05 janeiro 2016

Que livro se dá a ler a um homem que nunca leu um livro?

Ontem conheci um homem que disse que nunca leu um livro. Tirando os livros do curso, ressalvou. Algumas pessoas não acharam estranho que aquele homem nunca tivesse lido um livro, afinal de contas aquele homem manda em muitas coisas e as pessoas tendem a não achar estranho o que dizem os homens que mandam em muitas coisas. O meu gesto reflexo foi afastar-me daquele homem que nunca leu um livro, depois tive pena dele, uma espécie de compaixão igual à que sinto pelas velhinhas com ar perdido no aeroporto de Madrid que não encontram a porta do voo para Ibiza. Perguntei-lhe porquê e o homem que nunca leu um livro estranhou, os homens que mandam em muitas coisas tendem a estranhar quando lhes perguntam porquê, ainda assim respondeu-me "porque não tenho tempo", acho que só me respondeu  por achar que eu também mando em muitas coisas. Menos do que ele, evidentemente. Cismei que aquele homem havia de ler um livro escolhido por mim, se as mulheres acham que podem mudar os homens sem moral sexual, eu também tenho cá os meus desafios. Terei que ser cuidadoso, uma vez uma mulher disse-me que não gostava de ler e eu disse-lhe que a ajudava e tínhamos que começar pelo princípio e ofereci-lhe um desses livros que ajudam a formar as primeiras sílabas, tinha o Mickey na capa e tudo, e ela não apreciou o meu refinado sentido de humor e eu lamentei a minha imprudência porque ela tinha o melhor par de mamas do distrito de Lisboa. Quiçá de Setúbal.

32 comentários:

  1. Talvez a mulher quisesse ser ajudada e o homem não queira ser ajudado, não goste de ler, mas "O Meu Primeiro Livro... do Sporting", possa ser um bom, tem bonecos e é do (seu) Sporting.

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  2. Ofereça-lhe um livro de contos. Talvez Cortazar.

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  3. O post... Meh...
    Um livro para quem nunca leu porque manda em muitas coisas e não tem tempo, talvez um policial, espionagem, sem grandes lirismos ou floreados, que prenda o leitor e puxe pela sua argúcia. John le Carré é um excelente autor, para quem vai ler o seu primeiro livro.

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  4. Hum... posto assim... um livro sobre mamas?
    Sugiro uma espécie de pleno: "Peito grande, Ancas largas".

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  5. Anónimo5.1.16

    O meu pé de laranja lima.

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  6. eu ia sugerir o mesmo que o anónimo. aqui em casa, quando começam a ler, é o meu pé de laranja lima, que anda a saltar de amigos em amigos...

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  7. Se é uma pessoa que manda em muitas coisas e nunca sentiu necessidade, curiosidade, vontade de ler um livro, decerto apreciaria qualquer opus composto por Camilo Lourenço.

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  8. Não existe quem mande em muitas coisas e nunca tenha lido um livro, vai-me desculpar tio pipoco. Por favor, ainda tenho alguma (pouquissima) crença no mundo, não ma tire assim.

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  9. Anónimo5.1.16

    eu ia sugerir uma leitura para principiantes...mas depois fiquei bloqueada com o que escreveu acerca do "o melhor par ... de Lisboa".
    VW

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  10. Anónimo5.1.16

    Santana Lopes nunca leu um livro. Não sei se estamos a falar da mesma pessoa.

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  11. Nenhum, se até agora nunca sentiu esse apelo ou necessidade, é porque terá outros interesses que não passam pela leitura (pelo menos de literatura). Pondo de parte preconceito e algum snobismo, o facto de haver pessoas que não partilham das nossas paixões não as torna menores ou dignas de pena, apenas diferentes. Tenho um amigo e ex-colega que é um génio e não lê, não lhe interessa, dá-lhe mais pica montar impressoras 3D ou criar espectrofotómetros que medem à luz ambiente sem perder sensibilidade, para os desmontar depois. Acabou o doutoramento "cum laude", com umas quantas patentes devido a ter-se desviado do caminho sugerido pelos orientadores, que logo desistiram de o orientar para o deixarem fazer o que queria, terá em breve o seu grupo de investigação, irá certamente fazer grandes coisas na ciência, apenas não lhe interessa a literatura. Não será inferior por isso. Nem podemos medir os outros segundo as nossas medidas.

