... calculo que acendendo um cigarro, lança-me o extraordinário desafio de analisar a problemática da leitora do Financial Times que, dizendo-se, cito, "maravilhosamente linda, bem articulada e tendo classe", fim de citação, pretendia orientação estratégica para casar com um homem que ganhasse pelo menos quinhentos mil dólares por ano.
A resposta do editor do jornal é um estudo de caso, considerando a troca da beleza física por dinheiro como um péssimo negócio, alegando que, numa análise de médio prazo, a beleza tenderá a diminuir e o dinheiro a aumentar, ou seja, o activo "beleza" sofrerá um depreciação, ainda para mais uma depreciação progressiva. Neste contexto, a mulher, no apogeu da sua beleza física, seria um activo "para vender" e jamais um "buy and hold", que era o que ela propunha com o casamento. O editor termina com uma proposta de namoro, sendo que teria que averiguar antes se ela encaixaria no seu conceito de "maravilhosamente linda, bem articulada e tendo classe", propondo um encontro.
Feita a longa contextualização, a minha perspectiva é que a mulher avaliou a sua cotação por um prisma errado. Os homens que ganham meio milhão de dólares por ano, não me perguntem como sei eu isto, tendem a valorizar outros activos que não a beleza, toda a gente sabe que a beleza feminina é o pão com manteiga de um homem deste campeonato.
Os meus saberes dizem-me que os homens que ganham meio milhão de dólares por ano tendem a fascinar-se com mulheres que ganham um milhão de dólares por ano. Do ponto de vista financeiro, trata-se de potenciar capital, de um ponto de vista social significa que, estatisticamente, estamos perante uma mulher segura, capaz de estabelecer uma parceria e que, numa análise SWOT, preencheria várias linhas no capítulo da Oportunidades e deixaria em branco o capítulo das Ameaças. Sendo este ensinamento o principal, outras mensagens deveriam ter sido consideradas, nomeadamente uma linha que sustentasse uma sólida confiança nas suas capacidades (o mercado destes homens valoriza a maturidade e o know-how), para além de uma nota final que informasse ser ela exímia jogadora de xadrez.
As generalizações são um enorme risco; esta generalização nem parece vinda de quem atribui tanta importância ao xadrez. A sua análise à problemática da leitora, com essa coisa do "buy and hold" e do "cashflow", acrescento eu,assenta num pressuposto linear e de aparência sedutora de que os peões não interessam e, portanto,o jogador revela-se pouco seguro da sua iniciativa, não acautelando posições, abrindo colunas, acumulando espaços e vantagens, etc., etc..
ResponderEliminarA verdade é que cresci a ouvir que o xadrez é um combate de ideias (os combates mais ferozes não são sempre no campo das ideias?) e eu sou uma jogadora distraída e medíocre que olha fascinada e complexada para quem joga bem.
Em suma: não sei o que me dá mais urticária, se a sua análise a parecer-me que quer concluir que o Citizen Kane é um filme sobre trenós, ou se ter a certeza de que a verdade do jogo de xadrez faz com que o adversário mais temível de vencer sejamos sempre nós e não a pessoa que, por mero acaso, está sentada à nossa frente [repetiram-me isto dezenas de vezes e mesmo assim...], sendo eu tão pacóvia a jogar esse jogo tão subtil na sua entrançada complexidade.
Num ganho, nunca me venço.
Maria Helena
Boas noites,
ResponderEliminarDevo felicitar mais um excelente texto... confesso que como mulher as mentes masculinas sempre me fascinaram, e este é um óptimo bolg para descobrir algo sobre o que se anda a passar no cérebro do sexo oposto.
Não posso deixar de concordar com o seu ponto de vista, normalmente, e tal como se estuda em grupos de empresas, os bons casamentos só acontecem quando além de ser criar valor acrescentado se consegue uma homogenização de políticas e procedimentos (incluindo a salarial)... afinal de contas ainda acredito que beleza é apenas uma ilusão óptica, que não serve de muito a médio e longo prazo.
Obrigado pela partilha.
Claro que nesse mercado a beleza é um activo indispensável para o lugar de amante. Não para o de mulher. Mas acho que o Pipoco desprezou uma das características que o segmento de que fala procura numa mulher: capacidades de governanta.
ResponderEliminarI Admit.. you've got a point
ResponderEliminarE se for exímia jogadora de poker? Isto coloca a fêmea fora do mercado?
ResponderEliminar:)
Faz lembrar aquela do Donald Trump que está sozinho em um elevador da Trump Tower. O elevador para em um andar e entra uma mulher jovem com um decote extremamente generoso e uma cara para lá de marota. Ela inicia um diálogo:
ResponderEliminar- Senhor Trump, tenho que confessar uma fantasia que eu tenho: travar o elevador entre dois andares e fazer-lhe um b****e!
