29 dezembro 2017

Grandes dúvidas disto dos blogs

A série "Notícias da Grande Obra", que, não o percamos de vista, não é mais do que um apartamento, terá enfim o seu epílogo, privando-nos do inalienável direito a expressarmos a nossa opinião sobre a qualidade da pedra dos bidés e a cor das exóticas madeiras do fundo das despensas?

Ou será substituída pela saga "Custou isto uma fortuna e afinal...", partilhando-se com o respeitável público o infortúnio que um mau tijolo pode proporcionar?

Teremos finalmente bloggers truculentas sentadas no banco dos réus, defronte de severos juízes que, cofiando as longas barbas, as confrontarão com resmas de livros de capas pretas contendo nefastos IPs, a partir dos quais foram vertidos comentários atrozes?

E quais serão este ano as grandes causas, essas que galvanizam multidões na cidade, insurgindo-se contra situações variadas, dando conta da sua indignação e de como temos que fazer alguma coisa, que isto assim não pode continuar, há que ordenar o território e criar condições para as pessoas não sei quê e o que é preciso é prevenção?

E será este ano que teremos mercaditos de livros desses sem ilustrações, charutos cubanos e vinhos raros, whiskeys de trinta anos e blasers de boa lã?

E as dos blogs que vendem coisas, será este o ano em que os sábios companheiros de vida, "o maridão", como elas dizem, homens sensatos que ganham a vida a exercer profissões sãs, que implicaram estudo de matemática e filosofia e leis, se abeiram delas e lhes transmitem que as crianças não são para maçar com retratos com fracas farpelas, que mais vale pagar os fins de semana em hotéis em condições que andar de câmara a tiracolo para registar ovos com presunto em cima de mesas de pequeno almoço em troca de uma noite em hotéis de classe média-baixa?

E as dos blogs de paz e boas palavras de ânimo para os azares da vida, que nos dizem que temos que levantar-nos e seguir em frente, quer nos tenha falecido a família toda num ataque de filisteus ou a nossa equipa tenha perdido um jogo da taça da liga, sobreviverão com as lengalengas do costume, agradecer o dia, aceitar o que a vida nos dá, sorrir para toda a gente, e o caralho?

E os blogues de amigas para a vida, regressarão para nos entreter, ou é moda que não volta, passando à memória das coisas de antigamente, entrincheirada entre os blogs irónicos e os blogs de poesia caseira?

E será este ano que os blogs acabam de vez?

6 comentários:

  1. Anónimo29.12.17

    Não há "amigas para a vida". Já devia saber.

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  2. Abençoado. Seguiremos resistentes. Força, companheiro. E bom ano.

    Também me faz imensa confusão que já nem dos fins-de-semana sejam donas, essas dos blogs que podem pagar hotéis em condições em sítios que lhes apeteça, mas preferem que alguém lhes diga para onde vão, quando e como. Para que servem as fortunas em posts se nem onde passar o fim-de-semana podem escolher? Não sou a única a olhar o céu, que é melhor visto com companhia. Deus o abençoe.

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  3. Eu aposto que este ano o nosso anfitirão vai continuar a desdenhar dos dois pontos dê maiúsculo mas continuará a publicá-los.

    :DDD

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  4. Nem me fale no fim da Grande Obra! É que se por um lado Quero muito que ela acabe, por outro, não ter uma obra em curso, deixa-me um grande vazio. Posso sempre fazer como na história do Ulisses: os senhores constroem durante o dia e eu vou lá desfazer durante a noite! :D

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    1. (e assim tinha posts eternamente e os blogs não acabavam!)

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    2. a desfazer não vou, que dá trabalho e estraga-me o gel das unhas, mas para roubar os cromados e afins, conta comigo, Palmy. até pode ser já no 31 :)

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