31 março 2016

Se a Pipoca mais Doce pode regressar à sua essência, eu também posso

O cidadão comum, atarefado lá com as suas coisas de cidadão comum, levar o Ford Fiesta à inspecção, ir às compras ao Lidl, encomendar frango assado para o jantar, tende a analisar-nos, a nós, os snob-chic, com superficialidade e a concluir, precipitadamente, que a nossa vida acontece entre festas, flute de champagne na mão, proferindo as palavras certas nos momentos adequados, movimentando-nos com graciosidade em salões de baile de bom gosto, discutindo em salas de fumo as virtudes do cinema alemão dos anos vinte e, enfim, regressando a nossas casas em boa companhia, conduzido com suavidade potentes automóveis, partilhando com a nossa agradável companhia a nossa opinião sobre as nuances do último Rentes de Carvalho, Bach em modo "classic night" a sair do sistema de som Bang&Olufsen.

E, na verdade, o cidadão comum está correcto, apesar da análise superficial, fruto do acesso à informação de qualidade do cidadão comum ser escassa, a nossa vida não difere muito do que ali está em cima.

O que o cidadão comum desconhece, e não o censuremos por isso, é a dureza do caminho que leva a este estadio snobchiquiano, o acordar mais cedo que todos os outros para aceder a informação vital que nos coloque num patamar superior na hora de termos que, também nós, decidir se o mundo avança por um lado ou por outro, reter conhecimento não essencial no momento em que o adquirimos mas que se revelará decisivo em momento posterior, que nunca sabemos quando chegará ou sequer se chegará, mas, em verdade vos digo, se e quando chegar, não temos mais que um milisegundo para aceder ao conhecimento que lá atrás nos foi proporcionado e que agora o alinhamento do universo proporciona uma utilização na sua plenitude, o que o cidadão comum desconhece é que os livros têm que ser efectivamente lidos, os lugares têm que ser efectivamente visitados, os compositores têm que ser efectivamente escutados, mais, os livros, mais do que lidos, têm que ser entendidos, os lugares, mais do que visitados, têm que ser explorados, os compositores, mais do que escutados, têm que ser apreciados porque é essa a essência de um snob-chic, é estar um passo à frente e mostrar um caminho que o cidadão comum, atarefado lá com aquilo do Ford Fiesta, não vislumbrou.

Ser snob-chic dá uma trabalheira. Não se metam nisso.

25 comentários:

  1. Anónimo31.3.16

    efectivamente, isso não é ser snob-chic, ainda que o proprietário do ford fiesta encare (vamos chamar de privilegiado) o privilegiado com desdém e inveja, ser snob-chic é tentar demonstrar uma posição social/intelectual que não se tem, muito dinheiro pouca inteligência, achar que Paris é torre Eiffel, Londres Big Ben, brincar à caridadezinha e achar que se é o máximo porque se ajudou uns probrezinhos. Não faça do dono do fiesta um inculto mal amado.

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    1. Não percebe muito da temática snob-chic, pois não?...

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    2. Anónimo31.3.16

      Pseudo elitismo, tio Pipoco.

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  2. Ou, como J. Eustáquio de Andrada gosta de sumarizar a questão: ad augusta per angusta.

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    1. Precisamente, meu caro Xilre.

      (sempre sábio na gestão das palavras, o nosso J. Eustáquio de Andrada...)

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  3. Ora então muito bom dia,
    espero que já esteja melhor. Li como sempre o que escreveu e nem de propósito hoje escrevi sobre a blogosfera cor de rosa . Se não for roubar muito do seu precioso tempo de snob-chic , passe por lá e divirta-se (ou talvez não) http://pequenocasoserio.blogs.sapo.pt/blogosfera-cor-de-rosa-14109

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  4. qual é a essência da pipoca mais doce?

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    1. Milho, toda a gente sabe isso...

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    2. (a simplicidade de uma resposta perfeita!)

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    3. Já sei a que se refere, Pipoco, podia ter assumido, se o capitão Furilo assumiu... Anyways, gostei da metáfora, milho, pardais e não sei quê.

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  5. Aqui há dias conduzi um Ford Fiesta de 1998, e tenho a expressar a minha maior estima, consideração e admiração pelos possuidores de tal viatura, seres de uma fibra e resiliência que nunca alcançarei. Se ainda por cima vão às compras ao Lidl, onde a maioria das frutas e legumes são de origem portuguesa, não há snob chic que me arranque tanto suspiro.

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  6. Pipoco, a Izzie tem razão quanto às frutas e legumes, o queijo também é bom, quanto ao Fiesta, não sei... - atente lá à música, últimos anúncios do Lidl, também ela de origem portuguesa, em bom.

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  7. Não percebe muito da temática cidadão comum, pois não?...

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    1. Ora, Uva, sei que o cidadão comum nunca escreveria "gambas al ajillo"...

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    2. Precisamente e escrito na ementa. Aquilo era um restaurante snob-chic. Não se percebeu...
      E fui tão enganada.

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    3. Nós, os snob-chic, ainda que as ementas estejam mal escritas, filtramos o erro e escrevemos correctamente nos nos nossos blogs.

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    4. Sim, sim, e digo mais, filtram o erro e filtram a refeição. Os snob-chic nunca comem absolutamente nada se encontrarem escrita na ementa a versão portuguesa de alguma comida de origem estrangeira.
      Acredito que Pipoco nunca tenha comido 'caramelos' em Portugal.

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    5. Não percebe muito da temática snob-chic, pois não?...

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  8. Talvez venha cair em falso, evidenciar a minha ignorância na matéria, mas, mesmo assim teimo em acreditar que o real chic não pode ser snob. Snobismo e bourgeoisie casam melhor.

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    1. Anónimo1.4.16

      Tocou no ponto nefrálgico! "Snobismo" é próprio dos burgueses, daqueles que anseiam por ser "real chic".

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  9. Já para não falar do constante treino para manter o espírito no ponto ideal de magnaminidade... É uma trabalheira.

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  10. Deixo, portanto, isso de ser snob-chic com o Pipoco.

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  11. Anónimo1.4.16

    Só uma gaja tem um sentido de humor tão apurado...

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  12. Anónimo2.4.16

    Pipoco, explique lá às pessoas. Parece-me que ninguém por aqui entende o que é um snob-chic. Falta-lhes tanto mundo às suas leitoras.... por onde andam as outras?
    Francisco

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