02 junho 2019

Onde é que estávamos?

Aos poucos, muito devagar, em suaves prestações diárias, Paris começa a desapetecer-me, primeiro foram os cheiros, que apelavam ao melhor de nós e agora vão direitinhos ao cérebro, sobem-nos as defesas de agressivos que são, depois foram os meus olhos, antes mostravam-me uma cidade limpa, onde talvez me apetecesse viver um dia, nada destas temporadas de umas poucas semanas, agora há sítios que me doem de olhar. depois foram os museus, houve um tempo em que se encontrava paz em Orsay, nada de sermos empurrados por magotes de parolos de telefones ao alto, finalmente a comida, antes requintada e servida com tempo, agora servida a despachar e toda igual, acompanhada de maus Bordéus.

Tenho medo que um destes dia me desapeteça Lisboa.

20 comentários:

  1. Anónimo2.6.19

    Até já digo o mesmo de Setúbal. Quem diria...

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  2. Não sei, já nem me lembro onde estávamos!
    Sei é que já não estamos. E com essa desapetência para tudo, qualquer dia chega aqui e diz-nos que já não lhe apetece blogar.
    Em Paris não tinha esta coisa das internetes?
    Esteve a fazer algum retiro espiritual no Convento das Madelonnettes? Então, bem que já deveria ter cá vindo dizer que ainda estava vivo...
    Isso não se faz, Dom Pipoco. Outra igual e nunca mais me vê a cor.

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    1. Anónimo2.6.19

      ná. assim é mais claro...

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  4. Salgadinha3.6.19

    Querida Maria Antonieta.
    Aqui a Je que simpatiza muito consigo por ser uma menina muito educada e engraçada, despedaça-se-me o coração ser eu a mostrar-lhe a dramática revelação.
    O que o senhor Pipoco da nossa adoração disse foi.
    Minhas senhoras, meninas, damas e todas de corações palpitando de ansiedade, arranjem uma vida que eu tenho mais que fazer do que aturá-las.
    Sorry, querida. Se ficou desiludida menos mal que deus nem foi muito mauzinho para si, porque eu fiquei de coração destroçado.

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    1. Aguardemos, Dona Salgadinha, aguardemos.
      Não sou de sofrer por antecipação... :)

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  5. Cláudia Filipa3.6.19

    Sente-se o caminhar a passos largos para a total descaracterização.
    É criminoso. E, depois, com Paris, não é tanto a beleza, há muitas cidades belas, mas, Paris, tem a responsabilidade de carregar todo um imaginário colectivo, à escala mundial, que lhe está associado. Paris, devia estar proibida de defraudar-nos. Mais do que uma cidade, representa um modo de vida, tem servido para simbolizar uma certa forma de ser e estar, não é? Tornou-se guardiã de uma série de representações mentais, de associações de ideias, também muito por culpa de todas as artes, que, convenhamos, também não pouparam esforços em contribuir para a criação e reforço desse imaginário, talvez porque, lá está, Paris tem sido bom berço para.
    Sente-se o mesmo em várias cidades europeias. Uma coisa é lermos ou ouvirmos falar, outra é sentir mesmo na pele o que está a acontecer. Dou-lhe outro exemplo, um lugar em que a beleza é impressionante, Amesterdão. Para mim, Amesterdão esmaga de bela, mas a sensação que prevaleceu foi a de querer sair dali o mais depressa possível. E é isso, Pipoco, é o ambiente, é como se estivessem transformadas em "enormes zonas de empurrão" onde já não há tempo para saborear nada, estão sempre outros à espera, e o que importa é a constante rotatividade de caber mais um.

    Dói mesmo só de pensar, bolas, se dói, mas muito dificilmente não acontecerá à nossa Lisboa, e se eu sou uma optimista, mas. Será possível travar os exageros do aproveitamento turístico? Será possível não ultrapassar aquela fronteira em que uma coisa que começa por ser benéfica passa a ser também mais um problema? Esta é a discussão que está em cima da mesa nas capitais europeias que já se debatem com esta questão há muito mais tempo que nós. E um dos graves problemas, que já está mais do que identificado, mas que tem sido erro comum, é que começam logo por "expulsar" das cidades (de forma directa ou indirecta) quem as habita, quem lhes confere identidade, quem lhes dá a ambiência que as distingue de todas as outras.
    Espero, quero tanto, que os erros passem a servir de aprendizagem e se ponha um travão no que tem de ser travado, em todo o lado, e que a nossa Lisboa não venha a transformar-se num grande hotel do empurrão. Lisboa e todos os lugares do nosso país que estão a confrontar-se com a mesma situação.