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    1. Luna, esse "nem podemos medir os outros segundo as nossas medidas" nem parece seu. Não me diga que também está a fazer um refreshing de imagem...

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    2. Não falamos de valores e princípios, falamos de gostos e interesses.

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    3. Não se trata de ver o livro como uma paixão. Se falássemos de filatelia ou ginástica sincronizada concordaria consigo. Confesso a minha discriminação, alguém que nunca leu um livro merece-me pena.

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    4. Mesmo quem só lê Camilo Lourenço ou Chagas Freitas? Antes ter como hobby montar impressoras 3D ou criar espectrofotómetros , ou outro zingarelho qualquer.

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    5. Izzie, mesmo lendo maus livros. É melhor que não ler livro nenhum.

      (um pouco como ter um mau blog...)

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    6. Acredite que já tive um posição muito semelhante à sua relativamente à leitura (devido a algum snobismo intelectual, admito) mas hoje em dia sou menos "judgemental" (não sei bem traduzir o termo para português sem se perder na tradução).
      Talvez por ter conhecido algumas pessoas altamente inteligentes - em Leiden dava-me essencialmente com estudantes de doutoramento ou "rocket scientists" que trabalhavam na ESA, ou seja, gente na maior parte muito croma - que para minha surpresa manifestavam pouquíssimo interesse em literatura. Liam muita coisa, obviamente, mas não livros. Acho que só o meu companheiro de casa francês partilhava o meu interesse por livros.
      Claro que isso de nunca se ter lido um livro será exagero, imagino, que pelo menos na escola alguns eram obrigatórios - ou leriam só os resumos?
      Enfim, queria apenas dizer que conhecer pessoas diferentes - e que nem por um segundo considerava inferiores intelectualmente - me fez ver as coisas de outra maneira.

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    7. Mantenho o meu snobismo intelectual. Pessoas altamente inteligentes, ainda que sejam estudiosos da rocket science, que nunca tenham lido um livro não seriam elegíveis para eu levar para uma ilha deserta.

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    8. Não concordo, mas prontes. Agora, por caridade, não lhe ofereça Maquiavel ou Sun Tzu, que isso nas mãos de quem manda muito, enfim, e já temos sociopatas que chegue.

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    9. Somos gémeas, está visto.

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    10. Já não morremos hoje :D
      Agora a sério, acho mais avisado oferecer o Fernão Capelo Gaivota, sei lá, para acordar o lado dócil.

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  12. O velho e o mar.
    É fininho portanto não consome muito tempo. Fala de luta, poder e sobrevivência, temas que provavelmente interessam a um homem que manda em muitas coisas! É uma leitura fluida e um autor seguro para principiantes.
    Partindo do principio que aceita a sugestão, o verdadeiro desafio é o que recomendar daí para a frente...

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    1. Acho que os executivos sem tempo também apreciavam muito a arte da guerra de Sun Tzu.

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  13. Já à sua amida de Setúbal talvez tivesse recomendado O Principezinho. Costuma ser eficaz com mamas grandes!

