17 maio 2016

Hemingway

Posso ver agora o mundo com um olhar mais cínico, posso já não acreditar em tudo o que me dizem, posso saber que esperar que as coisas aconteçam também é uma opção, posso já não ser a melhor escolha para jogar a extremo esquerdo, posso precisar de anotar aquilo que não me é conveniente esquecer, posso já não conseguir fazer mil quilómetros de carro durante a noite e estar a esquiar às nove da manhã, posso ter aprendido a fazer cara de jogador de poker, posso já ser imune ao poder das mulheres demasiado bonitas.

...mas continuo a deslumbrar-me com o que leio em livros.

16 comentários:

  1. Lady Kina17.5.16

    Que romântico Poder.

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    1. Está no ponto, não está, Lady Kina? De tempos a tempos é boa ideia prantar um post assim, meio meditativo, uma espécie de desabafo meditativo mas com uma centelha de esperança no final.

      O público costuma ser generoso com estas coisas, vamos ver como corre...

      (devia ter sido publicado de manhã, a esta hora as pessoas estão ocupadas a encomendar pizza e a fazer os trabalhos de casa com as crianças e não são muito activas nos comentários)

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    2. Lady Kina17.5.16


      Sabendo-o magnânimo, sugiro que invista no aconselhamento mais consistente do seu pupilo, explicando-lhe estas e outras jigajogas, que anda o homem desiludido com a falta de (e)leitores.

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    3. É arte que se aprimora com o tempo, Lady Kina. O rapaz tem vontade, porfia, lá chegará. A seu tempo.

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    4. Não sei Dr. Pipoco, sinto-me muito em baixo (a que também não é alheia a situação que sofri no fim de semana aquando da confusão). Se não fosse para ser amado não me tinha metido nestas coisas das internetes! É que, vamos lá a ver, eu como Ministro tenho direitos, ora bolas! Assim sendo, deixo aqui claras as minhas intenções: exijo que me amem o quanto antes!

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    5. Anónimo18.5.16

      Senhor Ministro posso enviar-lhe um cão. Igual ao do Dr. Pipoco. Que acha?
      A Maria Alice que me contacte por favor, trabalho no canil, junto ao parlamento.

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  2. é um deslumbre ou é um encantamento? A tal centelha de magia de que precisamos para continuar a viver, apesar de já não sermos escolhidos para ponta esquerda? A mesma que sentimos no topo de uma montanha? Num céu em forma de presente de Deus? Grande abraço.

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    1. É deslumbre. Ficar a pensar no que lemos, notar a perfeição com que o autor conjugou as palavras, dispensar tempo a apreciar quão sublime é a história que nos está a ser contada, é deslumbre.

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    2. OK, "notar a perfeição com que o autor conjugou as palavras" já percebi tudo... :)

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  3. E nós podemos saber qual foi o livro de Hemingway que o deslumbrou ou vamos ficar a tentar adivinhar enquanto continuamos a fazer os trabalhos de casa com as crianças e arrumamos a cozinha, ou seja, deitamos fora a caixa da pizza?

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    1. São os meus dias de França, Susana. É facílimo, sou um tipo do mais previsível que há...

      (não estava preparado para saber que provavelmente come pizza à mão...)

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    2. Hum... "Paris é uma Festa?" Impressionou-me aquilo de ele escrever melhor com estava com fome, fome a sério. E a vontade que dá de ir para os cafés de Paris escrever?...

      (e eu estava a fazer fé naquilo do "posso já não acreditar em tudo o que me dizem"...)

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    3. (há sempre um charme especial numa resposta à altura...)

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  4. Deslumbramento é coisa de crianças - diz-me o Peter Pan :P

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  5. Será pela permanência? O livro fica, as palavras podem ser relidas, podes tocá-las. As sensações vão esmorecendo, a tempo apagam-se. As palavras eternizadas em papel persistem fisicamente o tempo que quisermos.

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  6. Cláudia Filipa18.5.16

    Nos livros, mais do que uma melodiosa conjugação de palavras daquelas que me deixam a pensar que jamais conseguiria lembrar-me de dizer aquilo assim, o que me deixa verdadeiramente deslumbrada é a imaginação de quem os escreve, a capacidade para inventar histórias e outras pessoas, já que só tenho imaginação para resolver assuntos práticos do dia a dia e quando falo ou escrevo sou sempre eu fico fascinada com a imaginação alheia, e um livro que tenha o poder de me fazer descansar de mim, coisa que faz muito bem para desenjoar, livro que me faça mergulhar nele e ver a vida, o mundo, através de outros olhos conquista-me para sempre.
    Também lhe quero dizer que vou optar por não acreditar nisto: "Posso ver agora o mundo com um olhar mais cínico (...) posso já ser imune ao poder das mulheres demasiado bonitas". Acho isto demasiado triste e portanto espero que tenha sido só para salientar a importância do deslumbre em causa, é que, ao contrário do propagandeado, nunca consegui encontrar nenhuma sofisticação no cinismo (encontro-lhe outras coisas que não vou escrever) a não ser enquanto mero exercício estilístico, e também acho triste que se comece a ser imune à beleza seja do que for, faz-me ficar com uma sensação, acho que isso tem qualquer coisa de princípio do fim. Sabe, quase não gostei nada deste post.

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