19 abril 2018

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Quando, muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, em vez de te recordares daquela tarde remota em que teu pai te levou para conhecer o gelo, escolheres recordar-te dela, não relevarás os humores demasiado voláteis nem a incorrigível atracção que ela tinha para músicas ruins, eliminarás das tuas memórias a maneira quase enternecedora como ela ensaiava manipulações deliciosamente primárias, olvidarás os dias de silêncio que ela te reservava cuidando que te castigava (e tu a beber gin e a fumar Cohiba Lanceros...), sequer recordarás as pequenas tropelias com que ela escolhia fazer-se notar nos momentos mais inoportunos dos teus dias demasiado ocupados.

O que recordarás, jovem Ruben Patrick, é que ainda não te apareceu outra que se batesse como ela.

5 comentários:

  1. Anónimo19.4.18

    relax. mika

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  2. Anónimo20.4.18

    Há ali... Sim, ali mesmo... Hemi esconso naquele simulacro de dialética de narrativa cinematográfica de estória de avalanche com o protagonista soterrado duas agonizantes horas e meia, uma suave brisa de *os problemas(?) das(?) mulheres*. Sendo certo que se trata de espécie de costume aziago, especialmente quando de saia casaco, ainda assim fica a sensação de haver por bandas de lupanar assuntos por resolver.
    Eu, por bom exemplo, passei a melhor fase da minha vida, ah, a academia, il dolce far niente, em relações esporádicas. Ok, é verdade que por vezes são mais onerosas, mas é o preço que se paga pela qualidade. É uma daquelas coisas incompreensíveis nos homens, pagam mil euros por uma garrafa de whisky mas lamentam-se quando investem o dobro na noite de uma mulher bonita e agradável. Mundo perdido este...

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  3. É bom chegar a casa depois de um dia cheio, um trânsito danado por causa dos acidentes e da chuva, eu tendo ainda umas horas de trabalho pela frente, parar aqui e ler uma coisa bonita destas. Gostava que escrevesse mais vezes, Pipoco.

    E aproveito a visita para confessar que a propósito daquilo do dia em que o pai o levou a ver o gelo... bem, deixei o livro a meio. O problema é, naturalmente, meu. Ou não, na verdade isso não é um problema. É talvez apenas estranho.

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    1. Cláudia Filipa20.4.18

      Susana, juro-te que isto é verdade, já tinha estranhado não teres vindo dizer nada ao Pipoco. Já viste, já vai em três "posts muito lindos", (muito fofinhos, como costumas dizer) assim todos de seguida. Olha a nossa sorte!

      Quanto à tua confissão sobre aquilo "do dia em que o pai...", confesso eu também aqui uma coisa e, ao mesmo tempo, aproveito e digo-te para experimentares, não sei se já terás lido, "O Amor nos tempos de Cólera". E agora a confissão e esta coincidência. De tanto ouvir falar sobre, depois por ter visto o filme, sabia do que as pessoas falavam quando falavam de "O Amor nos Tempos de Cólera", mas, sacrilégio, nunca tinha lido, acontece-me muito, quando já está, à partida, morto aquele factor de descoberta total, sei que é uma estupidez, até porque, mesmo quando vemos antes um filme baseado num livro o livro é sempre incomparavelmente melhor, mas acontece-me. Pois olha, comecei a ler, ontem, "O Amor nos Tempos de Cólera" e estou mesmo a gostar. caso não tenhas ainda lido, experimenta, acho que, este, não conseguirias deixar a meio.

      (Boa noite, Pipoco, e espero que continue assim inspirado)

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    2. E também era de esperar que viesse aqui responder-te a este tão bom comentário teu, Cláudia (sou, portanto, bastante previsível). Mas olha que isso dos posts fofinhos é termo do Pipoco, eu apenas o imito.
      E temos sorte, de facto. Pode até ser que ainda venha aquele post do sábado de manhã a lembrar as regras de ter blogs, que parece que são para os blogs mas são é para a vida, esses também muito bons (e lindos e fofinhos).
      O "Cem Anos de Solidão" ficou a meio mas ainda está na minha mesa de cabeceira, ao lado d'"A Relíquia", também a meio. Ou seja, ainda há esperança (para mim).
      Não li o "Amor em Tempos de Cólera". Ainda. Mas já estava na calha à espera (muito obrigada pela dica - ah a tertúlia!).
      Fica o abraço apertado, aos dois (apertado é o mesmo que com força).

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