06 março 2016

Pipoco leu o livro de Raposo e conta como foi

O "Alentejo Prometido", o tal livro de Henrique Raposo, é provavelmente o livro mais desenxabido que já li, e note-se que eu já li as sessenta e duas primeiras páginas de "As cinquenta sombras de Gray" e o livro que escreveu o Santana Lopes e que agora não me lembra o nome. As duas horas que consumi a ler a coisa serão recordadas durante longos dias como uma ode à perda de tempo e lamentarei para sempre os três euros e quinze cêntimos que aceitei pagar para poder dizer que li o livro do Raposo.

A coisa começa como nos filmes, o regresso às origens, uma ambiência rural-depressiva, Raposo dá um pulinho ao Alentejo, dá-se o caso de visitar a antiga casa da família, e acontece a epifania: Raposo desata a escrever, inspirado nas coisas lá do mundo dele e ousa concluir a partir das suas coisas que o que aconteceu no seu pequeno mundo é válido para toda a população alentejana. O pai Raposo, nos intervalos de comprar boas sementes para a horta que tem lá para os lados de Santa Iria de Azóia, vai conduzindo Raposo pelas histórias da família, mas Raposo filho, em vez de pensar a sério no que lhe conta o senhor seu pai, desata a relacionar as suas memórias com percentagens de coisas variadas que não lembram a ninguém (chega a fazer a média de idades das barragens do Alentejo e a concluir não sei o quê, senhores...). Depois, evidentemente, conclui coisas do calibre de "... somos mais íntimos de uma pessoa quando deixamos cair um "foda-se" ou um "punheta de um cabrão" de forma descontraída" ou que "...Marta é uma balzaquiana por direito próprio; usa óculos de massa escura, tem uma vida confortável..." (já nem falo de coisas mais cá das minhas artes e deixo passar bizarrias como "... a energia de Aveiro rondava os 4314 cavalos de potência...").

Há um miúdo que ",,,usa boné e t-shirts com logotipos que denotam cultura acima da média" e há uma mulher que "... é atraente mas não tem o menear pedante da mulher bonita, até se pressente nela a fragilidade da feia". Das das mães solteiras, Raposo tanto nos conta na página 38 que "...a comunidade exigia que a mãe solteira fosse moça recolhida" como nos diz na página 76 que "ser mãe solteira não implicava morte social imediata no Alentejo".

E é isto. Um livro que não é bem um livro, é mais um conjunto de conclusões apatetadas, o que não quer dizer que Raposo não tenha razão naquilo lá dos suicídios, nesse caso os números são o que são, e também não é menos certo que os senhores das terras eram levados da breca para humilhar as mulheres, mas isso tanto se aplica ao Alentejo como ao sertão como ao Minho e não é caso para Raposo concluir tantas barbaridades.

Por mim, continuarei a ver o Alentejo como ele deve ser visto, uma terra onde se come bem e bebe melhor, com as melhores praias deste país e com gente de bem que, como eu e o Raposo, são eles e as suas circunstâncias.

PS - Quando o pai de Raposo lhe diz que "já estávamos no conselho de Sines", não quer dizer que todos os alentejanos não saibam escrever. É só uma má revisão de texto...

7 comentários:

  1. E pronto... Lá terei eu de dispender 3€ e tal, que sabe Deus o quanto me custam a ganhar, para saber do que tanto se fala. (Mas se o que mostra é o mais "chocante"...)

    (Também eu li o livro do Santana Lopes, que serviu para até hoje eu ter a convicção de que o homem foi um mártir porque apareceu na capa de uma revista com uma fita na cabeça e à mulher de César já se sabe.)

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    1. Dizem-me que se vende no Pingo Doce, não sei se frequenta...

      (a NM que me parece saber alguma coisa de números vai apreciar ver Raposo a torturar os números até eles dizerem o que ele quer que eles digam...)

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  2. Ui, se há sacrifício numérico então já não sei se me apetece, que uma úlcera nervosa agora não me calhava nada bem...

    (Claro que frequento. Aos Domingos de manhã. Religiosamente. Para tirar os meninos de casa, sabe?!)

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  3. Anónimo6.3.16

    Sinto pena do Raposo. Acho-o um desenraizado. Acho-o alguém que tem vergonha dos pais e dos avós. Quem sabe o futuro dele, num daqueles montes do Alentejo? Nunca se sabe, nunca se sabe... Benzódeus!

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  4. Não lerei o livro do Raposo. Chegou-me ter tido o azar de o ver ser entrevistado na SIC Radical. Foi traumatizante ver entrevistado e entrevistador espremendo-se em snobismo pindérico, cabotinismo e português suburbano. Triste, mesmo. E sou alentejana, pobre de mim. Só consigo ver a luz debaixo do chaparro, nunca nas prateleiras do Pingo Doce.

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  5. Cláudia Filipa6.3.16

    Gosto muito do Alentejo, por razões pessoais cheias de emoções de valor à mistura. Não liguei nenhuma à celeuma, Henrique Raposo, já não ligo nenhuma às celeumas das redes sociais, é indignação dia sim, dia sim, com qualquer coisa lá temos um mar alto de indignação, portanto, a culpa de me estar agora a fugir o pé para a chinela do pedantismo, é sua, é que há frases...a culpa é toda sua, foi assim que eu fiquei a saber disto, por exemplo: ",,,usa boné e t-shirts com logotipos que denotam cultura acima da média"...estou a ser horrivelmente pedante, eu sei..."... balzaquiana por direito próprio;...". Pronto, já chega... ai, que não consigo parar ainda, só mais esta maldade, com o pedantismo em alta, horrível eu sei, mas a coisa está incontrolável, cá vai: Ah! se todos os idiotas fossem como O Idiota de Dostoiévski...
    Ps: Para o caso de ler este comentário, não ligue caro Henrique Raposo, isto sou só eu a menear pedantemente.

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  6. parece que em Sines se dão bons conselhos.

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