09 junho 2014

Breve contributo para descodificar a densidade dramática que a autora Pipoca Mais Arrumadinha transmite ao seu poema maior "De seu nome Pipoco"

Poderemos pensar que a Pipoca Mais Arrumadinha, do alto da generosidade e paciência que todos lhe reconhecemos, apenas pretende presentear cada um de nós com singelas palavras, numa espécie de tributo sentido a esta grande casa que é a blogosfera. De facto assim não é, seria um transtorno para a humanidade em geral e para os blogs em particular que nos ficássemos por uma análise superficial, olvidando o essencial da mensagem Arrumadinhiana, as suas particularidades, as suas múltiplas propostas de abordagem.

É neste contexto que descodificarei o poema "De seu nome Pipoco", uma ode inspirada e que representa de forma sublime o período de pujança máxima da corrente Arrumadinhiana, um poema iconográfico e que condensa em poucas palavras toda a minha própria obra, num exercício notável de clarividência e coragem.

Sem mais delongas, debrucemo-nos sobre o essencial:

Nesta Blogosfera gigante,
Cheia de gente engraçada,
Eis que alguém inteligente,
Surge no meio do nada.

É notória a influência que os Russos exerceram em Pipoca Mais Arrumadinha, a aparente dissonância entre uma blogosfera gigante, uma reminiscência dessa torre de Babel que nos contava Brughel, o Velho, e a singeleza do nada, do surgimento daquele que havia de colocar ordem no caos, servindo-se de nada mais do que as suas capacidades cognitivas e dos seus longos saberes, alicerçados em doutrina. É impossível não se pressentir nesta estrofe uma forte influência do Velho Testamento, quando Bartolomeu, o Bizantino, surge da nuvem que cobria a planície de Cafarnaum e acalma o povo da Judeia, usando nada mais que sábias palavras e portentoso intelecto.

De seu nome Pipoco,
Com apelido Salgado,
O que disser ainda é pouco,
Tamanho é o seu legado.


Neste pedaço de excelência, abstraíndo-nos da assertividade com que Mais Arrumadinha sintetiza o essencial do personagem a quem dedica o poema, trabalhando o supérfluo de tal forma que nos remete magistralmente para a informação mais básica, fica apenas o subliminar da mensagem,  a forma superior como Mais Arrumadinha galvaniza o tamanho do Pipoqueno legado, sendo que, neste caso, deveremos entender que o legado poderá não significar apenas o essencial de um pensamento, aquilo que perdurará, mas também, numa abordagem livre, nos convida a não ficar reféns de uma abordagem redutora, significando neste caso que "tamanho é o seu legado" pode ser entendido de formas alternativas a um entendimento mais clássico.

Muitas tentam a sua atenção,
Na esperança de lá chegar,
Mas ficam pela intenção,
E continuam a tentar.

Se dúvidas persistissem do estudo aturado que a minha vasta obra mereceu a Mais Arrumadinha, estas seriam certamente dissipadas pela leitura deste trecho. Efectivamente, é longo e de difícil localização na lonjura dos tempos o número das que, com tenacidade e persistência, tentam captar a minha atenção, jamais dissuadidas pela triste realidade dos resultados. Há neste trecho uma mensagem de esperança, um convite à insistência, focadas no júbilo de finalmente ser alcançado esse desiderato, nunca desistindo, um esforço e tão bem resumido no "E continuam a tentar" final, que aqui nos surge como uma piscadela de olho a Sísifo, outro filisteu dos maiores.

Até Tio lhe vão chamando,
Os anónimos e alguns nem tanto,
E assim lá vão passando,
Mas ninguém lhe causa espanto.
Este poema lhe ofereço,
Cheio de boa intenção,
O seu blog não tem preço.
E merece esta distinção.

Tudo o que possa dizer sobre a parte final desta ode é acessório. As palavras falam por si e qualquer tentativa de clarificar o pensamento Arrumadinhiano seria obscenamente redundante.




(Obrigado, Arrumadinha, é desta capacidade de não nos levarmos demasiado a sério e deste seu poder de encaixe que, em certos dias, mais precisamos. Um grande bem-haja pelo seu carinho, que, cada vez mais, merece o meu respeito.)



14 comentários:

  1. "...as neere is Fancie to Beautie, as the pricke to the Rose, as the stalke to the rynde, as the earth to the roote."

    John Lyly, Euphues and his England, 1588

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  2. Depois disto, voto em Pipoco para analisar o acervo literário de Pessoa.

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  3. Olhe nem sei que lhe diga, acho que foi a minha primeira análise completa a um poema, magnífico!

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  4. O poema da Mais Arrumadinha já é per se fenomenal, mas está explico- dissecção deixou-me siderada. Nem sei se me curvo , se desato a fugir (reticências) Uau!!

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  5. Está feito o post, no meu blog, ao movimento «Faz um poema ao meu blog», obrigado pela sua generosidade e simpatia caro Pipoco Mais Salgado, ficou muito engraçado!

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    1. (desculpe a intromissão, Senhor...)
      Pipoca Arrumadinha, eu que gosto tanto de quadras (estrofes é mais complicado, confesso), dizia eu que gosto tanto disso das quadras que já lhe deixei uma no seu estaminé. Espero que aprecie :) , e isso!

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    2. E ficou muito engraçada!

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  6. Pois que me apetece aqui citar Carlos Nogueira, na sua análise a "Festa Redonda", de Vitorino Nemésio:

    "A força simultaneamente centrípeta e centrífuga dos poemas coligidos nesta obra provém da literatura de transmissão oral, metamorfoseada em poesia individual e original pelo punho de um poeta que, na singeleza aristocrática do seu espírito criador, demanda ou constrói a sua própria (uni)diversidade idiossincrática."

    Debruçando-me perante a obra e a análise decorrente, identifico forças centrífugas e centrípetas, consigo descortinar alguma singeleza, vislumbrar um toque aristocrático. Mas, sobretudo, o que me esmaga é a (uni)diversidade idiossincrática.
    Em resumo, direi mesmo mais: acho que ficou muito engraçado!

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    1. Ó Xilre, ri-me!
      Faz mal? :D

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    2. Falta explicar, queridíssimo X, se a sua citação se aplica ao poema ou à dissecção explicativa, ou - e porque não, a ambos (reticências)

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  7. Pipoco (MS) e Pipoca (MA) são um e o mesmo o outro, e aquele, ambos os dois? As vírgulas denunciam, ou, então, é coisa que se pega o que será sempre uma coisa bonita e especial!

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  8. Está uma análise muito bonita sim!

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  9. Anónimo10.6.14

    Análise absolutamente extraordinária! :)

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