02 março 2015

Estou aqui a reler Eça

E fiquei feliz por o passar do tempo não ter atenuado o asco que me causam personagens como Gonçalo Mendes Ramires.

27 comentários:

  1. Lady Kina2.3.15

    Proposta para rubrica : Pipoco Sente Asco quando.

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  2. A ilustre casa de Ramires? Foi o único livro do Eça de que não gostei. Mas li-o há mais de 25 anos, por isso lembro-me mesmo só disto e do título.

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    1. Também o li há muitos anos e decidi dar-lhe uma segunda oportunidade, não estava confortável por a obra de Eça não ser do meu pleno agrado. Creio que foi este personagem, com quem se antipatiza mais do que com o imbecil Primo Basílio, o inútil Carlos da Maia e o cobarde Padre Amaro, todos juntos.

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    2. Lady Kina2.3.15

      Hmmmm... imbecilidade, inutilidade e cobardia. É suficiente.

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    3. (bem, sempre é uma forma bastante alternativa de promover Eça...)

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    4. Por acaso uma das coisas de que eu gostei no Eça foi exactamente o facto de ele fazer das suas personagens uns imbecis. Como se fosse mau para eles ou lhes quisesse fazer a vida negra. Lembro-me de uma cena n'A Capital em que o personagem (o nome já fugiu) tem um ramo de flores na mão e sente-se ridículo com aquilo sem saber como levar o ramo e então olha-se no vidro de uma montra a experimentar se deixa o ramo pender ou se o empunha. Enfim, maravilhas. (desejo-lhe boa leitura)

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    5. Lady Kina2.3.15

      Ahahahahahahahaahahahah! ten points, as almost always!

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  3. Cláudia2.3.15

    Tão interessante saber o ponto de vista das outras pessoas...e agora não concordo nada. Acho que o Eça fala sempre do país, parece-me que o verdadeiro protagonista dos livros do Eça é sempre Portugal (nós enquanto povo, claro), no caso da Ilustre Casa de Ramires, Portugal é representado precisamente por Gonçalo Mendes Ramires. Eça dá relevo aos defeitos, mas não consegue tornar o personagem completamente desprovido de tudo, arranja-lhe umas atenuantes e hipóteses de se redimir, por isso o perfil do personagem é contraditório, nem sempre é digno de "asco", não é completamente mau e Eça arranja sempre uma luz ao fundo do túnel que mais não é do que esperança numa mudança para melhor. Acho que Eça devia adorar o país e irritava-se com os defeitos que ainda hoje nos atrapalham, então como diz a Susana, mostrava-nos o quanto às vezes somos imbecis, mas ao mesmo tempo, não conseguia ser totalmente corrosivo para com os nossos defeitos e lá atenuava um bocadinho a coisa. Esta é, claro, a minha visão, vale o que vale e pode ser um grande disparate.

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    1. Não me parece a sua visão disparate nenhum, Cláudia, e quando voltar a pegar num Eça vou tê-la em mente. Para a testar (à visão). Quem sabe encontro uma nova perspectiva, os Eças que li, li-os todos de seguida e foi precisamente neste que parei por não ter gostado. Ah, como gosto de tertúlias! (obrigada, Pipoco)

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    2. Sem dúvida cara Cláudia.
      (não devia ter tentado anular o seu raciocínio com a última frase)
      Abraço.

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    3. Cláudia2.3.15

      Eu descobri o Eça já tarde Susana, porquê? porque, heresia das heresias, detestei profundamente Os Maias, quando na escola me obrigaram a ler a obra. Até aí, ler para mim sempre tinha sido um prazer, Os Maias foi um remédio daqueles que sabem mal mas tem de ser, então depois do xarope, escorracei o Eça da minha vida. Mas depois, com Portugal praticamente inteiro, a dizer que Eça é que era, lá voltei a tirá-lo da prateleira e dei-lhe uma segunda oportunidade e essa oportunidade começou precisamente com, A Ilustre Casa de Ramires. Mas, o meu coração, tem um fraquinho mesmo, é pela Queda Dum Anjo do Camilo Castelo Branco.

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    4. Cláudia2.3.15

      Tem toda a razão, Quiescente, mas não foi "anular", foi respeito, ou se quiser, pudor, por quem se dedica a um profundo estudo das obras. Mas assim, quase que pareci o Gonçalo Mendes Ramires, naquela parte da falta de firmeza por falta de confiança e isso é uma forma de cobardia, afinal, toca-nos a todos, Quiescente, já dizia o Eça :).

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    5. Cláudia, nem mais! No entanto, acabamos sempre por extrapolar esses conceitos e sempre há personagens que nos afectam mais, positiva ou negativamente. Por exemplo, eu ainda hoje digo que não suporto "Eusebiozinhos" :)

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  4. Personagem principal d’A Ilustre Casa de Ramires que teima em ver tudo do seu ponto de vista, ele caracteriza as personagens, descreve as situações, uma trabalheira na história das grandes!

