25 janeiro 2016

O método do discurso

Habituei-me a escolher as minhas guerras. Respeito as guerras de quase toda a gente mas dá-se o caso, maçador, bem sei, de nem todas as guerras serem as minhas. E, em não sendo as minhas guerras, não há grande maneira de me arregimentar, não há estatísticas nem estudos americanos que transformem uma guerra que não é minha, na minha guerra. A não ser que me apeteça, evidentemente. E raramente me apetece, a não ser em episódios em que suceda eu ter tempo e debruçar-me com mais detalhe sobre os temas e pensar de mim para comigo que sim senhores, ali está um bom motivo para me fazer guerrear. E então dá-se o milagre, um tema que estava lá arrumado no meu cerebelo, ou lá onde é que se guardam os temas que são capazes de ser putativas guerras minhas, ganha vida própria e eu passo a acarinhar com todas as minhas energias a minha guerra novinha em folha. Ora isto não é coisa que me suceda todos os semestres.

É claro que eu também sou um vendedor das minhas guerras, aprendi que, se as guerras não forem só minhas, passo a ter mais possibilidades de as ganhar. E ganhar guerras é muito mais importante do que a excitação de arregimentar pessoas para a  minha fileira. Além de muito mais divertido. E eu sou um tipo que ainda se diverte a ganhar guerras. 

Para ganhar as minhas guerras eu preciso de ter quem mas compre. Há muitas maneiras, posso fazer de conta que não quero vender a minha guerra a ninguém e acontece que as pessoas a compram, mesmo fazendo eu de conta que não a quero vender. Outra maneira, que dá mais trabalho, é explicar bem a minha guerra e, muito mais importante, porque é importante ganhá-la. Bem sei que é difícil acreditar nisto, mas nem sempre as pessoas compram a minha guerra. Às vezes apetece-me abaná-las e dizer-lhes que não estão a ser muito inteligentes, tão evidente me parece o mau caminho por que seguem. Apetece-me mandar-lhes uns artigos e exigir que os leiam. Educar as pessoas, não sei se me estão acompanhar. No entanto, aprendi cedo que as pessoas ficavam aborrecidas comigo por eu estar a insinuar que elas não tinham capacidades cognitivas para me acompanhar intelectualmente. Algumas podiam fazer de conta que compravam a minha guerra, mas era só para deixarem de me ouvir, afinal eu tinha sete anos e a minha voz não era tão máscula como é agora. 

Aprendi a aceitar que há quem não compre a minha guerra. Não são más pessoas, apenas têm outras guerras, tal e qual como eu. Felizmente há quem esteja mais capacitado e admita comprar as minhas guerras. É nesses que eu me foco, acarinhando-os, incentivando os seus pequenos avanços, aprendendo com eles. Explico-lhes as vantagens de ganhar aquela guerras e pergunto-lhes se conhecem uma maneira mais rápida e melhor para lá chegar, ao resultado final. E eu gosto de ganhar guerras. Até porque, depois de as ganhar, posso sempre começar outras, sejam das minhas ou seja daquelas que me apeteceu comprar. 

Confesso que sei qual é o melhor método: é nunca pensar que sei mais do que aqueles a quem quero vender a minha guerra. Mesmo que seja verdade.

13 comentários:

  1. Lady Kina25.1.16

    Primeiro post do Pipoco que não consegui ler até ao fim, assim de uma assentada. Lerei, claro, mas para já abandonei... Pfffff.

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  2. Faço minhas as palavras do PID no post infra.
    3,
    2,
    1,
    (cabeças a explodir)

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    1. Lady Kina25.1.16

      Será? ... Tenho algumas dúvidas, e ainda nem consegui ler até ao fim.

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    2. Lady Kina25.1.16

      Houve uma sopeira qualquer que em tempos reflectiu sobre isto, e eu subscrevo: https://ladykina.wordpress.com/2015/03/13/arremesso/

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    3. A sopeira safa-se ;)

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  3. Cláudia Filipa25.1.16

    Pipoco! Tanta generosidade!
    Pode ser que tal como a Lady Kina muitos abandonem este post, e ao contrário da Lady Kina não voltem atrás para ler até ao fim...Está a entregar o ouro todo...
    É giro isto de sermos diferentes uns dos outros e cada cabeça sua sentença, para mim, este é um dos seus melhores posts dos últimos tempos. Grande post, Pipoco, e não é pelo tamanho, claro.

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  4. É um bonito post, sem dúvida.

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  5. Lady Kina25.1.16

    Eu cá acho o Pipoco cada vez mais parecido com o Professor Marcelo: ora ostenta os botões no punho, ora dá ares de Ruben, um bocadinho cata-vento-de-coise...

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  6. Por exemplo, uma pessoa lê isto e fica logo cheia de vontade de se alistar:
    http://www.umarfeminismos.org/index.php/perolas-sexistas

    ...

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  7. Anónimo26.1.16

    The Big Short e aquela cena inicial com a frase do Twain: "It ain't what you don't know that gets you into trouble. It's what you know for sure that just ain't so."
    Lara

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  8. Gosto muito de si, Pipoco!

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  9. Anónimo27.1.16

    Tio, o grande Xilre foi-se embora, não quer fazer um post de despedida?.
    VW

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