04 setembro 2017

Resumindo a situação dos livros para meninas e para meninos

Primeiro vieram as figuras do labirinto fácil para as meninas e o difícil para os meninos e não pudemos deixar de nos arreliar com a situação, não se tolera uma coisa assim, e vieram os especialistas em coisas da educação mais os das coisas da igualdade e nós achámos muito bem que se batesse nos senhores que fizeram o livro, alguns de nós até chegaram ao ponto de concordar com as Capazes, por uma vez elas estavam certas.

Depois veio aquele rapaz que fala de coisas sérias com muita piada a contar-nos que tinha feito uma coisa que ainda ninguém se tinha lembrado de fazer, que foi comprar os livros para se aborrecer com mais labirintos, só aquele que foi publicado não lhe chegava para se amofinar em condições, mas afinal havia labirintos mais fáceis para meninas e labirintos mais fáceis para meninos, parece que dependia da vontade das ilustradores, e nós achámos que fazia muito sentido aquela bizarria de ver para além daquilo que as malvadas das manipuladoras da Capazes nos queriam mostrar, nem nos lembrámos de pensar que já nos tínhamos colocado do lado da barricada dos que achavam muito bem que o livro fosse retirado do mercado, afinal não faz diferença nenhuma, e achar que retirar livros do mercado é censura e nós somos pela liberdade.

Nunca me orgulhei tanto de ter aprendido a pensar com a minha cabeça.

20 comentários:

  1. Anónimo4.9.17

    na mouche.

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  2. Anónimo4.9.17

    Cabeça digna de usar um Borsalino :)

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  3. Anónimo4.9.17

    Nota-se. Deverá ser por isso que repete clichés e ideias feitas repetidas desde sempre sem nunca as questionar ou mostrar abertura a quem lhe mostra pontos de vista diferentes.

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    1. Imagino que não pretenderá sustentar a sua opinião. Estou certo, não estou?

      (se estiver é uma pena, hoje apetecia-me um boa e estimulante discussão)

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    2. Anónimo4.9.17

      Nunca o vi responder sem ser com ironia e condescendência a quem questiona as suas ideias, caindo geralmente na tentação de repetir os chavões conservadores sobre certas temáticas.
      Mas tentando não cair na previsibilidade de escarnecer das capazes só porque sim, parece-lhe que faz sentido haver livros de exercícios separados por género? A meu ver, não. Acho que esse deve ser verdadeiramente o cerne da questão. Especialmente se tivermos em conta o ainda reduzido número de mulheres em certas áreas da engenharia, por serem consideradas masculinas, como se poderá lembrar das contagens de "gajas" por curso nas pautas do pavilhão central.

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    3. Vamos por partes. Antes de mais, respondo pouco, o que já de si é um sinal. Ainda assim, afirmar nunca ter lido uma resposta minha sem ironia (o que não é necessariamente mau) ou condescendência é um manifesto exagero.

      Enquanto existir mercado (e é disso que se trata, a Porto Editora, não deve ter perdido um segundo a pensar no tema do género, fez contas e percebeu que um casal em férias, com um filho e uma filha em idade de consumir cadernos de passatempos - e é disso que se trata, caderno de passatempos - provavelmente comprariam os dois livros em vez de apenas um em que a menina faria metade dos exercícios e o menino a outra metade, enquanto houver mercado, dizia eu, faz sentido que exista um livro para meninas e outro para meninos, fosse eu e ainda inventaria um para meninas do campo e outro para meninas da cidade.

      Esperando ter sido claro neste ponto de não ver absolutamente problema nenhum em livros de passatempos para meninas e para meninos, vamos ao outro tema que levanta, o dos cursos: a vida real mostra que há cursos, profissões, interesses e o que mais vier onde há maiores proporções de interessadas mulheres ou de interessados homens. Qual é o problema?

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    4. Anónimo4.9.17

      O problema é o que leva a esse diferencial de interesses, os incentivos intelectuais que são dados às crianças consoante o género, as ideias de que há interesses e profissões adequados a uns e outros, o facto de muitas raparigas serem desencorajadas de querer seguir certas áreas porque são muito masculinas, etc. Podemos discutir o eterno dilema nurture vs nature, mas a verdade é que começamos a distinguir crianças por género desde muito cedo, pelo que se torna difícil dizer que é uma questão de natureza quando desde bebés empurramos peluches e bonecas para meninas, e carros e aviões para meninos. Isto influencia e cria desigualdades a vários níveis.
      (se tiver interesse, pode ver o resultado de uma experiência com bebés, ignorando os títulos sensacionalistas
      http://www.dailywire.com/news/19837/disgusting-bbc-poses-kids-opposite-gender-social-paul-bois#)

      E se tiver algum interesse em aprender mais sobre o tema, o que não falta é literatura séria sobre o mesmo, sem ser nas Capazes.