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  5. sentir algo pelos personagens simbólicos? bolas, isso é heresia.
    Eça já lá vai há tanto tempo que sinceramente não recordo a referência. Ficou apenas a memória de narrativas deliciosas e uma prosa invejável.
    ou talvez fosse apenas jovem, fácil de impressionar.

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  6. Anónimo2.3.15

    Estranha gente, a releitora... Todas as leituras são inaugurais.

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    1. Concordo, no essencial, por uma questão de tempo e abundância de obras geniais.

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    2. Assumo-me estranha. Já reli diversos livros de juventude que na altura não tinha arcaboiço para compreender.
      No final de contas acabou por ser um pouco inaugural também, sobretudo nos sentimentos que despertaram.
      Mas sim, com tanta obra genial para ler, reler é um luxo.

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    3. Cláudia3.3.15

      Quiescente e Uva, eu acho que, o que o Anónimo está a dizer é que nenhuma leitura é "releitura", porque mesmo quando se lê o mesmo livro várias vezes é sempre como se fosse a primeira vez, porque, ou se descobrem coisas que não se tinham visto antes, ou, porque nós evoluímos como pessoas e vamos tendo perspectivas diferentes sobre as coisas, portanto o olhar é sempre novo, mesmo que o livro já seja um velho conhecido. É isto, não é Anónimo? ou é como o Pipoco e (neste caso) não explica comentários ;).

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  7. a mim fez me rir horrores

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  8. Anónimo3.3.15

    Tambem estou a reler Eça, ha poucos dias terminei a Cidade e as Serras. Amei. :)
    (Não fique a detestar o escritor pelos personagens, não seria justo para com a obra).
    VW

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  9. Pior do que personagens como Gonçalo Mendes Ramires serão sempre os Gonçalos Mendes Ramires com que nos cruzamos nesta vida.

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  10. "Então João Gouveia abandonou o recosto do banco de pedra e teso na
    estrada, com o côco á banda, reabotoando a sobrecasaca, como sempre que
    estabelecia um resumo:
    - Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem
    vocês, sabe o Snr. Padre Sueiro quem elle me lembra?
    - Quem?
    - Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquelle todo de Gonçalo,
    a franqueza, a doçura, a bondade, a immensa bondade, que notou o Snr.
    Padre Sueiro... Os fogachos e enthusiasmos, que acabam logo em fumo, e
    juntamente muita persistencia, muito aferro quando se fila á sua
    ideia... A generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos
    negocios, e sentimentos de muita honra, uns escrupulos, quasi pueris,
    não é verdade?... A imaginação que o leva sempre a exaggerar até á
    mentira, e ao mesmo tempo um espirito pratico, sempre attento á
    realidade util. A viveza, a facilidade em comprehender, em apanhar... A
    esperança constante n'algum milagre, no velho milagre d'Ourique, que
    sanará todas as difficuldades... A vaidade, o gosto de se arrebicar, de
    luzir, e uma simplicidade tão grande, que dá na rua o braço a um
    mendigo... Um fundo de melancolia, apesar de tão palrador, tão sociavel.
    A desconfiança terrivel de si mesmo, que o acobarda, o encolhe, até que
    um dia se decide, e apparece um heroe, que tudo arrasa... Até aquella
    antiguidade de raça, aqui pegada á sua velha Torre, ha mil annos... Até
    agora aquelle arranque para a Africa... Assim todo completo, com o bem,
    com o mal, sabem vocês quem elle me lembra?
    - Quem?...
    - Portugal.
    Os tres amigos retomaram o caminho de Villa-Clara. No ceu branco uma
    estrellinha tremeluzia sobre Santa Maria de Craquêde. E Padre Sueiro,
    com o seu guarda-sol sob o braço, recolheu á Torre vagarosamente, no
    silencio e doçura da tarde, resando as suas Avè-Marias, e pedindo a paz
    de Deus para Gonçalo, para todos os homens, para campos e casaes
    adormecidos, e para a terra formosa de Portugal, tão cheia de graça
    amoravel, que sempre bemdita fosse entre as terras."

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    1. O livro mais bem escrito de Eça.
      A língua portuguesa oferecida como um banquete.

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  11. Essa é claramente a melhor passagem deste livro.
    Outra relevante:
    "- Pois é necessário um menino. Eu por mim não caso, não tenho jeito: e lá se vão desta feita Barrolos e Ramires! A extinção dos Barrolos é uma limpeza. Mas, acabados os Ramires, acaba Portugal.(...)"

    E o mais marcante:
    "Meu filho, onde não há saia, não há ordem!"

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  12. Quanto mais releio Eça mais semelhanças encontro com a atualidade :)

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    1. Anónimo3.3.15

      Especialmente aquela célebre comparação entre os políticos e as fraldas...

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