O melhor da minha espécie de confinamento é estar prestes a conseguir o equilíbrio perfeito da quantidade de lima no risotto de gambas, um micrograma a mais ou a menos e é a tragédia, lá se vai o risotto perfeito, é um exercício de tentativa-erro que comecei ainda antes de começar a ler Ulysses, por outro lado estou a especializar-me no conhecimento do exacto momento em que alguém vai desejar saber a minha opinião sobre o que realmente importa para os destinos da humanidade, como vão evoluir os futuros do carbono ou quando vai ficar competitivo o hidrogénio verde, agora preocupo-me menos com o Brent, mas estou a especializar-me, dizia eu, em antecipar em trinta segundos o momento em que do outro lado do écran vão solicitar a minha palavra sábia, sempre tenho tempo para desviar o olhar do comparativo da produtividade do Coates nos jogos mais a doer e naqueles onde teoricamente temos a obrigação de nos desembaraçar, nesses trinta segundos coloco o meu ar mais sabedor e digo os números que sei que irão ancorar a conversa daí para a frente, sempre com a voz firme e o ar convicto de quem sabe que os números podem ser aqueles ou outros quaisquer.
E, pelos vistos, anda também a ensair para escrever: "Ensaio Sobre Como Imitar Saramago"...até fiquei sem fôlego. Só a pausa das vírgulas não aliviou a minha angina de peito.
ResponderEliminarBom fim-de-semana.
Os confinamentos também me trouxeram um acréscimo de prazer por cozinhar, dando tempo, experimentando coisas novas, condimentos, especiarias todas juntas em misturas improváveis, há um tempo, para mim. E é tão bom o poder que tem para abstrair-nos, para levar-nos, por momentos, para longe do caos do Mundo, para longe desta altura particularmente difícil. Nascer, das nossas mãos, alguma coisa reconfortante e deliciosa, até provoca assim aquele arrepio bom. Sabe, no meu caso, na verdade, também tem contribuído muito para isto, ter descoberto o quanto o 24Kitchen me descontraía/descontrai quando estou com o cérebro a ferver e preciso de pausa para os neurónios se reorganizarem, acho que faz comigo o que a meditação faz a outras pessoas. Acho tudo aquilo particularmente bonito, bem-feito, boa onda, e, embora não seja fiel a seguir receitas, a verdade é que, naturalmente, fui aprendendo, com todos eles, ao longo do tempo, uma data de coisas, que depois ponho em prática.
ResponderEliminarUma coisa para a qual tenho também mais tempo, mais do que tempo, a questão é mesmo mais disponibilidade mental, é para ler livros, e, um dos meus actuais prazeres, que está a ser assim mesmo gigante, mas mesmo, o que estou a adorar senhores, e que, com pena minha, estou quase a acabar, volto a ter, porque faço questão, de agradecer-lhe, porque está a acontecer "derivado" de um post seu, sabe o que é? Digo, já, já: "O museu da inocência", de Pamuk.
(quanto à maioria das previsões, no atual contexto, de facto, creio que poderão ser umas ou outras quaisquer)