25 março 2017

Depois de descer da árvore

Marquei férias, dessas de esquiar o dia inteiro, com um gin tónico na mão, sentado numa esplanada e com óculos escuros. Arriscar é o meu nome do meio.

Entretanto está a nevar lá para o sítio das tais férias. Muito. Sou um tipo com sorte.

Aproveitei a minha vaga de generosidade para comigo próprio e fiz reserva naquele hotel ao pé das pistas, aquele que, quando eu passava por ele pensava sempre que um dia havia de dormir ali.

O meu potente carro alemão finou-se de um momento para o outro. Correia de distribuição, uma maçada. Fiquei a saber todos os crimes da terriola onde o potente carro alemão se finou, contadas pelos guardas republicanos que ficaram à conversa comigo até que chegasse o reboque.

Os guardas republicanos perguntaram-me se o tipo do reboque com quem eu estava a falar tinha voz de ucraniano. Eu disse que sim e eles riram-se muito. Depois tentaram tranquilizar-me e disseram que talvez não fosse o mesmo e, além disso, o meu potente carro alemão estava numa recta e não era difícil puxá-lo para cima do reboque. Percebi o que me queriam dizer enquanto o tal tipo com sotaque ucraniano fazia as manobras para puxar o meu potente carro alemão para cima do reboque. Sou um tipo com sorte, creio que já tinha dito que sou um tipo com sorte.

Deram-me um carro alemão ainda mais potente que o que se finou. E com mais botões.

Tentei ligar a luz interior do carro novo e atendeu-me um senhor a perguntar se estávamos todos bem dentro do carro. Eu disse que sim, apesar de estar sozinho. O tal senhor disse que eu carreguei num botão para fazer chamadas de emergência. Eu disse que só queria ligar a luz, mas podíamos ficar ali um pedacinho à conversa porque eu ainda ia para o Porto e, parecendo que não, sempre fazíamos companhia um ao outro. O senhor riu-se e desligou.

Não consigo comprar pimientos de Padrón em condições.

Abri uma garrafa de vinho do século passado que um amigo me ofereceu e telefonei-lhe para lhe dizer que o vinho ainda estava bom. O meu amigo ficou emocionado porque me ofereceu a garrafa há mais de vinte anos e não nos vemos desde essa altura. As pessoas acham que eu faço coisas estranhas.

Fui a Madrid jantar no Museu dos Caminhos de Ferro, ali para os lados de Atocha e fiquei com vontade de voltar a fazer uma grande viagem de comboio.

Marquei voos de regresso mais tarde do que o costume só para ir ao Museu Sorolla e a Versalhes em dias de trabalho.

A minha cadela arrancou metade dos pés de alfazema. Foi a primeira vez que nos zangámos a sério. A terceira, vá, tinha-me esquecido daquela situação da rede de rega e daquela outra da garrafa de Adega Velha.

Tenho que ir ver isto do fémur.

11 comentários:

  1. Anónimo25.3.17

    Com a bichinha nao se pode zangar, ela é a única que o compreende e perdoa sem questionar.
    Carros alemães de confiança é uma treta.

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  2. Anónimo25.3.17

    Deixe a menina com a sua alfazema, sff.

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  3. Já tínhamos saudades. Sorri aqui com a situação da luz e do senhor que o atendeu :) E agora vou ver a bola. Beijinhos

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  4. Lady Kina25.3.17

    "esquiar o dia inteiro, com um gin tónico na mão, sentado numa esplanada"

    ...

    desconhecia em absoluto.

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  5. Gostei desta firmeza, deste tratar da vidinha sem dar cá cavaco ao rebuliço que por aqui andava. Que aventura fascinante acabei de ler.
    También me gustan los pimientos padrón...

    O seu fémur está muito bem e recomenda-se. Não se preocupe.

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  6. Anónimo25.3.17

    de caminho, veja também da tíbia, sei lá.

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    1. Tíbias? Tíbias é mais em Braga e o Pipoco ia a caminho do Porto.

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  7. Então de notícias quando voltar ao Porto. Eu voltei a viver cá depois destes quase 10 anos.

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  8. Só me calham dos que picam, os pimentos entenda-se...

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  9. Anónimo27.3.17

    Faca o transiberiano :) Russia <-> Mongolia <-> China

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  10. Troque isso por um potente carro alemão sem correia de distribuição...

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