08 abril 2020

Um post por dia até ao fim do Corona - Dia 24

Mandou deus que Noé construísse uma arca impenetrável, coisa bem calafetada e de boa madeira, porque havia bichezas ruins a pairar nos ares, e Noé mandou instalar Neflix, encomendou uma barbaridade de cápsulas de café fácil de se gostar, metade Roma, metade Volutto, decidiu ainda Noé levar para a arca uma boa quantidade de livros grossos, escolhidos de entre o monte dos que estavam para ser lidos há muito tempo mas as possibilidades não tinham sido favoráveis, resolveu ainda Noé acartar para a arca muitos rolos de papel higiénico e pacotes de bolachas, levou ainda Noé para a arca duas garrafas de Old Bushmills, três de Mirabilis tinto e um cão grande, assim permaneceu Noé durante catorze dias, sabendo do martírio dos que estavam fora da arca, flutuando sobre as águas bravas, dedicou esse tempo a achatar curvas e a interpretar os sinais dos números, tentando discernir sobre as insondáveis vontades do pico, que uns asseguravam já ter passado e outros ameaçavam ainda estar para vir.

Passados catorze dias, mais dois para ser mais seguro, resolveu Noé abrir a escotilha da arca, enviando o cão grande para se inteirar da situação. 

6 comentários:

  1. Não me diga que o cão ainda não voltou :)

    Boa tarde, sô Pipoco

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  2. Cláudia Filipa8.4.20

    Cláudia Filipa: :-)

    Pipoco Mais Salgado: Cláudia Filipa, sorrir é fácil. Escreve um homem de bem um post destes e a menina lê, limita-se a sorrir, e vai à sua vida.
    Ruben Patrick, meu rapaz, e tu, que tens andado tão calado, não quererás dizer qualquer coisa relativamente a este post?

    Ruben Patrick: Faço meu o sorriso da Cláudia Filipa, Tio Pipoco.

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  3. kina8.4.20

    Certifique-se, aquando de seu regresso à arca, que o animal traz penas na boca. Caso contrário mantenha-se à coca, alguma coisa ainda não está bem.

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  4. Anónimo8.4.20

    Meu caro,

    É sempre por estes pequenos pecadilhos, por esta ou aquela inesperada heresia, como chamar "deus" a deus e brincar com as provações de Noé e os trabalhos de Hércules, que nós, homens de prazeres simples mas já não jovens, um dia nos deitamos a dormir e acordamos falecidos no inferno.

    Repare que logo ao despertar não sabemos bem onde estamos. Desconsideramos o cheiro a enxofre e pensamos que as fogueiras alimentam destilarias.

    Só quando o demo nos aparece na forma voluptuosa de uma mulher bela para além das palavras começamos a suspeitar.

    Dir-nos-á Ela, o demo, devias ter escondido melhor os VHS quando tinhas 13 anos. Toda a gente sabia que estavam na estante, atrás dos livros de física e de matemática e do dicionário Oxford.

    Raios, pensaremos, bem nos parecia que Ela tinha uma aparência vagamente familiar.

    O único alívio que nos poderá acorrer ao espírito é saber que nesta época do ano aquilo lá por baixo deve parecer uma rave party sem fim.

    Abraço.

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  5. Anónimo9.4.20

    Começo a interrogar-me se não seria mais apropositado designar esta rubrica "Um post por dia até ao fim do mundo". Wenders realizou uma magnífica película a este respeito há um bom par de décadas, e DeLillo não se cansa de destacar a problemática na generalidade da sua obra (ocorre-me de momento o delicado Point Omega). Tudo isto ao som de Let it Loose dos Stones, Sweet Dreams e o resto via Floyd. É o que dá dia santo na loja. E ainda penso passar os olhos pelo Indeterminism in Physics, Classical Chaos and Bohmian Mechanics, Gisin, N.(2019). Raios e coriscos, que quiasma mental, transtorno de personalidade, ou cerveja artesanal me leva a escrever estas coisas?! Afinal talvez não seja assim tão desagradável ficar em casa a "trabalhar".

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  6. Anónimo9.4.20

    Belo post, o melhor da quarentena.
    Vw

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