Repara tu naquela mulher ali sentada, Ruben Patrick, essa mesmo, a que tem cara de Leonor Silveira no cartaz de Vale Abraão, vai no segundo café e tem o telefone em cima da mesa, a cada dez segundos verifica se chegou alguma mensagem, todo o interesse que ela tem, tem-no por estar a três mesas de distância, por não ter nome, podemos imaginar para ela todas as qualidades, que sabe Borges melhor que eu, que vive sozinha numas águas-furtadas em Alfama e não perde nenhuma mostra de cinema francês na Cinemateca, viesse ela pedir-me lume e acabar por se sentar, aproveitando o Saramago que carrego, desejando saber pormenores, por qual dos Saramago lhe recomendaria iniciar-se, num instante havia de se apresentar com um nome, talvez dissesse "Cátia, prazer", havia de dizer onde morava, havia de ser sítio onde as águas-furtadas não são mágicas, havia de começar as frases por "é assim" e, quando finalmente chegasse a mensagem esperada, notaria num relance que quem lhe escrevia se anunciava como "Môr".
Se calhar estava só à espera de um 'like',a um post no Facebook com a cara da Anna Karina...
ResponderEliminarNão há como negar, eu, por exemplo, sempre avisei as pessoas, que há uma forte probabilidade de ser muito mais interessante a três mesas de distância. E que sou, definitivamente, muitíssimo mais interessante se não tiverem de viver comigo.
ResponderEliminar(Não disse, mas tinha de dizer. Adorei este post. Este post, estava aqui a lê-lo, outra vez, e, tinha de dizer-lhe, para mim, este é um exemplo flagrante daquilo que lhe escrevi, lá atrás, no "postal de Natal", aquilo de dizer coisas sérias, a brincar a brincar. Ou, pelo menos, é assim que, também, muitas vezes, leio.)
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