05 janeiro 2015

"O meu Irmão" de Afonso Reis Cabral

Estou aqui a indeciso sobre se "O meu irmão" de Afonso Reis Cabral é ou não é um bom livro.

espera-se que Pipoco não alegue, a favor do autor, o facto perfeitamente irrelevante de este ser trineto de Eça

A ideia é boa, pegar numa história vagamente autobiográfica (de facto o autor tem um irmão com trissomia 21) e contar uma história bem contada, com um narrador que não é fofinho e que quase nos faz não gostar dele por ser tão cínico e tão desprovido de piedade.

e não será tudo o que escrevemos auto-biográfico?

O começo é um bom começo ("Isto vai passar-se no Tojal. Ora o Tojal é perto de Arouca e longe de tudo o resto.") mas faz-me lembrar outro bom começo ("A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete"), nota-se aqui a herança de Eça, de quem o autor é trineto.

afinal Pipoco não resistiu...

Talvez o livro trate de abandonos. Talvez.

8 comentários:

  1. É bom, sim. Cru q.b., sem ser agressivo. E para que queremos mesmo um dourador de pílulas? Sempre? Como em tudo na vida, nem sempre nem nunca.

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  2. Olha, estou muito curiosa para ler o livro, mais pela peça de literatura do que pelo tema, que me é pesado demais.E gostei imenso do miúdo todas as vezes que o ouvi. Vale a pena ou não? :)

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    1. Eu gostei da "escrita".
      Se o tema te é pesado (penso que por conhecereres de perto) não me parece que o livro te fira. Pelo menos eu, que conheço muito bem pelo menos dois casos de T2, li coisas que já ouvi da mãe de um e da irmã de outro. É muito agradável ler sobre a inteligência, o carácter bondosoo, a alegria de viver dos portadores de T21, mas sabemos que não é sempre assim. Há dias em que se quer muito que eles não fossem assim, em que o fardo (sabes que há momentos, e não são poucos em que se sente que são um fardo, um empecilho, em que se perde a paciência) parece insuportável. Livros douradores de pílula não faltam por aí. Este não a doura, mas também não me parece que a faça mais "amarga" do que ela é.

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    2. Eu gostei do livro, francamente. Não sei se é um livro para ganhar um prémio Leya, mas trata com dignidade um tema que não é fácil.
      Lê-se num par de dias, o que é um bom sinal.

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    3. ...e há uma história de amores impossíveis.

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    4. Muito obrigada, Mirone. Não conheço casos de perto, é-me pesado por outros motivos. E a sensação que tenho é a que descreves, daí que o livro deve ser muito humano e isso agrada-me muito.
      Exatamente, Pipoco tratar com dignidade (e amor) um tema que não é fácil. Obrigada aos 2

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  3. Anónimo5.1.15

    ... por muito que o autor se tenha tentado desprender do laço queirosiano aquando da recepção dos 100.000 euros do prémio Leya.

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