Donald Trump então responde:
- De acordo, mas o que é que eu ganho com isso?
:)
Melania Knauss
(acendendo um cigarro)
ResponderEliminarÉ bem verdade o que dizes, sobre o que fascina um homem habituado a vencer. Em defesa da pobre rapariga que considera o seu bem perecível (a beleza) garantia de um engano (o casamento) devo referir que ela não chega a pedir o fascínio do homem vencedor, apenas pede um bom negócio (casamento).
(travando)
E na resposta a isto que o editor do FT brilha, com acerto. É que mesmo tendo em conta o pragmatismo da aspirante que se prometia bela o negócio é, mesmo assim, mau para o homem que o saiba avaliar.
Nenhuma mulher bonita justifica, apenas por isso, um casamento. No máximo justificam o que ele refere: um aluguer. Normalmente de curta duração. A duração que no fundo a sua beleza encerra. Fair deal.
(afastando a cinza da ponta do cigarro)
Assim de repente, e sem analisar nada (o meu pobre cérebro recusa-se a colaborar), só me ocorre uma palavra (e vários sinónimos) para adjectivar a senhora "maravilhosamente linda": meretriz mas em modo "life-time job".
ResponderEliminarO que eu quero é uma mulher que não me chateie mas que ao mesmo tempo esteja lá quando assim é necessário, uma mulher que não comprometa em termos de dress code, uma mulher que tenha uma carreira mas que queira ser mãe (hell..até já pode ser mãe).
ResponderEliminarQuero uma mulher que aprecie o facto de que a liberto para as suas amizades, e que em troca também eu poderei usufruir de todas as noites with the boys que entender.
Uma mulher que se levanta para dar biberon à noite e que não grita com os miúdos, uma mãe que educa mas sem as burguesices de treta que vejo por aí.
Tem de perceber que as piadas antigas do Herman e seus maneirismos são como a mensagem de Deus na terra, e que as séries Britcom são o melhor humor que existe. (para mim claro).
Tem de entender que na cama não há restrições, e que o sexo só é porco quando é bem feito (Woody Allen dixit)
No fundo o melhor mesmo independentemente do vencimento ao fim do mês..é termos alguém em quem depositamos confiança e que sabemos que gosta de nós..e que é reciproco.
Não ter de pensar constantemente se aquelas horas a mais no trabalho são para "montar" um junior account, ou se as viagens para Bruxelas têm um elemento de escapadela inerente..é mesmo o melhor.
E depois cabe-nos não ceder à tentação, por mais certinhos que sejamos há sempre uma tresloucada a tentar pôr-se por baixo de nós..trust me I know it..
Um abraço caro Pipoco
Anónimo, eu quero um homem exactamente assim... Pensando bem já o tenho. Somos assim um para o outro! Eu saio sem ele, ele sem mim, os dois juntos, o que calhar e eu não o chateio, ele não me chateia! Confiamos... eu consegui não ceder às tentações, espero que ele também...
ResponderEliminarDe repente descobri que tenho uma coisa que muita gente se queixa de não ter: uma relação sem chatices grandes... so algumas das pequeninas (senão também era uma grande seca). Vou guardar!
O seu raciocínio só peca numa coisa, Pipoco. As mulheres que ganham 1 milhão de dólares por ano, fascinam-se por homens que ganham 2 milhões/ano (não me pergunte como é que sei isto, but trust me, I know). E isto, parecendo que não, vai subverter toda aquela bem construida análise swot (eu sempre gostei mais da matriz McKinsey, muito mais completa, quanto mais não seja por ter nºs por base).
ResponderEliminarE se a mulher, além de ganhar 1 milhão de dólares/ano ainda for uma exímia jogadora de xadrez, então o mais provável é que se fascine pelo professor de ténis, de ski, motorista e afins. Não são ameaças ainda que a vejam como oportunidades. É tudo uma questão de prisma...
Deves pensar que és muito inteligente, 'snobeiras' há parte.
ResponderEliminarIsto é importante:
ResponderEliminarhttp://www.dejalu4ds.blogspot.com/
Maria Helena
Gostei imenso deste artigo. Está de parabéns o autor.
ResponderEliminarGosto da inteligência da sua escrita, da inteligência do seu sentido de humor e da sua maturidade cultural e de vida de escrita.
Mas devo dizer que estou fascinado também com um participante de nome Don Draper. Criou ali uma personagem muito muito bem conseguida, O pormenor do tabaco é genial.
Jorge Espírito Santo