    As conversas são como as cerejas, Pipoco, e é sempre um gosto. Para mim, foram só duas linhas, mas a sua caixa de comentários, só para me embaraçar, dará a ilusão de muitas mais, e eu sei que depois farei "ai", é sempre assim, mas também sei que voltarei a pecar por não resistir a cerejas.

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  6. Não lhe agrada a “very typical Lisbon”?

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  7. "Tenho medo que um destes dia me desapeteça Lisboa"

    Eu, acérrima defensora de Lisboa. Lisboa-ó-dependente. Capaz de argumentar até à exaustão quem decidisse dizer mal da 'minha' Lisboa, confesso - que este blog também serve para confessar coisas - que há bem pouco tempo acabou de me 'desapetecer' Lisboa. Mudei-me de armas e bagagens para um canto que fica encostado a Lisboa, canto esse que descobri ser o lugar onde deveria sempre ter vivido. Não que não tenha defeitos, esse lugar, mas os defeitos são esquecidos pelo facto de ter árvores que cuido como se fizessem parte de mim, flores que planto como se não conseguisse mais viver sem esperar pela Primavera só para as ver desabrochar, o cheiro da relva quando cortada e regada, o pó da terra em dias de maior calor, o observar o gato enfiado dentro da nespereira à espera do jantar lá dele, pássaros ao natural. E mais coisas existem neste lugar muito perto de Lisboa capazes de me fazer sorrir. Tranquiliza viver fora de Lisboa. Já não me faz falta Lisboa. Quem diria que algum dia escreveria tal coisa...

    Caro Pipoco, 'desapetecer' Lisboa pode ser uma grande descoberta. E das boas. Atire-se de cabeça.

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    1. Cláudia Filipa4.6.19

      Maria, começo por pedir-lhe desculpa por estar a meter o nariz onde não sou chamada, mas, soube-me bem lê-la, e, ficou a apetecer-me dizer-lhe que, pelo que li, ambas vivemos a um passo de Lisboa e com o privilégio de podermos comer alguns frutos directamente das árvores. Mas, no meu caso, confesso-lhe - (sorriso) - que a colecção de momentos que fazem parte da minha história de amor com a cidade onde nasci, fazem com que sinta por ela aquele tipo de carinho especial, que me faz desejar-lhe o melhor, e que também me faz desejar que, Lisboa, nunca deixe de apetecer-me, mesmo não fazendo parte dos seus habitantes.

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    2. Claúdia Filipa, os seus comentários neste e num outro blog que também costumo ler, são uma das preciosidades neste mundo de blogs. Deixe-se ficar por aqui que está muito bem.

      (sim, comer frutos directamente das árvores é um verdadeiro luxo, qual anel de esmeraldas qual quê, luxo é colher um limão do limoeiro logo de manhã para beber com água morna ao pequeno-almoço, luxo é apanhar pêssegos para casa e para partilhar com quem mais nos faz bem à alma, luxo é subir ao telhado e apanhar as laranjas que quase tocam o céu, luxo é ver as ameixas a crescer a cada dia que passa, luxo é sentar-me na relva nos dias de maior calor e ver o gato devagarinho vir aconchegar-se no meu colo, nesses dias e por alguns segundos penso que perfeição talvez seja mesmo isto...)

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    3. Cláudia Filipa5.6.19

      Há, também aqui nos blogs, coisas/atitudes tão bonitas, não podia deixar de dizer. Muito obrigada, Maria, por mais este seu comentário/cereja.

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  8. Anónimo3.6.19

    Quando se atravessa o Sena, vindo do Trocadero, já é possivel seguir em frente para o Campo de Marte. E isso, parecendo que não, foi o pior estrago que Paris sofreu.
    sc

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    1. Anónimo3.6.19

      Errata: ...já não é possível seguir em frente...
      sc

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  9. Anónimo3.6.19

    Lisboa desapetece-me já há dois anos. Paris também já não me apetece. Vivi em três países, conheço mais de meio Mundo e tudo está a ficar tão desapetecível.

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  10. ladykina3.6.19

    Ó Amigo, então e eu, descendente praticamente directa de D. Afonso Henriques, que me desapetece todo o Portugal, praí desde o século XIII?! Uma tristeza. As saudades que eu tenho dos cavalos?!

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  11. Anónimo4.6.19

    Uma maçada. Valeu pelo comentário da ladykina que me arrancou uma gargalhada ali na parte dos equídeos.

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    1. Anónimo5.6.19

      A sério?
      Os privilégios do anonimato.
      ;)

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  12. Anónimo4.6.19

    Quando lhe "desapetecer lisboa"venha para o porto.
    vw

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