Filmamos a performance dos que se esqueceram de desligar a câmara em vez de os avisar do deslize, olhamos de viés para os mais velhos que, atrevidos dos velhotes, estão na rua em vez de estarem a ver o programa das televendas, batemos palmas aos da saúde mas evitamos sentar-nos ao pé deles, que isto nunca se sabe, tanto tempo passado no hospital com tanta bicheza pelo ar, deitamos a culpa à miudagem, sempre em festarolas e a beber cerveja depois das oito da noite, amedrontamo-nos com o teatro mas não nos importamos com a fila da loja irlandesa de roupa ruim, reclamamos baixinho do jantar da família do vizinho do quinto esquerdo, onze pessoas à mesa, uns inconscientes.
Isto da pandemia está a fazer de nós uma boa merda de pessoas.
Ah, meu caro, mudam as máscaras mas a mesmíssima merda.
ResponderEliminarConvém esclarecer que a palavra merda não tem sentido pejorativo, ou outro, afinal as coisas são só como são. Já eram e hão de continuar sendo.
EliminarAh, mas essa afirmação de inocuidade da palavra merda, eu subscrevo-a totalmente...
EliminarAssinam: As mesmas do 3º comentário.
....já para não falar no chorrilho de maledicência e propaganda do assunto em causa, que se estendeu até à blogosfera. Nomeadamente a certo blog insuspeito nestas coisas de lavagem de roupa suja - alheia, claro - dando trela a comentários qual 'compadre' de 'soalheiro'...Uma tristeza, um desencanto!
ResponderEliminarTem razão Dom Pipoco, com isto da pandemia as pessoas mostraram a merda que estava escondida atrás do verniz da aparência.
Janita - Maria Antonieta.
( ao seu dispôr e só por ser para si )
ou talvez não esteja. talvez já fossemos.
ResponderEliminarJá eramos; só que, oh ironia, a máscara que agora temos de usar, se nos tapa a cara, destapou a mente...
Eliminar"está a fazer"?! meu caro pipoco, se muito, isto da pandemia só nos desnuda um pouco mais. aqueles que sempre tiveram mau fundo, má presença, fraca camaradagem, fraca autoestima e língua afiada não irão melhor, pelo contrário, racha-lhes a casca com mais facilidade e atacam mais às claras.
ResponderEliminarnão, amigo pipoco, está tudo igual, apenas um pouco mais agastados.
Sem querer recorrer a abomináveis faculdades, parece me que o medo, em específico o da morte, nos deixa bastante vulneráveis à nossa linhagem animal(esca). Mais máscara menos máscara andamos todos ao mesmo, quero dizer, somos umas belas bestas.
EliminarSomos, sim, Kina, mas uns mais do que outros, diga-se, em abono da verdade.
EliminarForte abraço!
Infelizmente, a merda já cá estava. Escondiam-na muito bem!
ResponderEliminarEsta "coisa fofinha" de que a pandemia nos tornaria melhores pessoas revelou-se uma enorme falácia.
Saúde, caro Pipoco!
https://covid--20.blogspot.com/2020/09/a-nova-etica.html
ResponderEliminarA merda, não nasceu agora, só veio ao de cimo.
ResponderEliminarBoa tarde, e paciência sô Pipoco
E eu estou a começar a ficar aterrorizada...outra vez.
ResponderEliminarIsto de viver com medo e sem ser livre é complicado
Vw
Vi, um dia destes, nas notícias, um senhor que, por circunstâncias da vida, mora mesmo debaixo de uma ponte. Com cartões, mobiliário, um pequeno fogão, tudo retirado do lixo, reciclou, restaurou, construiu uma casa. Os cartões tinham imagens coladas, desenhos e escritos, bonitos, coloridos, com alguma inocência até, poemas, dizeres que tinha achado significativos e coisas que tinha sentido vontade de escrever, perguntavam-lhe se era para vender, mas não, não era para vender, era só para alindar-lhe a casa. Tinha criado prateleiras, e, nessas prateleiras, tinha fotografias em molduras, também encontradas no lixo, tinha imagens da família de outros e fazia de conta que era a sua, é que tinha ficado órfão com oito anos e nunca tinha conhecido mais nenhum familiar, aqueles desconhecidos, agora nas suas prateleiras, faziam-lhe companhia. Mostrou a sua casa inventada, escondida para lá dos cartões, com visível orgulho na arrumação e na limpeza, a roupa limpa dentro de um saco numa gaveta, disse que tinha deixado de ir aos balneários públicos, lavava-se à maneira antiga, alguidar e água aquecida, porque, por mais que as senhoras limpassem, estavam sempre muito sujos e acrescentou "aqui não me falta nada". Mostrou o que ia ser o almoço, mais os legumes que tinha e a carne embalada para outra refeição, mostrou o quarto, cama, um candeeiro e um rádio a pilhas, companhia das noites agora com algum medo, que já tinha sido assaltado duas ou três vezes, não me lembro (eu), e apenas constatou, aliás, não se queixou de nada, e falou dos amigos que ali tinha feito e das pessoas para as quais fazia alguns biscates e que lhe davam coisas, que para ele sobrava, então, distribuía por umas quantas famílias, sabia que estavam a passar necessidades, que tinham menos que ele, e, sim, lá partiu com dois sacos cheios para a distribuição, sem alarde, sem filmagens a revelar identidades, apenas ida e regresso. Depois, lá tirou dos recantos mágicos escondidos pelos cartões uma pequena mesa e umas cadeiras e chegaram os amigos para a combinada noite de dominó, que, pelos vistos, acontecia todas as noites.
