21 setembro 2017

Madame Pereira

Madame Pereira, no tempo em que era viçosa, convivia com escritores, poetas, artistas e até com gente de pior qualidade, os homens e os cães respeitavam-na, uns e outros aprumavam-se quando ela passava e ficavam tensos quando ela lhes dirigia duas palavras, as mulheres imitavam-lhe a forma como cruzava as pernas e até a sua maneira de rir, com uma mão aberta em frente da boca.

Nunca se percebeu o que Madame Pereira viu no rudimentar Pereira, Senhor Pereira quando comprou o primeiro carro, um Ford Capri de um primo emigrado em Toulouse, nunca se percebeu o que havia de transformar Madame Pereira numa dessas mulheres que imagino perfeitamente a pedir-me ajuda para encontrar a porta de embarque para Ibiza.

(Obrigado à Mãe Preocupada, pelo magnífico Senhor Pereira, inspirador desta série de episódios do outro lado do espelho que de vez em quando me apetecerá escrever)

(E sim, há lá em cima uma coisa que Borges escreveu primeiro que eu. Duas, aliás. Duas e meia, vá...)

6 comentários:

  1. (Síndroma Tony Carreira :DDDDDDD)

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  2. Anónimo21.9.17

    Desculpar-me-á Tio, mas não acho que Madame Pereira seja uma senhora a quem apeteça imitar. Uma falsa e uma hipócrita é o que ela é. Fala muito bem com as amigas, passeia-se de braço dado com elas a aver as montras e, nas costas, corta-lhes na casaca. Vá lá, vá lá ver o que dela diz a Mãe Preocupada...Eu vi, li, com estes dois que a terra há-de comer...
    Fora esse piqueno pormaior, culpa do Tio, claro, achei lindo este belo post, tendo como Musa a melhor Mãe do Mundo.

    M.A.

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    1. Naquele tempo, valia a pena conhecer Madame Pereira. Ah, se valia...

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  3. Ei, acho que estamos a falar de diferentes Madames Pereira, que a minha nunca se deu com artistas, que aquilo é uma gente muito maluca, de quem se deve guardar distância, sabe-se lá das coisas que são capazes. O mais perto que esteve da arte foi quando comprou aquela reprodução de uma paisagem com papoilas, a condizer com as almofadas em tecido jacquard encarnado, e a mandou emoldurar em talha dourada, que uma moldura como deve ser dá logo outro aspecto à sala de visitas. Quanto aos livros, escolhidos em função da encadernação, também vão muito bem com o armários de vidrinhos que tinha para lá umas prateleiras vazias, intercalados com a colecção de passarinhos de porcelana.

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  4. isto assim não vale. Comecei a roubar Borges muito antes de si. Está a plagiar-me o crime de plágio!

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