      Quanto ao resto, sendo a sua postura de total liberalização em função do mercado, deixo-lhe a pergunta: chocar-lhe-ia a comercialização de livros diferentes para crianças brancas e crianças negras?

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    5. Vai-me desculpar, mas nunca leio estudos que são publicados no jornais, nem sequer abro o link. Os estudos dizem o que quem os paga quer que digam, é por isso que há alturas em que se devem comer dois ovos por dia e alturas em que nem pensar em comer mais de dois ovos por mês.

      E não, não creio que sejam condicionados os interesses à partida, é certo que nunca quis ser educador de infância mas também nunca quis ser motorista de pesados.

      O último parágrafo é profundamente demagogo e não é o tema que estamos a discutir (espero que não se importe com a minha assertividade, mas como me propus não usar nem da ironia nem da condescendência...)

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    6. Anónimo4.9.17

      Por fim, gostaria apenas de acrescentar que temos posições opostas na forma como encaramos o mundo, o Pipoco vive confortávelmente com as coisas serem como são, o que faz sentido, sendo o Pipoco o epíteto do privilégio nem ter grandes razões para questionar o status quo.

      Quanto à questão que lhe pus, não pretendia ser demagógica, mas perceber o que considera aceitável em termos de limites numa economia de mercado.

      E mostrar que imediatamente repudiamos certos tipos de discriminação, enquanto aceitamos perfeitamente outros tipos aos quais estamos acostumados e não paramos a questionar.

      E este episódio, que foi todo ele conduzido de forma infeliz, teve pelo menos o condão de pôr as pessoas a pensar no assunto.

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    7. O primeiro parágrafo é completamente tonto (o parágrafo, não quem o escreveu) porque não tem como provar nem uma das várias afirmações que faz.

      A questão que me colocou é demagógica porque não tem qualquer relação com o que estávamos a discutir, era uma desconversa. Podemos falar sobre se deveriam existir livros para brancos e pretos, mas, já agora, convido-a a não deixar ninguém de fora e incluir os ciganos e os muçulmanos (que também não tem nada a ver com o tema, mas pelo menos estão mais na moda)

      O seu último parágrafo é de uma condescendência atroz.

      (sabia que teríamos uma conversa curta, sem muitas iterações)

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    8. Anónimo4.9.17

      Também suspeitava que sim, mas dei o benefício da dúvida. É difícil discutir seja o que for se não há qualquer abertura a outros pontos de vista, nem uma vontade séria em responder a questões e discutir de forma honesta.

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    9. Dei-lhe toda a abertura e, além disso, a minha opinião. Da sua argumentação retive uma pergunta retórica que nada tinha a ver com a discussão e um conjunto de considerações que não tem como provar. Foi fraquinha a discussão.

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    10. Anónimo5.9.17

      Não deu, de todo.
      Do que sabemos do personagem Pipoco - e admito, poderá diferir da pessoa real - é um homem branco heterossexual de classe media/alta com educação superior, e que nunca usou este blog para questionar o status quo, pelo contrário, sempre ridicularizando quem o tentou fazer e sempre combateu qualquer movimento de activismo rebaixando-o, como aliás faz regularmente a puxar o feminismo à baila.

      Não mostra abertura quando nega a possibilidade de influência de elementos exteriores nas demonstrações de preferências. Quando diz que se recusa a ver experiências de meios de comunicação - se tiver real interesse é escrever gender bias no pubmed e ver os artigos científicos sobre o assnto - e não acreditar com base na experiência própria na influência de espetarmos com bonecas e tachos em miúdas de menos de dois anos e naves espaciais e legos nos miudos tenha qualquer influencia. Será que se tivesse sido bombardeado com princesas e unicórnios em vez de legos e afins na primeira infância seria exactamente a mesma pessoa?

      Mas tanto há estudos a demonstrar apetência inata para certo tipo de brinquedos, como o contrário, mas o que não há mesmo são estudos que demonstrem apetências de crianças de 3 anos por vassouras e esfregonas porque vem na genética. E já agora, também nunca quis ser educadora de infância nem camionista.
      Quanto à pergunta "retórica" só o é se considerarmos premissas diferentes, a enorme diferença entre discriminação por género ou por raça, e a sua resposta poderia ter sido honesta assentando nisso: uma definição de gravidade diferente, não as considerar equiparáveis. Eu considero. Como as principais discriminaçoes usualmente consideradas: discriminação de género, de raça, de religião, de orientação sexua.
      Caso houvesse interesse em discutir pontos de vista, não concordando com esta equivalência, poderia ter-me dito o porquê de considerar a equiparação inválida, sem simplesmente a rejeitar nem rejeitar a minha argumentação e a validade da mesma. Porque para mim a pergunta continua válida, e gostava mesmo de perceber o ponto de vista de quem acha que não é.
      Pessoalmente, a discriminação por género não me é muito diferente da racial, daí a questão. Se nos parece impensável discriminar por raça, porquê aceitá-lo quanto ao género? Qual a real diferença entre distinguir crianças por género ou raça ou religião?

