02 setembro 2019

E subimos, afinal

Don Francisco, dono e senhor de todas as árvores, flores e pássaros do Jardim Botânico que fica nos píncaros da antiga Roça Monte Café, homem de grandes saberes sobre mezinhas que curam tensão baixa e reumatismo, males de gravidezes e de coisas de estômago, homem de mil histórias bem contadas sobre infusões de pau de cabinda, homem culto nas artes de desencantar boa água nas plantas mais improváveis, olha com desdém para o meu calçado desapropriado e há no seu olhar um conselho de desencorajamento de subida a Lagoa Amélia.

Invoco a minha experiência nos Pirinéus e nos Alpes, nos Apeninos e na Serra do Gerês, enfim, nos Himalaias e Don Francisco dali não sai, que a época da gravana foi afinal de chuva graúda, que o piso está escorregadio, jogo a cartada final, que isto do melhor ar de cachorrinho abandonado não serve só para apaziguar corações, e mostro-me resignado com a minha perda, sabe-se lá se algum dia voltarei a estas terras abençoadas pelos desuses, enfim, cada um é para o que está guardado, e Don Francisco, mais por pena do que por convencimento, lá se digna servir-me de guia.


3 comentários:

  1. Se fosse eu, inábil na arte de levar a água ao meu moinho, teria ficado sem o sabor bom dessa aventura...Mas conte Dom Pipoco, como foi a subida e o deslumbramento ao chegar lá ao cimo? Encontrou alguma daquelas minhocas azuis e gordas? Conte...conte...Melhor do que ouvi-lo contar, só mesmo indo lá... :)

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  2. Anónimo2.9.19

    levou as botas da neve e esqueceu-se da galocha... tssss

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  3. Anónimo3.9.19

    Também eu fui ao Jardim Botânico e passei um bom bocado a ouvir os saberes desse matreiro mas o sacana não me levou à Lagoa Amélia e ainda lhe dei boleia que estava atrasado para não-sei-o-quê lá da vida dele. E eu sou gira e nova. Bolas.

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