ResponderEliminarNão sei se viu, contei-lhe porque talvez esta história possa fazer consigo o que estas histórias, o que estas pessoas, fazem comigo, se estiver zangada, reconciliam-me com a humanidade. São pessoas de uma grandeza tal, mesmo no meio de quase nada, que acho que têm o poder de absolver-nos a todos. Elevam-nos da merda.
CF a menina imocionou-ma pela sua sensibilidade e simplicidade, como conta essa história tao profunda.
EliminarObrigada pela partilha
Vw
(depois de ter visto, VW, apeteceu-me contá-lo aos sete ventos. Aqui, a escrever, só estava com medo de não estar à altura da dimensão do que vi, de não estar à altura da dignidade dele, de não conseguir contá-lo como acho que merece. O mérito é todo dele que me fez escrever com o coração nas mãos.
EliminarObrigada eu, VW, pela sua sensibilidade ter ido ao encontro do pretendido e por ter contado.)
Despertou o agente da PIDE em cada um. Todos se vigiam e controlam. Gostam de regras, normas e limitações, quantas mais melhor, mais seguros se sentem. É uma boa altura para aparecerem os ditadores, iria ser facilinho, facilinho..... (não quero dar ideias). É uma tolice e uma merda!
ResponderEliminarCristina
Polícias da vida alheia, bufos, incentivados pelo governo. A psp e a gnr piores do que a PIDE. É uma ditadura e as pessoas parecem bater palmas a ela. Têm tudo o q merecem e ainda há de vir. Só tenho pena de não poder sair daqui para lado algum porque é tudo igual. Uma tristeza, um crime global.
ResponderEliminarSomos uma merda e somos belos, apáticos e eufóricos, alegres e tristes, somos humanos e estamos a ficar cheios de medo.
ResponderEliminarEste verão li um livro muito bonito, chama-se "O filho de mil homens" do Valter Hugo Mãe. Mostra bem a parte do "somos belos". Porque de vez em quando decidimos mesmo ser isso, querido Pipoco.
O "eu" e o "eu é que sei" são a meu ver o maior problema da humanidade, desde sempre.
ResponderEliminarTudo se seja o egocentrismo e a intolerância que somados dão, na maioria das vezes, origem à perigosa ignorância.
Isa
Resumindo...
ResponderEliminar...Cá estamos, como o Senhor quer (o outro, o grandessíssimo manda chuva), a sentir muita a sua falta e assim...
Vê, Pipoco? Como as outras pessoas também andam a sentir a sua falta?
EliminarApeteceu-me tanto dar-lhe uma espécie de rebuçado em comentário e depois sai-me uma porcaria cheia de erros: *manda-chuva, e, vá, depois do acordo, *mandachuva (não sei por que regra), bem, mas separado é que é mesmo erro, um disparate, e é "muito" não "muita", claro.
Um resto de bom dia, e que ande aí a enfrentar, qual Leão, os duros caminhos da vida.
Então, Cláudia Filipa... agora estou cá eu para vos entreter! Vá, toca a andar para o meu blog e deixem o senhor em paz que ele já tem uma certa idade!
Eliminar;-)
Eliminar(e já lá estive toda maravilhada com a última obra da Artista, (já sei, irá apetecer-me ver mais uma data de vezes). E pensar que tudo começou com uma representação da ETAR... ;-))
Pois...lá isso é verdade. Da sua falta e assim, Dom Pipoco...
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