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  14. Anónimo5.1.16

    Eça ou Vargas Llosa. Nunca Joyce. (Mas isso você já sabe.)
    sc

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  15. Cláudia Filipa5.1.16

    Não existissem os filmes, e talvez qualquer um de Ian Fleming, tirando o infantil, claro, também não vamos exagerar e ofender o homem, assim, com os filmes, corre sempre o risco de: "Mas para que é que vou ler o livro se há o filme"...Que pena, é que talvez assim... Repare, um tipo invencível, carros topo do topo de gama, e mulheres, todas escolhidas a dedo, e a bater pestana para o invencível, Hum? era ou não coisa para o cativar para a leitura?. Agora vamos escolher o livro com o melhor título, "Live and let die", hum? que tal? o homem talvez olhasse duas vezes para um "Live and let die", é coisa para atrair gente que manda em muitas coisas ...Pode ser que também não tenha tempo para ir ao cinema...Se ainda assim o vir renitente, diga que com os livros que não são técnicos a malta pode extrapolar, e que extrapolar pode ser muito bom e libertador...Se ele pedir um exemplo, sugiro-lhe este, alguém escreve: "ela tinha o melhor par de mamas do distrito de Lisboa. Quiçá de Setúbal." e as pessoas leem: "ela tinha mamas grandes" (desculpem, mas não resisti).

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  16. Tendo como base tão poucas características: nunca leu um livro, manda em muitas coisas e não tem (ou acha que não tem) tempo... sugerir um livro, é quase uma missão impossível. Sobretudo porque, suponho eu, mais do que o desafio do homem ler o livro que lhe irá oferecer, possivelmente o Pipoco, ainda que sigilo amente, propõe-se que o homem desperte para os prazeres da leitura. E com tamanho desafio, é ainda maior o desafio de escolher o livro certo para este homem.
    Seria importante oferecer-lhe um livro que lhe desperte a atenção desde o início. Não há grandes fórmulas para atingir este objectivo, mas talvez um dos elementos principais seja procurar um tema que seja do agrado dele.
    Se depois de tanto pensar, nada de bom lhe ocorrer, e estiver já quase a desistir do desafio, pode sempre optar por lhe oferecer um livro, cujo título transmita, por si só, alguma mensagem... Imagine só, oferecer-lhe: O Homem sem Qualidades (Robert Musil), Se isto é um homem (Primo Levi) ou até mesmo Dom Casmurro (Machado de Assis). Pode também ofertá-lo com algum livro do Miguel Esteves Cardoso. Há títulos que não falham: O Amor é Fodido, Com os Copos, e um título que por si só é um best seller - Como é Linda a Puta da Vida.

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  17. Cláudia Filipa13.1.16

    Pipoco, fiz neste post um comentário que pretendeu ser meio brincalhão, meio provocador, mas tentar fazer com que um homem (ou uma mulher) que nunca leu um livro o faça e retire prazer disso é de valor, para além de tarefa difícil, e efetivamente a escolha do livro é crucial, penso não ser exagerado dizer que, pode ganhar-se um leitor, ou perdê-lo para sempre. Espero que não tenha desistido, e se não desistiu, não resisto a pedir-lhe que nos conte qual o livro que escolheu e se resultou.
    Boa noite, Pipoco.

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    1. Capitães de Areia. Jorge Amado.

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    2. Cláudia Filipa13.1.16

      Obrigada.
      (espero que o senhor leia mesmo o livro. Se o fizer, leu um livro que eu nunca li.)

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    3. Agora quase que me comovi, tio Pipoco. É que o Capitães da Areia é o primeiro livro que me lembro de me ter realmente marcado e feito ver o mundo de forma diferente. (e só não digo boa escolha porque não sei até que ponto alguém formado em cinismo o possa absorver da mesma forma que eu o fiz na altura que o li)

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  18. Anónimo14.1.16

    Eu conheço uma pessoa que quis fazer de outra ano que ela não era e ofereceu-lhe Maxim Gorki para primeira leitura.
    Como diz, as coisas são como são, e ela ainda continua a preferir ver o Preço Certo que ler Maxim Gorki.
    Porém é, sem dúvida alguma, a pessoa que levaria comigo para uma ilha.
    As pessoas não mudam e nalguns casos ainda bem.

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