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    11. O personagem Pipoco interessa pouco para a conversa, tal como o uso que faço deste blog, que serve essencialmente para eu escrever o que me diverte, sem qualquer objectivo de catequização ou de formar consciências.

      Poderia ter dado atenção ao estudo que refere se, em vez de me enviar um link, me dissesse porque é que o estudo é relevante para si, como sustenta o seu ponto de vista e que conclusões tem o estudo que sejam relevantes para a discussão. Confesso que, por defeito, não leio estudos que não tenham uma sólida base académica, sei o suficiente sobre o assunto para ser prudente nessas análises.

      O tema que abordo é real e, a bem do foco na discussão, não permitirei, por mais que insista, em contaminá-lo com temas que desfoquem do essencial: trata-se de uma grande massa de pessoas terem mudado de uma posição para outra completamente contrária sem terem perdido um minuto a pensar pela sua cabeça, primeiro enxofraram-se com a existência de um livro de passatempos que faz distinção de género e consideraram que um livro assim deve ser banido, depois ouviram o Ricardo Araújo Pereira e enxofraram-se porque retirar livros do mercado é censura. O meu post é sobre isto, a minha reflexão é sobre isto, a minha conclusão é que não é má ideia pensar pela nossa cabeça, ouvir o contraditório, não permitirmos a nós próprios tomar posições de manada nem nos posicionarmos sem termos um mínimo de informação que nos permita decidir, ainda que demore mais tempo, ainda que nos pressionem para decidirmos de que lado estamos.

      Vou pensar na melhor forma de abordar o tema que propõe, se há alguma diferença entre distinguir o que se propõe às crianças de acordo com o seu género ou raça. Deixarei a religião de fora.

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    12. Anónimo5.9.17

      Pipoco, bem mais conversador desde que regressou das montanhas...muito bem!...o bom ar opera maravilhas eheheheh
      Bom Ano :)))

      ((re)nasceu um homem novo?!)

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    13. Ó, já acabou?!
      Estava a gostar desta interacção (não lhe vou chamar discussão)!

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  4. Anónimo4.9.17

    A pouca afluência de comentários (e o baixo nível de, pelo menos, um) é prova de que o Tio tem toda a razão.

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  5. Por partes:
    1. Dispensava-se um livro de exercícios para criança que contribui para estigmas de género, colocando as meninas na cozinha com as mamãs e os meninos a construir invenções.
    2. Recomendar a retirada dos livros, além de ser uma ingerência excessiva e de cariz censório, é o equivalente a "tapar o sol com a pneira".
    3. Num mundo civilizado a sanção adviria do próprio mercado, já que uma vez exposta publicamente a questão, as pessoas não comprariam os livros.


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  6. eu tenho vergonha alheia das capazes, confesso. E alguma pena...

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  7. "Primeira dúvida: que diferenças biológicas poderiam ter impacto na aprendizagem? Vejam-se alguns exemplos. Os cérebros das raparigas produzem mais serotonina e oxitocina do que os dos rapazes, o que comparativamente as torna mais calmas, atentas e com maior enfoque em ligações emocionais. O hipocampo, onde no cérebro estão “alojadas” a memória e a linguagem, é maior e desenvolve-se mais rapidamente nas raparigas do que nos rapazes – o que, na teoria, estaria relacionado com o seu vocabulário e as suas competências linguísticas, escritas e orais. E os rapazes têm, no seu córtex cerebral, maior propensão para a compreensão espacial – o que, na teoria, os torna mais susceptíveis de aprender através de experiências visuais.

    Segunda dúvida: têm estas características biológicas algum impacto nas competências cognitivas? Sim, se contarmos com os primeiros meses de vida – de forma simplista, seria possível dizer que as raparigas levam um pequeno avanço face aos rapazes. Não, se tivermos em conta a idade escolar, quando os efeitos dessas diferenças já se dissiparam – o que não significa que desapareçam por completo, apenas que deixam de ser analiticamente relevantes para a diferenciação". Alexandre Homem Cristo, aqui: http://observador.pt/especiais/os-meninos-e-as-meninas-nao-sao-iguais-na-escola-e-isso-importa/

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