10 julho 2018

Mulheres sem sobrancelhas

Nunca conseguirei explicar convenientemente as minhas reservas mentais com mulheres sem sobrancelhas, é uma coisa epidérmica, pior que as mulheres com unhas pretas, muito pior que mulheres que cheiram a gel de banho de pêssego, infinitamente mais devastador que o efeito que as mulheres que começam frase com "é assim" provocam sobre a minha delicada sensibilidade, não sei precisar o momento zero desta falta de empatia, ainda ontem, entre a Terceira e São Miguel, num desses aviões pequenos, uma mulher com tudo para me proporcionar uma boa meia-hora de cavaqueira gentil, o habitual nestas situações, ele eram os óculos de massa preta, o cabelo apanhado em rabo-de-cavalo, a camisa branca com dois botões cimeiros desabotoados, o documento aberto no portátil a dizer "notas do Conselho de Administração", o olhar decidido, o ter escolhido um lugar ao meu lado, o sorriso aberto, a pergunta "está a gostar de Rentes de Carvalho?", enfim, todo um conjunto vencedor para os meus padrões de homem simples, mas, lá está, calhou ter vislumbrado a ausência de sobrancelhas e logo as minhas defesas subiram a níveis máximos, colocando-me em estado de alerta e respondendo à gentil senhora com monossílabos, tendo mesmo que simular uma curta sessão de sono, perfeitamente justificada pelo horário da sete de manhã, a que se somava o voo das seis e quarenta do dia anterior, para além da noite de sonhos agitados, destaco o pesadelo em que a Bélgica não era campeã do mundo, enfim, tenho mesmo que ver isto, isto e não só.

8 comentários:

  1. O "é assim" introdutório também me provoca arrepios... dos maus!

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  2. De tudo o que li, ficou-me o desejo de formular duas perguntas mesmo sabendo, de antemão, que não obterei resposta. Cá vão elas...

    1ª - Sem sobrancelhas, tipo Marlene Dietrich?

    2ª - Que livro de Rentes de Carvalho levou para a viagem?

    :)

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    1. Sem sobrancelhas, só com uma risca de lápis preto, como Marlene Dietrich

      A Sétima Onda, um dos mais antigos que nunca tinha lido

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  3. :) Às vezes temos surpresas agradáveis.

    Estão a ser reeditados os mais antigos romances do ex-Patrão da Barca - como o autor se intitulava - também ando a ler os que não conhecia.

    Isso da senhora não terá sido uma alucinação?!

    (Fica o ponto de exclamação para que não pense que estou a abusar.)

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  4. Cláudia Filipa10.7.18

    Desculpe por ir trazer para este post uma situação pesada, mas, a mim, também me faz muita impressão a falta de sobrancelhas. Sabe que uma das possíveis consequências dos tratamentos de quimioterapia, necessários no combate ao cancro, é a fragilidade das sobrancelhas e das pestanas, que, praticamente, desaparecem do rosto, e que, em termos de aparência, reforçam a debilidade de toda aquela situação. A minha mãe ficou sem as suas maravilhosas sobrancelhas e pestanas escuras, depois, voltaram a crescer. Acho que, mesmo que de uma forma inconsciente, passei a associar a falta de sobrancelhas a debilidade.

    Outra situação, esta já cheia de leveza, é a dos ditames da moda, que têm oscilado entre ter mais ou menos sobrancelhas, e, seguindo-se, à risca, o conceito "sobrancelhístico" das alturas que as queriam demasiado discretas pode correr-se o risco de não voltarem a crescer da mesma maneira, parece que não se dão muito bem com os desbastes sucessivos, portanto, fazem birra, depois, lá está, resta o lápis para a simulação.

    E não acho que tenha de ir ver disso, todos nós temos direito às nossas preferências e aos nossos "repudiamentos". (Conto-lhe um dos meus: "falta de lábios", quando parece que as pessoas só têm ali uma abertura e pronto. Mas vá, vá, nunca esquecer, o quê? Diga lá comigo, que "O essencial é invisível aos olhos e assim..."

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  5. Fique o meu caro sabendo que as unhas pintadas de verniz preto eram Chanel, eram chiquíssimas. Mas depois globalizou-se.

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    1. Anónimo10.7.18

      ... e deixou de ser chique...

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    2. Bocejo para me manter acordado12.7.18

      Não era preciso, anónima.

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