19 fevereiro 2017

Then we take Berlin

Por situações variadas que aconteceram em circunstâncias que não controlei, a que acresce ter dado ouvidos a opiniões que, sei-o agora, devia ter ignorado, Berlim nunca se tinha posicionado como uma cidade apetecível para me fazer considerar um par de dias da minha vida a perder-me por lá. Fiz mal, é a segunda vez que me acontece na vida uma tão deficiente apreciação da realidade, em Berlim apeteceu-me abraçar desconhecidos, uns explicaram-me o melhor processo de comprar bilhetes para a Berlinale, outros perguntavam-se se eu precisava de ajuda assim que eu tirava um mapa do bolso, outros não desistiram de me explicar o que achavam que eu lhes estava a perguntar, eles sem falar uma palavra que não fosse em alemão, eu sem saber uma palavra em alemão que não fosse "Danke" acompanhada com o meu melhor sorriso.

De Berlim não recordarei correr com seis graus negativos, eu a entrar de calções pela Porta de Bradenburgo e a fazer a Unter der Linder até à Friedrichstrasse, não recordarei o filme argentino que era o único possível, a emoção de poder fazer perguntas a um realizador desconhecido que no fim do filme estava ali ao dispor, eu a perceber o que realmente quer dizer "a reacção do público", não recordarei a emoção de estar ali ao lado do Muro a imaginar o que significa uma rua cortada ao meio, metade pertence a um mundo, a outra metade a outro mundo, não recordarei o som do pisar das caras de metal no Museu Judaico.

De Berlim, recordarei as pessoas.

11 comentários:

  1. (E eu aqui a pensar, aquela cadela há-de estar uma texugo, de tanto tempo que passou desde a última vez que o pipoco nos deu conta das suas corridas matinais - tão cedo que quase caem na categoria de vespertinas.)

    Visitei Berlin três vezes. A primeira com os meus pais, tinha 13 anos, que acharam que faltar uma semana de aulas para os acompanhar numa viagem de carro a uma feira de tecnologia (a que havia em 1989) só nos faria bem. A primeira impressão que tive de Berlim foi a de uma cidade conturbada. O muro cairia no dia seguinte à nossa saída. Doubémo-lo já na Bélgica, num telefonema para casa, em que a minha tia nos perguntava se estávamos bem, ficando a notícia de que o meu irmão tinha dado os primeiros passos nesse dia para último plano.

    Voltei aos 27 anos e só não me apaixonei pela noite, que achei "sexualmente pesada".

    Voltei aos 33, grávida, e prometi que em breve regressaria com ela pela mão. Estou em falta.

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  2. Berlim é incrível, podemos ser quem nós quisermos em Berlim. Contente por vê-lo de volta :)

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  3. uma viagem que ando a adiar há tempo de mais...

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  4. A última vez que me lembro de me ter envergonhado de mim foi precisamente em Berlim. Não resisti e roubei um resto de muro que por lá havia.
    (Só me envergonhei porque fui apanhada, claro!)

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  5. Anónimo19.2.17

    Tem que começar a ser seletivo nas opiniões que escuta (*).
    sc

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  6. Já lá fui muito feliz.

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  7. Cláudia Filipa19.2.17

    Que bom. O que vai guardar de Berlim. E tê-lo de volta.

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  8. Berlim é um livro aberto de História! Senti-e como se tivesse mergulhado numa página da História Mundial. Adorei a cidade e gostei de ver a forma como os berlinenses não tentam esconder o seu passado.

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  9. Anónimo20.2.17

    Já leu Berlim Alexanderplatz?

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  10. Bem, por um acaso da vida first I take manhanttan then I take Berlin e curiosamente nas duas cidades em que mais contava encontrar pessoas antipáticas, fechadas em si e pouca dadas a ajudar terceiros, foi onde senti mais simpatia e calor humano... já em bruxelas, desavisada que estava, surpreendi-me com tanta falta de simpatia...

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  11. As pessoas primeiro sempre.

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