem competentes ou tivessem alguma razão nessa tentativa de aborrecimento. Salgadinha, calha-lhe a si, outra vez, pelo menos escolheu um nome giro, e, ao contrário do que acontece quase sempre, apetece-me não abanar apenas a cabeça e vou dizer o que estou a pensar, o que terá que ver: "talvez o estremecimento ao tocar as águas do Ganges não fosse assim tão forte" com "o deleitoso prazer do senhor Pipoco a banhar-se nas águas do Ganges..." oh pá, a sério, lá está, eu nunca poderia ter um blog, andava eu tão bem e depois ia para o blog enervar-me. Desculpe, Pipoco, não precisa de advogada de defesa, eu sei, e está farto de saber que as coisas são como são, mas, às vezes, não resisto.

      Eliminar
    2. Salgadinha, lá para os lados do Ganges de cima, mais junto à nascente, o rio é razoavelmente limpo e não é uma ideia despropositada tocar o rio com a palma da mão.

      (estranho que uma profunda conhecedora da Índia não saiba uma coisa assim)

      Eliminar
    3. salgadinha17.3.19

      senhora dona Cláudia Filipa. Invertemos os papéis, é? A dama à liça pela honra do príncipe ultrajado.
      Senhor Pipoco. Não sou uma profunda conhecedora da Índia...toda.
      Junto à nascente a água é límpida e cristalina, deve ser, como serão todas as águas de todos os rios deste mundo. Assim parecido com uma criança acabada de nascer que é sempre inocente e pura.
      Mas sinto-me imensamente grata e honrosamente lisonjeada ter-se dignado ao favor de uma resposta para mim.
      Sinto-me como uma avezita órfã e desprotegida a quem o Céu concedeu a sublime benesse da felicidade.
      senhora dona Cláudia Filipa, fale comigo quando eu falar consigo.

      Eliminar